Capítulo 4 – O Nome Que o Coração Não Esqueceu

Ele estava ali. Em pé, diante da porta entreaberta, respirando com dificuldade, como se reunir coragem para atravessar aquele limite físico fosse mais difícil do que qualquer distância.

Os olhos escuros fixos nos dela. A mesma intensidade dos sonhos. A mesma expressão marcada por saudade, dor e esperança. Ele não parecia um estranho — ao contrário, seu rosto despertava uma familiaridade crua, visceral. Era como olhar para algo que esteve perdido por tempo demais… e de repente voltava.

— Quem é você? — a pergunta de Isadora saiu em um sussurro, mas não por falta de força. Era o medo da resposta que pesava.

Ele deu um passo para dentro do quarto e fechou a porta com delicadeza, como se temesse que qualquer movimento mais brusco pudesse quebrá-la.

— Meu nome é Leonel — disse, com a voz rouca. — E você me amou mais do que qualquer coisa nesse mundo.

Isadora sentiu um arrepio correr pela espinha. O nome provocou algo. Um eco. Um sussurro distante.

Leonel.

Era como se aquela palavra tivesse estado enterrada sob pedras pesadas, esperando ser libertada.

— Eu… não lembro — disse, com dificuldade, como se pedir desculpas.

Leonel assentiu com um sorriso amargo.

— Eu sei. Não te culpo. Eu só… não sabia mais o que fazer. Ninguém deixava eu chegar perto de você. Daniel… ele te isolou de tudo.

— Por quê?

Ele se aproximou um pouco mais, parando a poucos passos da cama. Não ousava tocá-la.

— Porque você o deixou. Um mês antes do casamento. Você descobriu coisas sobre ele… coisas sérias. E veio pra mim. Queria recomeçar. A gente ia sair da cidade. Começar de novo. Só que… você desapareceu antes de conseguir.

Isadora sentiu a cabeça latejar. Uma confusão dolorosa se formava dentro dela. As memórias ainda não vinham, mas a angústia… sim. Aquilo fazia sentido, mesmo que ela não pudesse provar.

— E por que ninguém me contou isso?

Leonel deu uma risada fraca, sem humor.

— Porque Daniel tem dinheiro. Influência. Ele controlou tudo. Os médicos. A narrativa. Disse que você tinha surtado, que eu era um problema do passado. Que não queria mais me ver.

Ela fechou os olhos. A carta. Os vídeos. Os sonhos.

Tudo parecia se alinhar, como peças de um quebra-cabeça finalmente empurradas para o lugar certo.

— Por que você veio agora?

Ele hesitou. Tirou do bolso algo dobrado. Um papel.

Era uma cópia da carta que ela havia recebido.

— Porque eu soube que você acordou. E alguém lá dentro teve coragem de me avisar. Eu escrevi isso e pedi para deixarem no seu caminho. Era a única chance de você me ouvir antes que ele te cercasse de novo.

Isadora pegou a folha, sentindo o coração apertar. As mãos dele tremiam, mas ele parecia se segurar com todas as forças.

— Você veio escondido?

— Sim. Se Daniel souber que eu estive aqui… — Ele desviou o olhar. — Ele vai fazer de tudo pra te afastar. Talvez até pior.

A intensidade da afirmação a fez estremecer.

— O que você quer de mim, Leonel?

Ele a olhou nos olhos, sem hesitar:

— Nada. Só quero que você lembre. Porque se você lembrar… vai saber o que é verdade.

O quarto mergulhou em silêncio. E por um instante, Isadora se sentiu flutuar entre dois mundos. O presente que lhe foi dado… e o passado que lhe foi arrancado.

Antes que ela pudesse responder, passos apressados ecoaram no corredor.

Leonel arregalou os olhos.

— É ele. Eu tenho que ir.

— Espera! — ela se ergueu na cama.

Ele hesitou por um segundo, então tirou uma corrente fina do pescoço. Havia um pingente em forma de bússola.

— Você me deu isso — ele disse, entregando. — Disse que eu era seu norte, quando tudo parecia perdido. Espero que ainda seja.

Colocou a corrente na mão dela, fechando os dedos ao redor.

Então desapareceu pela porta lateral, pouco antes de Daniel entrar.

— Isadora? — disse ele, entrando com uma sacola. — Você está bem?

Ela olhou para ele, com a corrente escondida na palma da mão, o coração acelerado e uma nova consciência queimando dentro de si.

— Estou… começando a ficar.

—