Capítulo 4 —
O salão de alta costura tinha cheiro de champagne rosé e promessas costuradas à mão. Ao fundo, um piano tocava algo suave e francês. Maribel girava lentamente diante dos espelhos com um vestido tomara que caia, rendado, que abraçava sua cintura com doçura. A prótese, disfarçada sob a saia em camadas, era quase invisível — ao menos para quem não sabia onde olhar.
— Você está linda, florzinha… — disse Rubi, ajeitando o véu com delicadeza. Seu sorriso era um poema. O olhar, uma vírgula com veneno.
— Fico nervosa só de imaginar todos me olhando naquele altar — confessou Maribel, olhando para a amiga com olhos marejados.
Rubi (sussurrando, suave como brisa):
— Todos vão olhar, sim. Mas ele… ele só vai ver você.
(💭Ou pelo menos, vai fingir que vê. Porque àquela altura, já vai ter decorado cada pedaço meu.💭)
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Mais tarde, na entrada do ateliê…
Heitor aguardava de terno azul-marinho, celular na mão, semblante impaciente. Quando Maribel saiu radiante, ele abriu um sorriso automático. Mas só até Rubi aparecer.
Ela desceu as escadas como se o mundo estivesse em câmera lenta.
Vestido branco ajustado, casaco de couro caindo dos ombros, salto vermelho. Os olhos cobertos por óculos escuros, que tirou com um movimento calculado.
— Está divina, não é? — disse Rubi, entregando a bolsa de Maribel com um meio sorriso.
Heitor engoliu seco. O desejo bateu no estômago como uma culpa quente.
— Sim… divina. — respondeu, sem saber a quem se referia.
— Vamos jantar? — disse Maribel, animada, entrelaçando o braço ao do noivo.
— Eu vou pegar um táxi. Tenho e-mails da bolsa de estudos pra responder — despediu-se Rubi, beijando o rosto da amiga.
Heitor lançou um último olhar. Rubi respondeu com outro, mais longo, mais cortante.
(💭Você ainda vai me desejar com tanto desespero que vai implorar pra fugir.💭)
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A Última Porta Fechada
Na manhã seguinte ao ensaio, Rubi descia as escadas da mansão dos Duarte com sua elegância habitual. Saia plissada bege, blusa de seda branca, óculos de sol e uma bolsa vermelha de grife.
Estava prestes a sair quando ouviu a voz cortante de Dona Gertrudes, vindo do corredor:
— Vai sair assim tão cedo, senhorita Rubi?
Ela virou-se lentamente.
— Bom dia, Dona Gertrudes. Tenho compromissos na universidade.
— É claro… compromissos — murmurou a governanta. — Mas me diga: por que será que seus compromissos sempre coincidem com os horários do doutor Heitor?
Rubi arqueou uma sobrancelha.
— Coincidência. A cidade é grande, mas os caminhos se cruzam.
Dona Gertrudes deu um passo à frente.
— Eu conheço moças que se fazem de joia rara, mas por dentro… são vidro rachado. Minha menina é doce demais pra ver a serpente quando ela usa salto e perfume francês.
Rubi manteve o sorriso, mas os olhos arderam.
— E a senhora é o quê? A pastora do jardim?
— Eu sou quem viu Maribel antes da dor, antes da prótese, antes de tudo. E sei reconhecer quem tenta destruir um coração bom. O que você planta, um dia colhe. E às vezes… colhe com espinhos.
Rubi aproximou-se. A voz saiu baixa, firme.
— Eu sou quem arranca o jardim e redesenha tudo. Com sangue, se for preciso.
E antes de sair, deixou no ar um último sussurro:
— Que pena. Você cuida da sua “menina” como se ela fosse frágil… mas vai ser ela quem vai despencar primeiro.
Dona Gertrudes, do alto de seus anos, ficou ali, sozinha.
— Que Deus proteja minha menina… porque o inferno já passou por essa porta.
E Dona Gertrudes… ficou parada, silenciosa, com o coração pesado. Porque naquele instante, ela entendeu: o casamento de Maribel não seria o começo de um conto de fadas.
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No Flat da Perdição
Naquela noite, Heitor bateu à porta do flat de Rubi. Camisa branca, blazer escuro, olhos nervosos.
Ela o esperava de robe acetinado vinho, descalça, música francesa ao fundo. Quando abriu a porta, não disse nada — apenas sorriu.
Heitor entrou sem hesitar.
— Você vai se casar em menos de duas semanas — disse ela, encostando-se à bancada com uma taça de vinho.
— Cala a boca. Só… deixa eu te olhar — respondeu ele, já se aproximando.
Rubi (desamarrando o robe):
— Olhar? É só isso que você quer?
Ele a beijou com fúria. A taça caiu e se espatifou no chão. Suas mãos a prensaram contra a parede. Ela gemeu baixo.
E foi ali que ele murmurou com raiva contida:
— A família da Maribel me dá náuseas.
Rubi (entre sorrisos e suspiros):
— Então eu serei seu antídoto.
Na cama, Rubi o montou com firmeza, as unhas cravadas em seus ombros, o corpo ritmado com precisão. Ele sussurrava o nome dela como se queimasse. E ela apenas respondia:
— Isso. Diz meu nome como se fosse sua última salvação.
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Dias depois, Rubi acompanhou Maribel para escolher as alianças. Estavam numa joalheria luxuosa no Itaim.
— Essa aqui… — disse Rubi, indicando uma com diamantes cravados em ouro branco. — É tão vocês. Forte. Brilhante. Rara.
Maribel (encantada): — Ele vai gravar uma frase secreta pra mim. Nem imagino qual seja.
Rubi (pensamento):
(Espero que seja curta. Afinal, depois de mim, nem aliança segura um homem.)
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Na mansão, Arthur discutia com Cristina sobre os detalhes do casamento. Ela, desconfiada de Rubi; ele, apenas ansioso por ver a filha feliz.
No quarto, Maribel sonhava com flores.
No flat, Rubi sonhava com o vestido branco… mas em outra igreja. Outro país. Outro nome.
E Heitor? Heitor lia um post-it deixado por Rubi em sua agenda:
🖋️ “O altar é longe quando a cama está perto. Já escolheu pra onde vai correr?” — R.
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Faltam 10 dias.
E o paraíso está cada vez mais perto de virar um inferno.
🧵 Cristina
• Idade: 34 anos
• Profissão: Professora de escola pública
• Origem: Irmã mais velha de Rubi, filha de Dona Rosário
• Aparência: Morena, cabelos presos em coque, olhar cansado e austero
• Personalidade: Honesta, batalhadora, responsável e protetora
• Ponto fraco: A filha Fernanda e o medo de repetir os erros da juventude
• Relacionamentos:
• Irmã: Rubi \(a quem desconfia e tenta proteger ao mesmo tempo\)
• Par romântico: Caetano
• Filha: Fernanda
• Mãe: Dona Rosário
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Atualizado até capítulo 35
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