Onde o Silêncio Grita, e o Desejo Não Perde Perdão

Capítulo 5 –

A casa dos Duarte amanhecia envolta por uma bruma leve, quase poética. A mansão, apesar do luxo que exalava, parecia respirar em compasso tenso, como se pressentisse que algo estava prestes a ruir.

Maribel, diante do espelho de seu quarto, admirava sua aliança recém-chegada. Sorria com os olhos marejados, repetindo baixinho as palavras que Heitor prometera gravar dentro do anel:

— “Por você, até o fim.”

Ela não sabia que esse “fim” já estava em curso.

Na biblioteca da mansão, Rubi lia um catálogo de interiores fingindo interesse. A luz dourada atravessava a janela, banhando seus cabelos como uma coroa de fogo. Fingir era sua arte. Fingir que ainda era amiga de Maribel. Que Heitor era apenas o noivo da amiga. Que aquele jogo ainda não havia ultrapassado o ponto de retorno.

📲 Mensagem recebida – Heitor:

“Hoje. No sítio da minha família. Estará vazio. Quero você por inteiro.”

Ela leu. E sorriu. Como quem saboreia um veneno antes de oferecê-lo à vítima.

No sítio da família Ferraz, o céu cinza prenunciava tempestade.

Heitor chegou antes. Estava inquieto, andando em círculos na varanda de madeira antiga. Quando ouviu o som do salto de Rubi sobre o cascalho molhado, parou.

Ela caminhava como quem vinha tomar posse. Vestido vinho, lábios da mesma cor, olhos cobertos por óculos escuros que ela tirou devagar.

— Sozinho? — ela perguntou, já sabendo a resposta.

— Só nós. — ele disse. — Pela primeira vez… completamente livres.

— Livres? — ela arqueou uma sobrancelha. — Ou encurralados pelo que fizemos?

Heitor a puxou pela cintura, colando seus corpos. A resposta veio num beijo bruto, urgente, entre mordidas e mãos desesperadas. Ali, entre as cortinas que dançavam com o vento, a mesa de madeira virou altar pagão. Rubi deitou-se sobre ela com a graça de uma deusa caída. E ele a adorou com a fome de quem nunca teve, mas sonhava possuir.

Horas depois, os dois estavam jogados no tapete da sala, nus, respirando ofegantes. O corpo de Rubi repousava sobre o peito dele, como uma sentença que pesa, mas vicia.

— Isso é errado. — murmurou ele. — Eu devia estar com a Maribel agora…

— Mas você está aqui. — respondeu ela, traçando círculos lentos no abdômen dele com a unha. — Isso é o que importa. A cama nunca mente.

— Não quero feri-la. — confessou.

Rubi se ergueu levemente sobre o cotovelo, seus cabelos escorrendo sobre o peito de Heitor, os olhos fixos nos dele como quem dita as regras de um contrato não verbal.

— E fique ciente de uma coisa, Heitor… — disse, com a voz baixa e firme, mas ainda envolta em mel. — Eu não vou viver para sempre no Brasil. Meu destino não cabe nesse país, nem nesse caso escondido.

Ela deslizou os dedos pelo rosto dele, com um carinho quase cruel.

— Em um mês estarei na Espanha. E depois, quem sabe… Nova York. Manhattan me espera. Eu tenho planos grandes. Ambições maiores que esse drama entre véus e alianças.

Fez uma pausa, deixando que o silêncio ardesse.

— Mesmo que você se case com a Maribel, mesmo que finja amor diante do altar… eu não estarei mais aqui. Eu sou passageira, Heitor. Uma tempestade de luxo e pecado. E quando eu for embora… você vai implorar por uma última chuva.

Ele a olhou, perturbado. Confuso entre o desejo e o abismo.

Mas ela… apenas sorriu.

Como quem já sabia que, mesmo longe, continuaria vivendo nele.

Na mansão, enquanto isso…

Maribel organizava as fotos do ensaio pré-casamento com a mãe, Helena. Em cada imagem, seu sorriso irradiava pureza. Esperança. Cegueira.

Helena observava as fotos em silêncio, depois encarou a filha:

— Você tem certeza que conhece mesmo esse homem, Maribel?

— Claro que sim, mãe. Ele é o amor da minha vida.

— E a Rubi? — Helena perguntou, cuidadosa. — Ainda tão presente…

— Rubi é parte de mim. Se tem alguém em quem eu confio, é nela.

Helena nada respondeu. Mas o silêncio das mães é como um presságio: diz mais do que mil palavras.

———

Rubi, em seu quarto, tirava os brincos diante do espelho. Seus dedos moviam-se com lentidão, como se cada gesto preparasse um ritual silencioso. O celular vibrou ao fundo sobre a penteadeira.

📲 “Quero você no dia anterior ao casamento. Como se fosse a última vez.”

Ela leu, e um sorriso lento curvou seus lábios, carregado de ironia e veneno. Digitou com calma:

📲 “Será. Porque no dia seguinte… serei só uma lembrança. Uma lembrança viva. No seu corpo. No seu olhar. Na sua vida.”

Seus olhos, refletidos no espelho, estavam frios. Belos. Implacáveis.

Sobre a poltrona, uma caixa de seda descansava aberta, revelando o vestido que ela usaria no dia da fuga: vermelho. Liso. Justo. Intenso como o desejo. Afiado como uma promessa não cumprida.

Porque Rubi não queria ser noiva. Nem esposa.

Ela queria ser o escândalo que ninguém jamais conseguiria apagar.

🎨 Loreto

• Idade: 32 anos

• Profissão: Maquiador, cabeleireiro e dono de um salão em Higienópolis

• Origem: Amigo de infância de Rubi

• Aparência: Estiloso, roupas coloridas, fala afiada e presença marcante

• Personalidade: Leal a Rubi até o fim, mas com limites éticos sutis

• Ponto fraco: Seu afeto genuíno por Rubi o torna vulnerável às manipulações dela

• Segredos: Forjou documentos, auxiliou no plano da fuga e sabe de tudo sobre o caso com Heitor

• Relacionamentos:

• Melhor amiga e cúmplice: Rubi

• Cliente favorita: Maribel (com culpa no coração)

• Rivalidade velada: Cristina (por julgá-lo)

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!