Aiana correu tão depressa para o alojamento que mal conseguiu respirar. Assim que chegou à porta, puxou o fôlego com força, deixando que as lágrimas finalmente escorressem.
Para onde iria agora?Há dez anos ela morava ali. Emanuel havia lhe ensinado tudo o que sabia sobre os trabalhos da fazenda, nunca questionando quem ela era ou de onde tinha vindo. Ele simplesmente a acolhera.
Emanuel era uma pessoa boa. Mas desde sua morte, aquele lugar tinha se transformado num inferno.
Ainda assim... Era seu lar.
Para onde iria agora?
Enquanto isso, Anthony, do lado de trás da casa, tirava a camisa e as calças sujas e começou a se lavar ali mesmo. Do outro lado, duas empregadas observavam discretamente — ou nem tanto.
— Meu Senhor, olha aquele homem...
— Você sabe quem ele é?
— É o afilhado do seu Emanuel. Herdou tudo isso aqui. Mas fazia anos que não aparecia... Como ficou bonito, né? Alto, forte...
— A dona Anabelle tá arrastando um caminhão por ele.
— E quem não arrastaria? Essa aqui é só uma das fazendas. Fora as empresas... tudo ficou pra ele!
— Esse é bem feitinho, viu?
Anthony percebeu os cochichos e virou o rosto, lançando um olhar direto para as duas. Pegou a toalha, amarrou na cintura e entrou em casa. Ao acenar, as duas coraram e se afastaram rapidamente. Talvez Anabelle tivesse razão — eram apenas pessoas tímidas.
Aiana jogou suas coisas dentro de uma mala e limpou o rosto. Com sorte, ainda encontraria Fabrício antes que ele saísse para a feira, e talvez conseguisse uma carona até a cidade.
Botou a mochila nas costas e saiu, acelerando o passo. No caminho, sua mente voltava ao homem que estava ao lado de Anabelle. Quem seria ele? No dia da reunião, Anabelle comentou que alguém importante visitaria a fazenda, mas Aiana não ficou para ouvir o restante — tinha discutido com ela e saído.
Será que era o namorado da Anabelle?
Se é que aquela mulher conseguiria ter um namorado...
Só de pensar, Aiana se arrepiou. Ela mal tinha olhado para o homem. Pobre coitado, tinha tomado um banho de bosta. Começou a rir, lembrando da cena.
Logo avistou Fabrício carregando o carro com duas cestas.
— Aiana! Aonde vai com essa mochila?
— Fui demitida. Me dá uma carona até a cidade?
— Demitida? Santo Deus! Vamos ficar sem ninguém aqui... Mas por quê? Por causa da discussão mais cedo com a Anabelle?
— Não. Eu dei um banho de bosta no companheiro dela sem querer... e ela não gostou.
— Companheiro dela?
— É, o engomadinho que andava com ela hoje cedo.
— Você jogou bosta... no patrão?
— Patrão?
— O "engomadinho", como você chamou, é o sobrinho do Emanuel. Herdeiro de tudo isso aqui. Você não ficou até o fim da reunião, né? Pois ele veio passar o fim de semana... meio que pra assumir tudo.
— Ah... bom, não importa quem ele é. Eu fui demitida. Ele não é mais problema meu. Preciso seguir em frente.
— E pra onde você vai? Até onde sei, você não tem ninguém na cidade.
— Não tenho, não... Mas eu me viro. Tenho um dinheirinho guardado, consigo um quarto de pensão até arrumar outro emprego.
— Sinto muito... — Fabrício enfiou a mão no bolso e tirou a carteira, oferecendo algum dinheiro. — Não é muito, mas pode ajudar. Emprego na cidade tá difícil, Aiana... Pode demorar.
— Imagina se vou aceitar isso! Fica com o seu dinheiro, Fabrício. Eu me viro!
— Tem certeza?
— Absoluta.
Ela entrou no carro, e os dois seguiram rumo à cidade.
Anthony, agora limpo, desceu as escadas. Olhou discretamente para os lados, tentando evitar cruzar com Anabelle, e seguiu para a cozinha. Quando chegou à porta, ouviu vozes animadas.
As empregadas riam alto, claramente se divertindo com o ocorrido mais cedo.
— Então eu consegui ser o assunto de vocês! — disse ele, entrando.
O silêncio foi imediato. Todas o encararam, imóveis, como se o tempo tivesse congelado.
— Ora, por favor... — ele sorriu. — Não ajam assim. Não vou castigar ninguém, muito menos ficar irritado. Foi engraçado mesmo! Não é todo dia que se toma banho de estrume...
Algumas sorriram, outras continuaram sérias. Ele pegou uma maçã da fruteira e mordeu.
— É do pomar do meu tio? Está deliciosa!
Joana limpou as mãos no avental e se aproximou, um pouco mais à vontade. Ele a reconheceu da infância.
— São sim, senhor. Mas o pomar não deu muito esse ano. Está fraco, precisando de cuidados.
— Joana! Me lembro de você! Que bom saber que ainda está aqui. E o Juca?
Ela sorriu, mas logo baixou os olhos, triste.
— Foi demitido mês passado, senhor. Seu tio já tinha o aposentado por estar velho demais. Mas assim que ele faleceu... mandaram embora. Disseram que não contribuía mais.
— O quê?! — Anthony cerrou o maxilar. — Mandaram o Juca embora por estar velho? Quem tomou essa decisão?
— Fui eu, senhor. — disse Anabelle, entrando na cozinha com os olhos frios.
Anthony se virou para ela, o olhar carregado de indignação.
— Pois então, agora você vai trazer duas pessoas de volta: o Juca, e a moça que demitiu hoje cedo. A partir de amanhã, somente eu assinarei qualquer demissão na fazenda. Estamos entendidos?
Anabelle empalideceu e assentiu, visivelmente nervosa. As mulheres na cozinha engoliram o sorriso, mas seus olhos brilhavam. Anthony se retirou, satisfeito. Assim que ele deixou a cozinha, Anabelle lançou um olhar fulminante para todas.
— Ele vai ficar por pouco tempo. Não se animem.
As funcionárias voltaram ao trabalho rapidamente, e ela também saiu, com a postura rígida e o semblante mais sombrio que nunca.
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Atualizado até capítulo 62
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