A noite na fazenda era tranquila, apenas o som dos grilos e o farfalhar das folhas ao vento quebravam o silêncio. Fernando e seu avô estavam sentados na varanda da casa grande, cada um com uma taça de vinho tinto nas mãos. O céu estrelado parecia um manto de diamantes acima deles, e o ar fresco carregava o perfume das flores noturnas.
Fernando girou lentamente a taça, observando o líquido rubro refletir a luz suave da lua. Ele estava pensativo, algo raro para quem normalmente transbordava confiança.
Fernando
— Vô... *começou, hesitante* O senhor acha que eu... vou arrumar alguém um dia?
Piter
*ergueu uma sobrancelha grisalha, surpreso pela pergunta*
Piter
— Claro que vai, meu neto. Por que essa dúvida?
Fernando
*deu de ombros, evitando o olhar do velho*
Fernando
— Não sei. Às vezes acho que sou muito... mimado. Difícil de aguentar.
Piter
*riu, um som rouco e quente*
Piter
— Você é mimado, Fernando. Mas não é por isso que vai ficar sozinho.
Fernando
*olhou para ele, os olhos castanhos cheios de dúvida*
Fernando
— Então por que até agora não deu certo com ninguém?
Piter
*tomou um gole de vinho antes de responder, escolhendo as palavras com cuidado*
Piter
— Talvez porque você sempre buscou nos outros o que só você pode se dar.
Fernando
*franziu a testa*
Fernando
— O que isso quer dizer?
Piter
— Quer dizer que você espera que alguém te complete, meu menino. Mas ninguém carrega essa responsabilidade. O amor não é sobre encontrar metade, é sobre duas pessoas inteiras que escolhem caminhar juntas.
Fernando ficou em silêncio, absorvendo as palavras. Elas ecoavam dentro dele, tocando feridas que nem sabia que estavam abertas.
Fernando
— E como eu sei quando é... real?
Piter
*sorriu, os olhos cheios de sabedoria e afeto*
Piter
— Você vai saber. Quando encontrar, vai sentir como se tivesse chegado em casa, mesmo estando no meio do mundo.
Fernando
*olhou para o céu, imaginando*
Fernando
— O senhor sentiu isso com a vovó?
Piter
*suspirou, um sorriso nostálgico nos lábios*
Piter
— Desde o primeiro dia. Ela me olhou com aqueles olhos verdes dela e eu soube que estava perdido.
Fernando
*riu, imaginando o avô, jovem e apaixonado*
Fernando
— E o Zade? *perguntou de repente, sem pensar*
Piter
*olhou para ele surpreso*
Piter
— O Zade?
Fernando
*sentiu as orelhas queimarem*
Fernando
É que... o senhor confia tanto nele. Ele parece...
Piter
Honesto?
Fernando
Diferente *corrigiu, baixinho*
Piter
*estudou o neto por um momento, e algo em seu olhar ficou mais atento*
Piter
Zade é um homem de caráter. Duro por fora, mas leal como poucos. Por que a pergunta?
Fernando
*encolheu os ombros, fingindo desinteresse*
Fernando
Só curiosidade.
O avô não pressionou, mas seu sorriso era pequeno e sabido.
Piter
— Bom, se você quiser mesmo saber se é mimado demais para alguém, só tem um jeito de descobrir.
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