O dia seguinte amanheceu cinzento, com nuvens pesadas encobrindo o céu. Do quarto no sexto andar, Isadora observava a cidade através da janela, como se esperasse que alguma rua, prédio ou detalhe disparasse uma lembrança. Mas tudo parecia... estrangeiro.
Ela mal dormiu. O sonho — se é que podia chamar assim — ainda ecoava nela. Era vívido demais. Real demais. A sensação da chuva molhando seus cabelos, o calor das mãos que seguravam seu rosto, o tom desesperado da voz que suplicava para que ela não esquecesse.
Mas o rosto dele… ainda era uma névoa.
Alguém bateu suavemente à porta.
— Com licença? — uma enfermeira loira, de sorriso gentil, entrou com uma prancheta em mãos. — Oi, Isadora. Trouxe seu café e vim fazer alguns testes de memória.
Ela assentiu em silêncio, ainda olhando a cidade.
A rotina dos testes já havia começado no dia anterior. Palavras simples para repetir. Imagens para reconhecer. Datas, nomes, números. Tudo se confundia na cabeça dela. Era como tentar montar um quebra-cabeça com peças de outros jogos.
— Você se lembra da sua profissão?
Isadora franziu o cenho.
— Eu… acho que era designer. Algo com criação. Imagens. Mas… não sei com certeza.
A enfermeira anotou algo.
— E o nome do seu noivo?
Isadora engoliu em seco.
— Daniel.
— Ótimo. E qual a última lembrança nítida que tem?
Ela hesitou. Respirou fundo.
— Eu estava no aeroporto. Com as minhas amigas. Íamos viajar para comemorar meu aniversário. Era junho. E… depois disso, nada.
A enfermeira sorriu com doçura, embora houvesse compaixão no olhar.
— O médico vai vir te ver mais tarde. E seu noivo também disse que vem no fim da tarde, como ontem. Ele está muito dedicado a você.
Isadora forçou um sorriso, mas assim que ficou sozinha, o vazio reapareceu.
Ela não duvidava da bondade de Daniel. Ele parecia gentil, carinhoso, cuidadoso. O tipo de homem que qualquer mulher gostaria de ter ao lado. Mas havia uma lacuna entre a lógica e o coração. Ela simplesmente não sentia o que deveria sentir. Nenhum frio na barriga. Nenhuma urgência no toque. Nenhuma lembrança despertando.
E pior: quando ela fechava os olhos, o rosto que queria ver não era o de Daniel.
Naquela tarde, enquanto caminhava lentamente pelos corredores do hospital com ajuda de uma fisioterapeuta, Isadora parou diante de um quadro decorativo na parede: uma fotografia em preto e branco de um campo aberto, onde um casal corria em direção um ao outro.
Foi apenas um segundo.
Mas a imagem ativou algo.
Seu coração bateu forte. E, de repente, ela ouviu a voz novamente, nítida, como se estivesse dentro dela:
"Você prometeu... você disse que nunca ia me deixar."
Ela levou a mão ao peito, os olhos marejados.
— Está tudo bem? — perguntou a fisioterapeuta, preocupada.
Isadora balançou a cabeça, sem conseguir explicar. Como explicar que estava sendo assombrada por memórias que não pareciam inventadas?
Ela precisava entender. Precisava encontrar respostas.
Mais tarde, no quarto, Daniel chegou com flores nas mãos e um sorriso cansado.
— Trouxe suas favoritas — disse, depositando um buquê de lírios brancos na mesinha. — O cheiro te acalma. Sempre dizia isso.
Ela agradeceu com um aceno. Estava mais calada que o normal, e ele notou.
— Está tudo bem? — ele perguntou, sentando-se.
Ela respirou fundo. Precisava perguntar.
— Daniel… você tem fotos nossas? De antes do acidente?
Ele sorriu.
— Claro. Muitas. Você sempre postava no Instagram, e eu também. Eu trouxe seu celular, carregado. Está aí na gaveta. — Ele apontou. — Achei melhor esperar até você se sentir pronta.
Ela assentiu lentamente.
— Posso ver?
— Claro — respondeu ele, se levantando para pegar o aparelho. Entregou-o com cuidado, observando-a com olhos atentos. — Se ficar angustiada… para, tá bem?
Isadora desbloqueou o celular. Sua digital ainda funcionava. Um alívio estranho. Como se uma parte dela ainda estivesse ali.
Começou a rolar a galeria.
Havia fotos com Daniel em restaurantes, em festas, em viagens. Sorrisos, abraços, legendas apaixonadas. Mas… tudo parecia encenado. Como se ela estivesse olhando para uma vida de outra pessoa.
Então, algo a fez congelar.
Entre as fotos com Daniel, havia uma pasta separada. Oculta.
"Arquivo Protegido", era o nome.
Ela clicou. E pediu uma senha.
Franziu a testa.
— Você sabe essa senha? — perguntou a Daniel, tentando parecer casual.
Ele se aproximou e olhou.
— Isso? Não… talvez você tenha protegido algo pessoal. Documentos, talvez. Não lembro de ter visto isso antes.
Isadora disfarçou a decepção.
Mas agora, havia mais uma certeza.
Havia algo que estava sendo escondido.
E ela iria descobrir.
Naquela noite, o sonho voltou.
Só que agora, ele falava seu nome.
"Isadora... você prometeu. Me encontra. Eu te espero. Sempre te esperei."
Ela acordou ofegante, suando frio. E, pela primeira vez, sentiu que talvez… estivesse sendo vigiada.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Maria Silva
O que será que aconteceu com ela e quem é essa pessoa que ela sonha sempre
2025-07-13
1
Maria Silva
qual a história dela?pois já começou no hospital
2025-07-13
0
Cristiane-10 oliveira
está na cara que o Daniel não é o noivo dela !!!!???🤔🤔
2025-07-12
0