Acordei com o coração batendo rápido.
A luz da manhã mal entrava pela janela. Estava nublado.
Cinza.
Silencioso.
Levantei devagar, sentindo a pele arrepiar.
Minha mão foi direto pro estojo, sem pensar.
Quando abri, lá estava ela.
A folha.
Amarelada.
Frágil.
Exatamente como no dia anterior.
Mas agora, no canto inferior da folha…
Havia uma marca.
Como se alguém tivesse escrito com carvão, leve demais pra ser lido.
Ou talvez fosse só minha mente.
Talvez.
O dia seguinte chegou com uma neblina estranha.
Era como se o outono estivesse perdendo a cor. Como se o mundo estivesse… embaçado.
Na escola, tudo parecia normal.
Menos ele.
Naoki Oyama.
Sempre quieto. Sempre calmo.
Sempre ali.
Sentado ao meu lado como se aquele lugar tivesse sido feito pra ele.
E mesmo sem falar nada, ele parecia saber tudo.
Eu não falei com ele a manhã toda. Mas o silêncio entre nós era tão denso que chegava a doer.
Ele me olhava de vez em quando, com aquele olhar…
Como se soubesse que eu lembrava.
Como se estivesse esperando que eu perguntasse.
E eu queria perguntar.
Mas perguntar o quê?
No almoço, sentei sozinho, perto da janela da biblioteca.
O vento balançava as cortinas levemente. As folhas secas giravam no ar como lembranças vivas.
Foi quando ouvi passos.
Ele sentou ao meu lado, sem pedir permissão.
A mesa era só nossa.
O mundo inteiro parecia longe.
— Você sonhou com o lago de novo? — ele perguntou, baixinho.
Meu coração parou por dois segundos.
— Como você…
Ele me olhou.
— Eu também sonhei.
— Comigo?
Ele não respondeu. Apenas tirou algo do bolso.
Era uma folha.
Igual à minha.
Mesma cor. Mesma forma.
Mas no centro… uma marca.
Preta.
Redonda.
Parecia… uma queima.
Como se tivesse sido tocada por fogo — ou por um segredo.
— O que é isso? — perguntei.
— Uma prova.
— De quê?
Ele sorriu, com tristeza nos olhos.
— De que a gente já se encontrou antes.
— Isso foi no lago…?
Ele assentiu.
— Mas não foi só uma vez.
Silêncio.
— Eu não lembro… — confessei.
— Você não lembra ainda.
No final da aula, esperei todos saírem antes de levantar.
Fui até a professora de história. Ela sempre foi gentil comigo, desde que… desde o ano passado.
— Sensei — falei, baixinho. — O aluno novo… o Oyama-kun. Ele… já estudou aqui antes?
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Oyama Naoki?
Assenti.
— Não que eu saiba. É a primeira vez que ouço esse nome. Por quê?
— Só… me pareceu familiar.
Ela sorriu.
— Às vezes a gente tem essa impressão.
— Sim… talvez seja isso.
Mas algo na forma como ela olhou pra mim no final…
Como se também quisesse perguntar algo…
Ou como se ela mesma não lembrasse direito.
Naoki me esperava na porta da escola.
Como se já soubesse que eu ia procurá-lo.
— Você me seguiu?
Ele olhou pro céu.
— Eu só fico onde o vento sopra as lembranças certas.
— Você fala como se já soubesse o que vai acontecer.
— Talvez eu saiba.
Dei um passo mais perto.
— Então me diz.
— O quê?
— Quem é você de verdade?
Naoki me olhou nos olhos.
Sério. Triste. Intenso.
— Eu sou alguém que lhe ama há muito mais tempo do que pode lembrar.
>fim do capítulo 3
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Atualizado até capítulo 58
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