Anabelle se vestia de um jeito estranho. Usava vestidos longos e pesados, sempre em cores escuras. O cabelo, preso com tanto gel, parecia colado à cabeça — mal dava para perceber sua cor. Usava óculos pequenos, tinha o nariz fino e delicado e as unhas sempre bem feitas.
Na verdade, não era uma mulher feia. Pelo contrário, até era bonita. Mas se vestia como se tivesse mais de cinquenta anos, e seu rosto sempre sério afastava qualquer tentativa de aproximação.
Anthony encostou a caminhonete na entrada e, antes que pudesse fazer qualquer coisa, viu Anabelle abrir a porta e correr em sua direção, parecendo emocionada. Sem cerimônia, ela se atirou nos braços dele.
— Meu querido! Que coisa horrível nos aconteceu! Perdemos o nosso Bepe!
Bepe era o apelido carinhoso de Emanuel, criado por Anthony por causa da calma exagerada do tio ao resolver as coisas.
— Sim, Ana... Foi horrível. Tenho tentado me recuperar disso, mas ele faz muita falta.
Ela segurou os ombros dele e o olhou com os olhos úmidos.
— Sabe que pode contar comigo, não é? Estou sempre disponível para você. Sei como é sensível... Tão emotivo...
Anthony forçou um sorriso e se afastou, de forma educada. Sabia muito bem o que ela esperava — e não estava nem um pouco interessado.
— Eu sei, Ana. Pode deixar... se precisar, procurarei você.
Mas ele sabia que não iria. Aquilo fora só uma forma polida de mantê-la à distância.
Voltou-se para pegar as malas, mas foi impedido por ela.
— Temos empregados para isso! Por favor, não se canse...
— Mas eu...
— Não, não! Já preparei seu banho quente, como sei que gosta. Vá subindo para o quarto, logo suas malas estarão lá.
Discutir não adiantaria. Aquela era Anabelle: gostava de controlar tudo. E quando era contrariada, se transformava num inferno — e Anthony não queria problemas logo na chegada.
Passou pelos funcionários, cumprimentando com um sorriso. Mas o que recebeu foram apenas olhares de medo. Alguns nem ousaram responder. Outros simplesmente saíram correndo, escondendo-se como ratos.
Anthony franziu o cenho. Aquilo não era o que ele lembrava da fazenda. Quando seu tio estava vivo, tudo era diferente.
Subiu as escadas e entrou no quarto. Estava tudo do mesmo jeito: a vista para o lago, os cavalos pastando ao longe... Inspirou o ar puro que vinha da janela. Era bom estar de volta.
Tomou um banho demorado e, ao descer para a sala de refeições, notou que a mesa estava posta.
— Só um prato? — perguntou.
Anabelle piscou, confusa.
— Espera alguma visita, senhor?
Ele fechou o rosto.
— Ora, vamos, Ana! Crescemos juntos! Sente-se comigo e coma. Sabe que odeio comer sozinho. E mais: se me chamar de "senhor" de novo, está demitida!
Ela sorriu, animada, e fez sinal para que a empregada trouxesse outro prato.
Comeram em silêncio por alguns minutos, até que Anthony puxou conversa.
— Como estão as coisas na fazenda? Fiquei sabendo que, depois da morte do titio, muitos funcionários se demitiram. Não entendi... Por quê?
Anabelle balançou a cabeça, visivelmente incomodada.
— Todos incompetentes. Você não faz ideia de como está difícil contratar pessoas que realmente queiram trabalhar. É um fardo enorme cuidar de tudo sozinha...
Anthony assentiu.
— Talvez um aumento de salário ajude.
— Não! Eles já ganham muito bem. A folha de pagamento está altíssima. Oferecemos plano de saúde, odontológico, moradia, refeições... e ainda têm seis folgas por mês! Qual fazenda oferece tudo isso?
— Uau... parece ótimo. E mesmo assim desistiram?
— Como eu disse: preguiçosos. Incompetentes. Querem tudo fácil.
Ele assentiu mais uma vez, mesmo sem estar convencido. Por mais que as palavras dela fizessem sentido, algo não batia.
À tarde, Anthony decidiu caminhar pela fazenda. Queria observar discretamente os funcionários, ouvir conversas, entender os motivos de tanta insatisfação. Não eram apenas novatos que tinham ido embora — funcionários antigos, leais ao seu tio, também pediram demissão.
Mas Anabelle se postou ao seu lado.
— Só vou dar uma volta, Ana. Pode ficar, logo volto.
— A fazenda mudou muito, Anthony. Vai precisar de mim.
Ele soltou um suspiro. Já estava se irritando. Queria paz, mas ela não dava trégua.
— Ok, vamos — cedeu.
Enquanto ele usava botas, ela caminhava com sapatos de salto. Por vezes, ele tinha que parar e esperar, o que o deixava ainda mais impaciente. Ao avistar dois homens consertando uma cerca, decidiu se aproximar para ouvir o que conversavam. Mas assim que os rapazes viram Anabelle, calaram-se imediatamente.
Anthony a olhou, incomodado. Cumprimentou os homens, mas não recebeu resposta.
— Por que ninguém aqui responde a um bom dia?
— São pessoas do campo, Anthony. Reservadas.
Ele ergueu uma sobrancelha, desconfiado. Aquilo não era resposta.
Mais adiante, avistou a estrebaria.
— Vai mesmo até lá? É sujo, imundo, o cheiro é horrível...
— Se quiser, pode ficar. Eu quero ver como estão as estruturas. Vim com um propósito, Ana. E não vou embora até resolver tudo.
— Propósito? Achei que fosse apenas descansar, passar um fim de semana...
— Foi isso que o Sidney te falou? — sorriu. — Ele é esperto, gosto disso nele.
— Sim...
— Pois não. Vou ficar o tempo que for necessário. Meses, se preciso. Quero ter certeza de que a Três Corações está bem cuidada.
Ela empalideceu.
Talvez ele tenha soado duro demais. Não queria parecer que ela não cuidava bem da fazenda, mas o incômodo geral entre os funcionários era óbvio — e preocupante.
Foi então que aconteceu.
Um monte de esterco voou bem na direção deles. Anabelle se afastou rápido, mas Anthony foi atingido em cheio.
De dentro da estrebaria, um rosto pequeno espiou, segurando uma pá na mão.
— Eu... Eu sinto muito! Estava limpando e não os vi... Foi sem querer!
— Santo Deus, garota! — Anabelle explodiu. — Estou de saco cheio de você! Olha o que fez com as roupas dele! Isso é um desastre! Está demitida!
Antes que Anthony pudesse dizer algo, a garota largou a pá e saiu correndo.
Ele ficou observando... Aquelas pernas finas, aquele corpo pequeno... Havia algo familiar. Muito familiar.
— Quem era aquela garota? E por que a demitiu? É só esterco, Ana!
— Suas roupas estão arruinadas! Ela precisa olhar antes de jogar merda pela porta! Onde está o respeito?
— Ela não nos viu. Estávamos no lugar errado, na hora errada. Vou me limpar. Chame-a de volta.
— O quê?
— Você ouviu. Traga a garota de volta.
— Isso é humilhante! Nunca voltei atrás numa decisão!
— Se você não chamar, eu vou chamar. E aí sim você vai saber o que é humilhação.
Ana cerrou os dentes e saiu, batendo os pés. Anthony seguiu na direção oposta, voltando para casa.
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Atualizado até capítulo 62
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