[Narrado por Ryota Oshima]
A escola parecia mais silenciosa naquela manhã.
Talvez fosse o vento.
As folhas de outono já cobriam metade do pátio, e o ácer da frente estava perdendo cor rápido demais. A cada dia, algo sumia do cenário…
Como se o mundo estivesse ficando cansado.
Eu sentia isso também.
Estava rabiscando algo no meu caderno — nada importante, só folhas secas e sombras — quando o professor entrou carregando uma prancheta e um anúncio seco:
— Temos um aluno novo hoje.
A turma mal reagiu. Era novembro. Quem troca de escola no fim do semestre?
— Oyama Naoki — continuou ele. — Acabou de se transferir. Espero que o recebam bem.
Então ele entrou.
A mesma presença. A mesma calma incômoda.
Cabelos pretos, olhos muito escuros, expressão neutra.
Ele não parecia um estudante comum. Parecia parte de outro cenário — como se tivesse saído de dentro da floresta.
Foi ele.
O garoto do lago.
Dois dias atrás.
Na floresta atrás da escola.
Ele perguntou se eu conseguia ouvir…
E depois sumiu.
Naoki não se curvou. Não sorriu. Só olhou em frente, com aquele olhar que parece furar a pele.
— Pode se sentar ali, ao lado do Oshima.
Ao meu lado.
Meu peito apertou.
Ele andou devagar. Silencioso. Como se o mundo ao redor dele se calasse sozinho.
Se sentou. Não disse nada.
A aula continuou, mas pra mim, os sons ficaram abafados. As palavras no quadro se embaralhavam. Eu só conseguia pensar:
“Por que ele está aqui?”
“Por que ele se lembra de mim?”
“Como ele sabia do lago?”
O intervalo chegou.
E foi ali que ele me passou um papel dobrado, com calma quase irritante.
Eu hesitei. Meus dedos estavam gelados.
Abri o bilhete. A caligrafia era reta. Firme. Precisa.
*“Você esteve no lago. Eu também estive lá."*
*"Mas não era a primeira vez que te via.”*
Meu corpo ficou frio.
Virei de lado, tentando disfarçar. Ele me olhava como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.
Como se já tivesse ouvido tudo que meu coração não dizia.
— Como você sabia que eu... — sussurrei.
Ele desviou o olhar para a janela.
— Eu reconheço pessoas que sonham acordadas — disse.
— O quê?
Ele continuou, baixo:
— E eu sei quando alguém foi esquecido por alguém que não devia.
O vento entrou pela janela aberta, carregando folhas secas que dançaram por alguns segundos sobre as carteiras.
Alguns alunos riram.
Mas eu não consegui rir.
Porque ele ainda me olhava.
Naoki esticou a mão e pegou uma folha que havia caído bem na minha carteira.
Segurou-a entre os dedos como se fosse de vidro.
— Essa é sua primeira folha do outono — disse.
— ...E daí?
Ele sorriu, mas parecia triste.
— Quando ela mudar de cor de novo… vai ser tarde demais.
Eu não consegui prestar atenção no resto do dia.
As palavras no quadro viraram borrões, os sons à minha volta pareciam vir debaixo d’água, e o tempo… o tempo estava estranho.
Devagar.
Quase parado.
Naoki Oyama não falou mais comigo durante a aula.
Ele apenas ficou ali, ao meu lado, como se aquilo fosse o lugar dele desde sempre.
E o mais estranho: ninguém parecia achar nada estranho.
Na hora da saída, esperei um pouco pra sair depois de todo mundo. Não queria esbarrar nele. Não queria ver seu rosto.
Mas queria também. Queria muito.
A verdade é que algo nele me incomodava… e ainda assim, me prendia.
Aquela folha na minha carteira ainda estava comigo.
Guardei dentro do estojo sem pensar. Nem sei por quê.
(é o amoorrr, que mexe com minha cabeça me deixa assiimm. Sorry, volte a ler <3)
Na caminhada até em casa, o vento do final de tarde estava mais frio que o normal.
As árvores pareciam cochichar.
Caminhei devagar pela trilha que corta a floresta — a mais rápida até meu bairro — quando percebi que não estava sozinho.
Ele estava ali.
De novo.
Naoki.
Encostado numa árvore, perto da ponte de madeira que passa sobre o riacho.
Me esperando?
— ...Você me seguiu? — perguntei, tentando soar firme.
— Não. — Ele olhou para as folhas aos pés. — Eu já estava aqui.
Silêncio.
— Você mora por aqui? — tentei.
— Não.
— Mas...
— Eu só venho quando alguém vai passar.
Eu ri, meio nervoso.
— Isso é pra ser poético ou só esquisito mesmo?
Ele finalmente olhou pra mim. Seus olhos escuros estavam úmidos com a luz dourada do entardecer.
E por um momento, parecia que ele ia dizer alguma coisa real.
— Você se lembra — disse.
— Lembro do quê?
— Da primeira vez.
Aquilo me fez gelar por dentro.
Porque no fundo… uma parte de mim lembrava sim.
Do lago.
De um garoto pálido.
Do cheiro das folhas molhadas.
De uma presença que estava lá antes de mim.
— Eu te vi lá — sussurrei. — Mas… não tinha ninguém comigo. Foi…
— Foi no ano passado, não foi? — ele interrompeu.
Meus pés congelaram. Meu coração também.
Porque sim. Foi no ano passado.
Depois do acidente.
Depois daquilo que a gente não falava em casa.
Depois que Haruki morreu.
— Como você sabe disso? — perguntei, mais sério agora.
Naoki se virou.
Não respondeu.
— Você conhecia ele? Conhecia o Haruki?
Ele se afastou lentamente, os passos leves sobre as folhas secas.
— Não — disse. — Mas talvez ele me conhecesse.
E então ele se foi.
Simples assim.
Como se não tivesse dito nada demais.
Naquela noite, não consegui dormir.
Sonhei com folhas queimando, com sinos tocando no meio da floresta e…
Com uma voz.
A voz dele.
Mas o que mais me assustou no sonho foi oque que ele disse no fim.
— Quando a última folha cair…eu vou junto com ela.
> Fim do Capítulo 2
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Atualizado até capítulo 58
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