O avião particular cortava as nuvens em velocidade constante, mas a mente de Dante Moretti estava longe dali. Ele observava o céu escurecido pela janela, os olhos fixos no vazio, enquanto o silêncio preenchia a cabine. O telefone repousava ao lado, desligado. Pela primeira vez em semanas, ele não quis responder ninguém.
Nem mesmo Aurora..
E isso o assustava.
Dante não nasceu frio — ele se tornou. Filho de um dos empresários mais poderosos da Itália, cresceu sob o peso de expectativas impossíveis. Desde pequeno, ouviu de Lorenzo Moretti que sentimentos eram fraquezas, que amor era uma distração, e que o sucesso exigia sacrifício.
— “Você será maior do que eu, Dante. Mas para isso, precisa ser implacável.” — A voz do pai ecoava como uma maldição.
Sua mãe, Vittoria, era elegante e silenciosa, sempre presente em jantares e aparências, mas ausente na essência. O único afeto real que Dante conheceu foi da irmã mais nova, Bianca — com quem dividia confidências escondidas nos corredores do Palazzo Moretti.
Aos vinte e oito anos, já era um CEO imbatível. Comandava cinco empresas, investia em imóveis, moda, tecnologia e arte. Tinha tudo… exceto paz.
E então, Beatrice apareceu. Linda, culta, perfeita para os padrões da sociedade. Por dois anos, foram o casal mais comentado de Roma. Mas na véspera do casamento, ela fugiu. Deixou apenas um bilhete e um silêncio ensurdecedor.
“Desculpe, Dante. Meu mundo não pode ser o seu. Não como esperávamos.”
A humilhação pública o destruiu.
Foi quando ele conheceu Aurora Bellini, por acaso, numa exposição de arte em Florença. Ela dançava em um número de abertura. E quando sorriu para ele no fim da apresentação, algo dentro dele — algo adormecido — despertou.
E ele sorriu de volta.
Aurora era luz. Ela não fazia parte do seu mundo sombrio, mas ainda assim, se encaixava nele. Por dois anos e meio, ele se reconstruiu ao lado dela. Ela era calor. Doçura. A única que via o homem por trás da frieza. Mas agora...
Agora Beatrice havia voltado.
Ela surgiu inesperadamente no escritório de Milão uma semana atrás. Com a mesma elegância de sempre. Disse que havia cometido o maior erro da vida, que tinha sido coagida a fugir, e que nunca o esqueceu. Ele não quis ouvir. Mas... a ferida se abriu.
Beatrice e Aurora tinham os mesmos olhos cor de mel. A mesma leveza no rosto. E ele odiava admitir: talvez tivesse se apaixonado por Aurora justamente por isso.
Esse pensamento o corroía por dentro.
Ao pousar em Milão, Dante foi direto ao hotel onde aconteceria a reunião com investidores asiáticos. Mesmo com a mente à deriva, sua postura era impecável. Paletó alinhado, relógio de ouro escuro no pulso, olhar firme. Nenhum de seus sócios ousava questioná-lo — exceto Giovanni.
— Está distraído, Dante — disse o amigo, já no lounge do hotel. — O que está acontecendo?
Giovani
— Nada com o que você precise se preocupar.
— Isso tem nome? Ou melhor… tem olhos cor de mel?
Dante o encarou por longos segundos. Suspirou.
— Beatrice voltou.
— Merda…
— Exato.
— E Aurora?
Dante apertou a mandíbula.
— Não sabe. Não ainda. Mas… eu não sei se estou com ela por inteiro. E se tudo isso… for uma ilusão que eu criei para substituir o que perdi?
— Você está falando da mulher que te abandonou no altar… ou da mulher que te fez voltar a sorrir?
Dante não respondeu. Só encarou o copo de whisky como se quisesse encontrar ali as respostas.
Mais tarde, no terraço do hotel, reencontrou Matteo, um amigo antigo da universidade, agora também sócio de um fundo de investimentos em Roma. Ao lado dele, Giovanni insistia em manter a conversa leve. Mas Dante… estava em outro mundo.
— E aí, vai contar ou vamos ter que adivinhar? — provocou Matteo. — Desde que a Beatrice reapareceu, você virou uma sombra.
Dante soltou um sorriso amargo.
— Talvez… eu nunca tenha superado. E talvez... eu só esteja com a Aurora porque ela preencheu esse vazio. Porque ela se parece demais com a Beatrice.
O silêncio foi instantâneo.
Giovanni franziu o cenho. — Cuidado com o que diz.
Dante deu de ombros.
— É só entre nós. Ninguém precisa saber.
Mas o que ele não sabia… era que alguém ouviu.
Longe dali, em Roma, uma mensagem havia chegado para Aurora:
“A reunião em Milão não acabou bem. Beatrice estava lá.”
Era de Bianca.
Bianca
E o destino já havia começado a mudar.
Continua….
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Atualizado até capítulo 60
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