15 Anos

Minha mãe, coitada, tentava manter a conversa viva, elogiando o vestido de Liza, comentando sobre o tempo, perguntando se queriam mais arroz. Ela claramente não entendia o peso daquele jantar. Mas eu… sentia tudo.

Sentia que Dom e Liza não vieram ali por gentileza. Eles estavam me analisando, como se estivessem confirmando algo. Algo sobre mim.

Quando o jantar finalmente acabou, minha mãe insistiu para que ficassem mais um pouco para o bolo, mas Dom olhou para meu pai e disse com firmeza:

— Está na hora.

Liza apenas assentiu.

Se despediram educadamente. Dom apertou minha mão com suavidade e olhou dentro dos meus olhos uma última vez.

— Até breve, Mel.

Até breve.

Aquelas palavras me arrepiaram inteira.

Depois que saíram, minha mãe olhou para meu pai, confusa.

— Carlos… quem exatamente é esse Dom? Por que essa tensão toda?

Ele apenas respondeu, seco:

— Apenas meu patrão.

— Isso não respondeu nada… — ela murmurou, olhando pra mim como se procurasse alguma pista.

Subi pro meu quarto sem dizer nada. Mas lá dentro, sozinha, algo em mim começou a despertar.

Eu ainda não sabia o quê.

Mas sentia… que minha vida nunca mais seria a mesma.

A vida voltou ao normal nos dias seguintes ao jantar.

A escola, a rotina, os silêncios do meu pai, a alegria contida da minha mãe.

Mas eu não conseguia esquecer os olhos de Dom, o jeito como ele disse “até breve”.

Quatro dias se passaram, e então… chegou o meu aniversário.

Era um domingo ensolarado. Como sempre, minha mãe fez tudo com carinho. Arrumou o quintal com balões simples, encomendou um bolo de cenoura com cobertura de chocolate — o meu preferido — e preparou uma mesa pequena, mas cheia de doces que a gente só comia em ocasiões especiais.

Minha irmãzinha corria de um lado para o outro com um chapéu de festa torto na cabeça. Lucas, como sempre, ficava mais na dele, quieto, mas presente.

Rosa foi a única amiga que veio. Como sempre. Meu pai não gostava da presença dela, e eu nunca entendi por quê. Mas naquele ano, minha mãe conseguiu convencer “a fera”, como ela dizia, com aquele jeitinho doce que só ela tinha.

E então… ela me deu o vestido.

Era diferente de tudo que eu costumava usar.

Não era rodado, nem colorido, nem cheio de babados como os outros. Era mais liso, de alcinhas finas, com um caimento que desenhava meu corpo. Senti que ele me deixava diferente… crescida. Mulher.

— Mãe… por que esse vestido é assim? — perguntei, meio tímida.

Ela me olhou com ternura, segurou minha mão e sorriu.

— Filha… hoje você faz 15 anos. Você já não é mais uma garotinha.

Fez uma pausa, depois tocou meu cabelo com carinho.

— Você reparou como seu corpo está mudando? Como você anda se sentindo diferente? — a voz dela era doce, mas firme.

Fiquei vermelha na hora, abaixei os olhos e assenti, envergonhada. Minha cabeça parecia flutuar.

Ela riu e me puxou para um abraço apertado.

— É normal, meu amor. Logo, logo, o mundo vai te ver como eu vejo: uma jovem linda, forte… e pronta para viver grandes coisas.

Minha mãe sempre foi aberta comigo, sempre me preparou para as fases da vida. Mas mesmo com todas as explicações, com toda a calma e amor que ela me passava... eu sentia...

Aquilo era mais do que só completar 15 anos.

Naquele dia, algo dentro de mim estava diferente. Não era só meu corpo. Era como se o mundo ao meu redor tivesse ficado mais atento. Mais silencioso.

E, no fundo, bem, no fundo, uma parte de mim, sabia: fazer 15 anos não era apenas um aniversário. Era o início de algo muito maior. E eu estava bem no meio dele.

O dia passou rápido demais.

As horas escorriam como água entre os dedos.

Rosa foi ao meu aniversário, mas era como se não estivesse ali de verdade. Sentou perto, comeu um pedaço de bolo, mas mal olhou nos meus olhos. Conversou pouco. O brilho dela parecia ter apagado, e por mais que eu tentasse me distrair, aquilo me machucava.

Minha mãe percebeu. Ela sempre percebia. Mas, como fazia quando algo doía mais do que podíamos falar, apenas apertou minha mão de leve, sem dizer nada. Era o jeito dela de dizer: “Eu tô aqui.”

Quando a festa acabou, ajudei a recolher alguns copos plásticos no quintal, depois subi pro meu quarto. Vesti meu pijama e deitei, cansada… mas com a mente acesa.

E foi aí que senti.

Primeiro uma pontada estranha na cabeça, depois uma dor leve — mas firme — na barriga. Me encolhi, respirei fundo, tentei ignorar, mas o desconforto crescia. Meu corpo parecia não se encaixar mais em si mesmo. Estava quente. Diferente.

Levantei e fui até o banheiro. Quando abaixei a calça do pijama, vi o sangue.

Fiquei parada por alguns segundos, olhando para aquilo como se não fosse meu. Mesmo com tudo que minha mãe já havia me explicado, minha cabeça entrou em branco.

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