Na superfície do lago, por um segundo, havia dois reflexos.
Mas eu estava sozinho.
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Fiquei ali por mais um tempo, com o coração apertado.
Eu queria entender.
Eu queria esquecer.
Eu queria lembrar.
Mas acima de tudo, eu só queria ver ele de novo.
Não era mais sobre medo.
Nem dúvida.
Era como se… uma parte de mim estivesse faltando, e só ele soubesse onde ela foi parar.
Quando voltei pra casa, minha mãe me olhou de longe.
Não perguntou onde eu estive.
Ela nunca pergunta.
A ausência do meu irmão deixou buracos na casa.
Na rotina.
No jeito que a gente finge que vive.
Mas eu sentia que o buraco dentro de mim… era outro.
E ele tinha o nome de Naoki Oyama.
Naquela noite, sonhei de novo.
A floresta.
As folhas secas no chão.
O céu alaranjado.
E ele.
Naoki estava ali.
Mais jovem.
Triste.
Esperando.
Ele olhou pra mim como se me visse pela primeira vez.
Ou como se esperasse há anos.
— Você tá demorando dessa vez — ele disse.
— Eu não sei o que tá acontecendo…
— Você esqueceu.
— Esqueci o quê?
— De mim.
— Mas eu tô aqui, não tô?
— Tá.
— Então por que ainda dói?
Ele sorriu, cansado.
— Porque o tempo não é gentil com quem promete lembrar… e esquece.
Fiquei em silêncio.
— Você disse que ia me encontrar de novo. — ele continuou.
— Eu?
— Você disse que, quando as folhas começassem a cair… você ia voltar.
— Eu…?
— Ryota — ele interrompeu —, a gente se encontrou antes do fim.
Mas você foi embora primeiro.
Acordei com os olhos cheios de lágrimas.
No peito, um vazio queimava.
E na minha mão, amassada, havia uma folha seca.
Com uma marca escura no centro.
Dessa vez… em formato de coração.
Era sábado.
O tipo de manhã em que tudo parece suspenso no ar.
Nem quente, nem fria.
Só… vazia.
Minha mãe dormia no quarto.
A casa estava silenciosa como um santuário abandonado.
Mas dentro de mim, havia barulho.
Caminhei até a escrivaninha e peguei a folha.
Ela estava seca, quebradiça, mas a marca… aquela marca escura… ainda queimava como se fosse recente.
Havia algo ali.
Uma memória presa. Uma promessa viva.
E eu sabia onde procurar.
Não demorei muito pra chegar.
O caminho entre as árvores era quase o mesmo de sempre.
Mas havia algo estranho na luz.
Como se o sol estivesse filtrado por lembranças.
As folhas caíam devagar, girando no ar, como se soubessem que aquele momento era importante.
Pisei com cuidado, sentindo cada estalo seco sob os pés.
E então parei.
Na clareira.
A mesma do sonho.
O mesmo lugar de antes.
Talvez o lugar onde tudo começou.
Ou terminou.
Ou os dois.
No centro da clareira, havia uma pedra antiga, coberta por musgo.
E sobre ela… outra folha.
Sem marca.
Mas virando-a com cuidado, vi algo gravado na parte de trás.
“Quando você lembrar, me encontre aqui.”
Meu coração disparou.
— Naoki?
O vento soprou mais forte.
As árvores dançaram ao meu redor.
— Naoki… você tá aqui?
Silêncio.
Depois… um som.
Fraco. Quase imperceptível.
Como um sussurro entre galhos:
— Você veio.
Girei sobre os calcanhares.
Ninguém.
Mas eu sabia.
Ele estava ali.
—
Me ajoelhei na frente da pedra.
Segurei a folha contra o peito.
Fechei os olhos.
E as memórias começaram a doer.
Não como pontadas.
Mas como ecos.
Risos.
Promessas.
Um garoto de olhos tristes.
Um adeus que nunca foi dito.
Eu me curvei, tremendo.
— Eu esqueci…
— Mas agora você lembra — sussurrou a voz, mais próxima.
— Eu devia ter voltado antes.
— Você voltou no momento certo.
— Me desculpa…
— Shhh… Você veio. Isso basta.
—
Senti uma brisa morna tocar minha bochecha.
Uma lágrima escorreu sozinha.
E pela primeira vez em muito tempo, eu me senti completo.
—
Ao abrir os olhos, a clareira estava vazia.
Mas meu peito…
Estava cheio de algo que eu não sabia explicar.
Talvez fosse ele.
Talvez fosse a lembrança.
Talvez fosse a voz que nunca me deixou, mesmo quando eu fui embora.
> Fim do Capítulo 5
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Atualizado até capítulo 58
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