Roma, dois dias depois.
Aurora estava sentada no chão do estúdio de dança, as costas encostadas no espelho, as pernas esticadas e ainda com os patins. A música havia parado, mas ela continuava imóvel, o olhar perdido no reflexo trêmulo à sua frente. O que antes era um lugar de refúgio, agora parecia sufocante.
Na tela do celular, a mensagem de Bianca permanecia aberta. As palavras eram simples, mas cortantes:
“A reunião em Milão não acabou bem. Beatrice estava lá.”
Beatrice.
O nome ecoava como um trovão em sua mente. Era inevitável. Ela já tinha percebido o distanciamento de Dante. Mas agora... tudo começava a fazer sentido. O comportamento estranho, os olhares vazios, o silêncio.
E o pior não era o retorno da ex. Era o que Aurora temia profundamente: que seu lugar no coração dele nunca tivesse sido realmente seu.
Naquela noite, ela chegou em casa antes dele.
A cobertura estava silenciosa. As luzes do hall estavam apagadas, a sala imersa em sombras douradas e frias. Ela caminhou em silêncio até o quarto, tirou os sapatos, o coque frouxo se desfez, deixando os cabelos caírem nos ombros.
Ela não jantou. Não ligou a TV. Só se sentou no sofá da varanda e esperou.
Às 22h13, ouviu a porta da frente se abrir.
Dante entrou com passos pesados, falando baixo ao telefone.
— Sim, Giovanni… eu sei que falei demais. Ela não estava lá, não ouviu nada. Está tudo sob controle.
Aurora congelou.
Seu coração disparou. O sangue pareceu escoar pelas pontas dos dedos. Ele… ele estava falando sobre ela?
— Não — continuou Dante do outro lado da sala, sem saber que ela ouvia —, eu só falei a verdade. A Beatrice me deixou marcas. E, sim, talvez eu só tenha me apegado à Aurora por causa disso. Por causa das semelhanças. Embora Beatrice esteja loira isso não muda o fato de elas se parecerem tanto! Mas isso não significa que eu não goste dela. Só que… não sei se é amor de verdade.
Aurora levantou-se, cada palavra que escutava sendo um golpe afiado em sua alma. Sentia o chão sumir sob seus pés. A dor veio como uma enxurrada — rápida, esmagadora.
Dante desligou o telefone e, ao virar-se para o corredor, a viu. Em pé. Silenciosa. Como um fantasma.
— Aurora?
Ela não disse nada. Os olhos ,tão doces, agora estavam tomados por um brilho opaco. Ele deu um passo à frente, mas ela recuou.
— Há quanto tempo, Dante? — a voz dela saiu baixa, mas firme. — Há quanto tempo eu sou só a sombra de outra pessoa?
— Espera, você não entendeu o contexto da—
— Quanto tempo?! — ela gritou, com lágrimas escorrendo. — Desde o começo? Desde a primeira vez que você me olhou? Era ela que você via?
Dante avançou, estendendo a mão, mas ela recuou novamente, o corpo tremendo.
— Aurora, me escuta…
— Não! — ela gritou, mais alto. — Eu te dei tudo. Abandonei Florença, minha família, meus sonhos... por você. E você só me usou pra apagar uma dor que não teve coragem de encarar!
O silêncio caiu como uma sentença.
Ela foi até o quarto. Ele a seguiu. Mas quando entrou, ela já havia trancado a porta do closet, jogando as roupas numa mala com as mãos trêmulas. Chorava em silêncio. Respirava fundo, tentando se manter de pé.
Dante tocou a porta.
— Aurora... por favor...
— Não me procura. Não fala comigo. Não me toca. — Sua voz saiu embargada. — Você acabou com tudo.
Às três da manhã, Aurora desceu pelas escadas do prédio com a mala de rodinhas, uma mochila nas costas e o coração em ruínas. O porteiro tentou intervir, surpreso, mas ela apenas acenou em silêncio, com os olhos molhados.
Ligou para Chiara. Dez minutos depois, a amiga apareceu de carro.
— Para onde você quer ir?
— Florença.
— Tem certeza?
Aurora assentiu, com lágrimas escorrendo. — É onde eu lembro quem eu sou.
Na manhã seguinte, Dante acordou com o celular no modo avião. Tentou ligar para ela. Nenhuma resposta. Foi até o closet e encontrou o lado dela vazio. Como se nunca tivesse existido.
No espelho da penteadeira, havia um bilhete.
"Você disse que me amava. Mas estava olhando para outra."
Horas depois, ele pegou o carro e foi até o aeroporto. Tentou ligar para Leonardo. Para Donatella. Para Salvatore. Nenhum deles atendeu. Bianca o confrontou em casa, furiosa:
— O que você fez com ela?! Ela te deu o mundo, Dante! E você jogou no lixo por causa de uma ilusão!
— Não é assim…
— Então me diga: você ama a Aurora?
Ele não respondeu. Porque naquele momento, não sabia mais nem o que era amor.
Enquanto isso, em Florença, Aurora chegou à mansão da família. Leonardo foi o primeiro a vê-la. Quando abriu a porta, a irmã caiu em seus braços, chorando como uma criança.
Léo
— Ele me usou, Leo… Ele nunca me amou.
Leonardo a segurou firme.
— Ele não merece uma lágrima sua. Mas eu prometo… você vai ficar bem.
Donatella, ao ver a filha tão devastada, quase caiu em prantos. E Salvatore, com os olhos marejados, beijou a testa da filha em silêncio.
— Você está em casa, minha pequena. Aqui, ninguém te machuca.
E enquanto Roma mergulhava na culpa de Dante Moretti…
Florença renascia para Aurora Bellini.
Uma nova fase começava.
E a tempestade ainda estava longe de passar.
Continua
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Atualizado até capítulo 60
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