No terceiro dia, Isadora já conseguia caminhar sozinha. Seus passos ainda eram lentos, mas firmes, como se cada metro percorrido fosse uma pequena conquista contra o vazio que morava em sua mente.
Daniel apareceu pela manhã, mais cedo do que nos outros dias, com café e uma caixa de bombons que ela, segundo ele, costumava amar. Conversou por alguns minutos, atualizou notícias da família, mencionou um casal de amigos em comum que queria visitá-la — e, antes que ela pudesse responder, ele já tinha recusado por ela.
— Acho melhor você descansar mais um pouco antes de ter visitas — disse com gentileza. — Quando se sentir pronta, eu aviso a todos.
Ela forçou um sorriso e concordou. Mas algo naquele controle todo a incomodava. Havia um cuidado... excessivo. Como se cada passo dela estivesse sendo monitorado com zelo demais.
Quando ele saiu, Isadora decidiu explorar um pouco o corredor do andar. Precisava respirar, pensar longe da cama e da presença constante de Daniel.
Caminhou até a pequena sala de espera ao fim do corredor. Era um lugar simples, com cadeiras estofadas, uma estante de livros empoeirada e uma máquina de café antigo. Havia um quadro na parede com uma paisagem marinha e uma janela larga com vista para o estacionamento do hospital.
Ela se sentou e apoiou as mãos sobre o colo.
Foi quando percebeu algo estranho.
No braço da poltrona ao lado, havia um envelope pardo, amassado nas pontas. Não parecia ter sido esquecido por um funcionário — estava limpo, cuidadosamente deixado ali, como se estivesse esperando por alguém.
Ela olhou em volta.
Ninguém no corredor.
Com hesitação, pegou o envelope. Estava sem remetente. Na frente, escrito à mão com letras firmes, apenas uma palavra:
"Isadora."
O coração dela disparou.
As mãos tremiam quando ela abriu o envelope.
Dentro, havia uma única folha de papel dobrada. Nenhum nome, nenhuma assinatura. Apenas um texto breve, escrito em letras maiúsculas:
VOCÊ NÃO ESTÁ LOUCA. VOCÊ ESTÁ SENDO ENGANADA. VOCÊ NÃO AMA ELE. VOCÊ AMA OUTRO. PROCURE PELA VERDADE ANTES QUE ELE TE FAÇA ESQUECER DE NOVO. EU ESTOU TE ESPERANDO.
Ela leu uma, duas, três vezes. As palavras pulsavam diante dos seus olhos como um grito.
De novo?
"Antes que ele te faça esquecer de novo?"
Ela sentiu o chão sumir sob os pés.
Segurou a carta com força, dobrando-a e escondendo-a no bolso do roupão antes que alguém entrasse. O medo e a adrenalina percorriam suas veias.
Aquilo era real? Alguém estava tentando alertá-la? Ou... era um trote cruel?
Mas no fundo, no lugar onde as memórias pareciam dormir, algo nela acreditou em cada palavra.
Naquela noite, ela fingiu estar dormindo quando Daniel apareceu. Ele a observou por alguns minutos, fez carinho em sua testa, como fazia todas as noites, e então saiu em silêncio. Quando os passos dele sumiram no corredor, Isadora se sentou na cama com rapidez.
Pegou o envelope do bolso da gaveta e leu novamente, com atenção. Virou o papel ao avesso, examinou todos os cantos. Nenhum sinal de quem poderia ter deixado. Mas agora, ela sabia: alguém a conhecia. E alguém estava tentando ajudá-la.
Decidiu voltar ao celular. Precisava ver mais. Buscar pistas, tentar entender. Daniel dissera que não conhecia a pasta protegida — mas ela não acreditava. Tentou senhas simples: sua data de nascimento, seu nome completo, o nome de Daniel... nada.
Mas quando digitou "Salinas23", o arquivo se abriu.
E Isadora sentiu o corpo inteiro gelar.
Lá dentro, havia vídeos. Fotos. Áudios. Todos com o mesmo homem.
O homem do sonho.
Ele tinha olhos escuros, barba por fazer, um sorriso que parecia esculpido nas lembranças que ela ainda não recuperara. Havia um vídeo em que ele a filmava rindo, em um parque, dizendo:
— Se você estiver vendo isso e esqueceu de mim… volta. Eu sou real. A gente era real. Te espero até o fim.
Ela levou a mão à boca, em choque.
Ela o conhecia.
Ela o amava.
E tudo dentro dela gritava que essa era a verdade que tentaram apagar.
Antes de poder assistir ao resto dos arquivos, um barulho no corredor a fez se sobressaltar. Escondeu o celular debaixo do travesseiro.
A porta se abriu.
Mas não era Daniel.
Era ele.
O homem da tela. O homem dos sonhos.
Parado ali, à porta do quarto, como um fantasma que finalmente encontrara o caminho de volta.
— Isadora? — a voz saiu trêmula. — Sou eu…
Ela arregalou os olhos. O coração disparou.
— Quem é você?
Ele sorriu, triste. E seus olhos se encheram de lágrimas.
— Sou o homem que você amava… antes de tudo isso acontecer.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Cristiane-10 oliveira
eu acho que a família dela está por trás desta história! Ela se a noiva do Daniel provavelmente ele é apaixonado por ela !! ( é com a ajuda da família dela está se aproveitando da situação da falta de memória dela)
2025-07-12
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Maria Silva
acho que tem algo ou alguém por trás do acidente e quem fez isso quer que ela perca a memória pra não lembrar da vida dela e esquecer o que passou e Daniel quer alguma coisa com ela ou dela
2025-07-13
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