"Eu sou alguém que te ama há muito mais tempo do que você pode lembrar."
E eu… não consegui responder.
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Por alguns segundos, achei que não tinha escutado direito.
Mas ele estava sério.
Muito sério.
— Você… disse que me ama? — perguntei, num sussurro.
Ele não respondeu de imediato.
Só abaixou os olhos, como se tivesse revelado algo que não devia ser dito em voz alta.
— Eu não devia ter dito isso agora — ele murmurou.
— Agora?
Naoki respirou fundo. A brisa balançava seus cabelos como se o próprio outono respondesse por ele.
— Você ainda não lembra.
— Do quê, Naoki?
— Do dia em que tudo começou.
— Foi no lago?
Ele hesitou.
— Não… foi antes.
Tentei lembrar. Mas só vinha dor.
Dor e aquele vazio estranho, como se alguma coisa tivesse sido arrancada da minha cabeça — e do meu peito.
Naoki me encarou de novo.
— Ryota...
— O quê?
— Se você me esquecer de novo...
— ...
— Eu juro… dessa vez eu não volto.
Ficamos ali, parados.
Nem o vento ousava interromper.
Era como se o tempo também estivesse ouvindo a conversa.
Eu não sabia se ele tava falando sério, ou se era só… uma metáfora.
Mas algo no jeito que ele disse… fez meu coração doer.
E o mais estranho?
Parte de mim acreditava.
Naquela noite, a insônia voltou.
O vento lá fora assobiava como uma canção quebrada.
Peguei a folha que ele tinha me dado.
A marca escura no centro parecia mais intensa agora.
Como se estivesse queimando por dentro. Como se aquilo estivesse vivo.
Fechei os olhos.
E a lembrança voltou.
Mas não do lago.
Nem da floresta.
Era uma sala.
Uma mesa baixa.
Uma xícara de chá.
E ele.
Naoki.
Mais novo.
Sentado ao meu lado, sorrindo de um jeito que… eu nunca tinha visto.
Ele me chamava de outra forma.
Um apelido?
Um nome antigo?
Eu não consegui entender.
Mas ele sorria.
E eu sorria de volta.
Acordei com os olhos molhados.
O quarto escuro. Silencioso.
Mas parecia que alguém ainda estava ali, comigo.
Na manhã seguinte, fui à escola com o coração apertado.
Naoki não apareceu.
Primeiro, achei que fosse só um atraso.
Depois, comecei a achar que ele só… tinha faltado.
Mas então veio o intervalo.
E depois a última aula.
E nada dele.
O lugar ao meu lado, onde ele sempre sentava, ficou vazio o dia inteiro.
E foi aí que eu percebi:
ninguém perguntou por ele.
Nenhum professor. Nenhum aluno.
Era como se ele nunca tivesse estado ali.
Na saída, tentei disfarçar o aperto no peito.
Fui até a sala da administração.
— Oi… desculpa incomodar. Eu só queria saber se o aluno novo, o Oyama Naoki, tá tudo bem.
A mulher atrás da mesa ergueu os olhos, confusa.
— Oyama…?
— Sim. Ele chegou essa semana. Tava na minha turma…
Ela clicou no computador, digitou.
— Hmm… desculpa, querido. Não temos nenhum aluno com esse nome registrado.
Meu corpo congelou.
— Mas… ele veio comigo. Eu tenho certeza. Ele tava na lista da professora.
Ela olhou pra mim com pena. Daquelas que a gente dá pra quem parece estar lidando com um trauma mal resolvido.
— Talvez você esteja confundindo com outro nome?
— Não. Eu lembro dele.
A mulher apenas sorriu, sem saber o que dizer.
Na rua, o vento estava mais frio.
Mais cortante.
Pensei em ir pra casa.
Mas meus pés seguiram outro caminho.
Caminhei sem pensar, até perceber onde estava.
O lago.
A superfície estava calma, quase espelhada.
A água refletia um céu pálido, como se o tempo tivesse parado ali.
Sentei na beira.
E esperei.
Não sei quanto tempo fiquei ali.
Minutos? Horas?
As folhas secas rodopiavam ao meu redor como se sussurrassem.
Comecei a achar que estava ficando louco.
Até que ouvi.
De novo.
A voz.
— Você voltou.
Virei o rosto rápido.
Nada.
— Naoki?
O vento soprou mais forte.
Fechei os olhos.
Então senti.
Uma presença.
Atrás de mim.
Calma. Quente. Triste.
E, pela primeira vez… familiar.
Abri os olhos.
Na superfície do lago, por um segundo, havia dois reflexos.
Mas eu estava sozinho.
> Fim do Capítulo 4
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Atualizado até capítulo 58
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