Lana girou a chave com um suspiro e empurrou a porta com o ombro. Entrou no novo apartamento equilibrando as sacolas enquanto o olhar percorria o ambiente ainda cheirando a tinta fresca. Era estranho estar ali sozinha, com caixas fechadas pelos cantos e a sensação de que tudo estava começando do zero.
Largou as compras na bancada da cozinha e começou a tirar item por item, tentando não pensar demais. A conversa com Mateo ainda ecoava na mente — leve, inesperada, quase divertida. Ele parecia o tipo de vizinho que tornaria o lugar menos solitário, e só isso já era um alívio.
Ela riu sozinha ao lembrar da última frase dele no elevador:
"Às vezes, a melhor terapia pra esquecer um ex é na cama do vizinho."
Descarado. Sem filtro nenhum.
Mas por algum motivo… aquilo grudou na mente dela.
"Cama do vizinho?" Ela balançou a cabeça, rindo sozinha.
— Ridículo… — murmurou, abrindo uma garrafa de vinho.
Ridículo… e perigosamente tentador.
Ainda havia fantasmas, claro. Bernardo não saía da cabeça com tanta facilidade. Mas ela não estava ali pra sofrer, e sim pra se reconstruir — nem que fosse um pedaço por dia. E se a terapia envolvesse vinho, risadas e talvez... um sorriso bonito no andar de cima, tudo bem. Ela podia conviver com isso.
Estava abrindo uma embalagem qualquer quando ouviu três batidas suaves na porta.
Ao abrir, não esperava ver ninguém. Muito menos ele.
Mateo estava ali, apoiado de forma casual no batente da porta, segurando duas garrafas como se tivesse sido convidado. Mas não havia soberba em sua expressão — só aquela calma estranha, quase irritante, de quem parecia saber exatamente o que estava fazendo.
— Eu estava brincando… — ele disse, erguendo as garrafas como quem sela um acordo silencioso. — Mas posso oferecer minha amizade?
Ela demorou um segundo para responder. Ainda tentava entender o que ele estava fazendo ali — no prédio novo, na sua porta, no meio do seu desastre pessoal. Mas havia algo nele. Um cuidado sem piedade. Um olhar que não julgava.
— E isso vem em dose dupla? — ela provocou, arqueando a sobrancelha.
Mateo sorriu. Aquele sorriso contido, inclinado no canto da boca, que parecia guardar mais verdades do que ele dizia.
— Estou aqui pra te fazer companhia. Nada mais. Nada menos.
E por algum motivo que ela ainda não compreendia, Lana não fechou a porta. Não mandou ele embora. Só se afastou, dando passagem. E com isso, uma brecha para o inesperado.
Mateo entrou devagar, como se respeitasse o luto dela. Olhou ao redor, absorvendo o apartamento vazio, as caixas fechadas, o caos das garrafas na bancada — e depois olhou para ela. Com atenção. Com algo que beirava admiração.
— Gosto de lugares com cheiro de recomeço — disse baixo, depositando as garrafas sobre a mesa com cuidado.
Lana pegou dois copos, o coração ainda armado, mas a solidão começando a ceder. Ainda desconfiava. Ainda sentia as feridas abertas. Mas aquela presença inesperada, sem promessas, sem cobranças... era quase um alívio.
Ela ergueu o copo.
— Então brinda comigo... ao fim de uma ilusão.
Mateo ergueu o dele sem hesitar.
— E ao começo de uma boa distração.
Os dois brindaram, e o som dos copos se tocando ecoou pelo apartamento como um sopro de vida. Pela primeira vez desde o fim, Lana deixou escapar um sorriso de verdade. Não porque tinha superado. Mas porque, talvez, não estivesse tão sozinha quanto pensava.
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Atualizado até capítulo 31
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