Vizinho

O corredor da empresa parecia interminável enquanto Lana arrastava sua mala pesada. O peso da noite passada ainda apertava o peito, e cada passo ecoava um misto de cansaço e determinação. Ela só queria chegar ao banheiro, lavar o rosto, tomar um pouco d’água e tentar organizar os pensamentos antes que desabasse de novo.

Mas antes que conseguisse se trancar, uma voz familiar cortou o silêncio:

— Lana!

Giovana, sua amiga de longa data e chefe do setor, apareceu apressada, com os olhos arregalados e a expressão carregada de preocupação.

— Foi ele, né? — disse com raiva contida, cruzando os braços.

Lana apenas assentiu com a cabeça, tentando manter a postura. O silêncio dizia mais que mil palavras.

— Eu vou matar aquele filho da puta — disparou Giovana, se aproximando e segurando o braço da amiga com firmeza, quase como se quisesse impedi-la de cair. — Me fala que você não deixou isso quieto, por favor.

— Saí de casa. Vim direto pra cá — respondeu Lana, com a voz rouca, abafada. — Não consegui, não queria ficar lá nem mais um segundo.

Giovana soltou um suspiro irritado e logo puxou Lana para um canto mais reservado, longe dos olhares dos outros funcionários.

— Você não vai ficar sem chão, entendeu? Eu não vou deixar. — Ela abriu a bolsa e começou a mexer no celular. — Espera aqui.

Em poucos toques, já estava em um site de aluguel de apartamentos.

— Pronto. Vamos resolver isso rápido. Olha essas opções — mostrou a tela a Lana com um gesto firme. — Escolhe o que quiser. Eu autorizo cinco dias de folga. Pra se ajeitar, respirar, se reencontrar. E esquecer que aquele infeliz existe.

Lana sentiu um nó na garganta. Por um segundo, deixou que a força da amiga a sustentasse. Respirou fundo.

— Obrigada, Gi. Eu precisava disso.

Giovana sorriu de lado, como quem já tinha feito isso mil vezes. — É claro que precisava. Você é uma mulher incrível, e eu não vou deixar que isso te quebre.

**

No final da tarde, no prédio novo, Lana parou em frente à porta do apartamento. O dia parecia ter durado uma semana inteira.

Arrastou suas malas até o elevador, subiu até o andar indicado e caminhou até a porta 502. Estava prestes a destrancar quando viu um homem saindo do 501, logo ao lado.

Ele estava de fones no ouvido, cabelos úmidos, regata preta colada no peito largo e músculos que pareciam esculpidos à mão. Olhou pra ela. Ela olhou de volta.

— Oi — disse ele, com um sorriso contido.

— Oi — respondeu, surpresa com a visão inesperada.

Ele passou por ela e seguiu seu caminho. Nada além disso.

Mas bastou.

Lana ficou ali parada, a chave ainda na mão, sentindo o peso daquele breve encontro.

Dois apartamentos. Um ao lado do outro.

Duas vidas prestes a se cruzar.

**

Após a descoberta devastadora da traição, Lana Santoro sabia que não podia mais viver nos cômodos onde foi ferida. A casa que um dia foi abrigo virou prisão. Com o coração estraçalhado e a dignidade intacta, ela fez a única coisa possível: pegou o que pôde, foi trabalhar — e recomeçou.

Mas nem mesmo o escritório conseguiu esconder o caos interno. O rosto maquiado, o salto firme, nada enganava quem realmente a conhecia. E Giovana conhecia cada detalhe.

Entre o frio do prédio novo e o calor de uma amizade leal, Lana deu o primeiro passo rumo a uma nova história.

Com malas, mágoas e um recomeço batendo à porta... ou melhor, na porta 502.

Mal sabia ela que o vizinho do 501 estava prestes a virar tudo do avesso.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!