Sob o luar dourado
O vento soprava suave contra o rosto de Fernando enquanto Colorado galopava pelos campos, seus cascos batendo no ritmo acelerado do próprio coração do jovem. Zade seguia ao lado em outro cavalo, silencioso como sempre, mas sua presença era como um imã—Fernando não conseguia ignorar a forma como o caseiro se movia com a montaria, forte e seguro, como se fosse parte da paisagem.
Eles chegaram a um pequeno morro, um ponto alto da fazenda onde a vista se estendia por quilômetros. O céu já começava a se incendiar em tons de laranja, rosa e dourado, as nuvens riscadas como pinceladas de um pintor divino
Zade
— Aqui *disse, parando seu cavalo*
Fernando não hesitou. Desceu de Colorado com um movimento fluido, seus pés tocando a terra macia. Caminhou até a beira do morro e ficou ali, imóvel, olhando o horizonte em chamas.
Fechou os olhos e respirou fundo, deixando o cheiro do campo e o calor do sol mergulharem em seus pulmões. Nesse momento, ele se sentia pequeno e grandioso ao mesmo tempo—apenas um homem diante da imensidão, mas ainda assim parte dela.
Sem pensar, ergueu a mão e tocou a tatuagem em seu braço—um pôr do sol estilizado, com raios dourados que se estendiam até seu ombro. Era sua primeira tinta, feita aos 18 anos, uma homenagem a esse exato momento: o silêncio, a beleza passageira, a promessa de que mesmo o fim podia ser magnífico.
Zade
— Gosta do pôr do sol *observou, que havia descido do cavalo e agora estava a poucos passos de distância*
Fernando virou a cabeça e encontrou os olhos escuros do caseiro fixos nele—não no horizonte, nele. Algo naquele olhar fez sua pele formigar.
Fernando
— Amo *respondeu, a voz mais suave do que pretendia* É a única coisa que nunca decepciona. Não importa onde você esteja, ele sempre vem. E sempre é lindo.
Zade estudou seu rosto por um longo momento, como se estivesse decifrando um segredo. Depois, lentamente, seu olhar desceu até o braço tatuado de Fernando.
Fernando
*arqueou uma sobrancelha*
Zade
*acenou com a cabeça*
Fernando
*sorriu, um pouco travesso*
Fernando
— Algumas. Nem todas estão à mostra.
A declaração saiu carregada de provocação, e ele viu os músculos da mandíbula de Zade tensionarem por um segundo quase imperceptível, mas ele notou.
O caseiro não respondeu, apenas virou-se novamente para o pôr do sol, mas Fernando jurou ter visto um brilho diferente naqueles olhos escuros.
O céu agora estava em tons profundos de púrpura, as últimas faíscas douradas desaparecendo no horizonte. Fernando sentiu uma pontada de nostalgia, como se aquele momento fosse algo que ele já sabia que iria sentir falta antes mesmo que acabasse.
Zade
— A gente devia voltar, *murmurou, quebrando o silêncio* Escurece rápido aqui.
Fernando não queria ir. Queria ficar ali, naquela colina, com aquele homem enigmático e o cheiro da terra ao entardecer. Mas acenou com a cabeça.
Enquanto se preparavam para montar novamente, Zade parou de repente, os olhos fixos em algo no chão.
Fernando seguiu seu olhar—e seu sangue gelou.
Um sapo. Grande, verde e nojento, parado a menos de um metro dele.
Zade
— Não se mexe *ordenou, a voz firme*
Mas já era tarde. Fernando deu um passo para trás, tropeçou em uma raiz e sentiu o corpo inclinar perigosamente para trás
Mãos fortes o agarraram pela cintura antes que ele caísse, puxando-o contra um peito sólido. Fernando ofegou, o coração batendo a mil por hora, mas não por causa do sapo.
Era o calor do corpo de Zade. O cheiro dele—terra, suor e algo mais, algo quente e masculino que fez sua cabeça girar.
Zade
— Tá bem? *perguntou, a voz um rosnado baixo perto de seu ouvido*
Fernando
*virou o rosto e, de repente, percebeu o quão perto estavam. Seus lábios estavam a um sopro de distância*
Fernando
— ...Tô *ele mentiu, a voz um sussurro rouco*
Zade olhou para ele, os olhos escuros queimando com algo que Fernando não ousava nomear. Por um segundo, ele pensou que o caseiro iria fechar a distância entre eles—
Mas então, Zade soltou-o devagar, como se fosse a última coisa que queria fazer.
Zade
— Vamos *disse, virando-se para os cavalos*
Fernando
*ficou parado por um momento, ainda sentindo o toque das mãos dele em sua cintura*
O pôr do sol havia acabado.
Mas algo novo—algo perigoso—havia começado.
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