Capítulo 5

Segunda-feira, 7h32 — Corredores do Colégio Dom Felipe

Os corredores do Dom Felipe sempre foram barulhentos nas segundas-feiras, mas naquela manhã, Patrícia sentia cada passo mais pesado que o normal. Como se cada metro percorrido fosse um lembrete do fim de semana confuso que ela ainda tentava processar.

Passou por alunos pendurando os novos cartazes da eleição — agora com o título em letras garrafais:

"A Grande Decisão: Segunda Votação! Michael x Patrícia"

Como se eles fossem gladiadores e não dois adolescentes emocionalmente bagunçados.

Patrícia suspirou fundo, tentando ignorar os olhares curiosos. Desde sábado, tudo parecia mais exposto. E pior: ela e Michael ainda não tinham se falado desde aquele breve diálogo na calçada da cafeteria.

Ela entrou na sala de aula e sentou-se em seu lugar habitual. Natália se jogou ao lado dela segundos depois, já de olhos atentos.

— E então? — sussurrou. — Como foi o quase-encontro com o Thiago?

— Honesto — respondeu Patrícia, tirando os livros da mochila. — Eu fui sincera com ele. Disse que não conseguiria ser justa estando tão confusa.

— E Michael?

— Fugindo de si mesmo, como sempre.

— E você?

— Tentando fazer de conta que estou só focada na eleição.

— Mas não está.

Patrícia a olhou de lado.

— Natália, e se eu estiver me metendo numa história que não vai dar em nada? E se ele nunca souber o que sente?

— Você já se meteu — a amiga disse, firme. — E talvez ele saiba sim. Só não quer encarar.

Enquanto isso, no pátio, Michael jogava basquete com os amigos. Mas a bola quicava com menos força, os movimentos estavam distraídos e o foco… inexistente.

— Tá jogando como um velho de 80 anos — brincou um dos amigos.

— Tô com sono, só isso — resmungou Michael, pegando a bola e arremessando de qualquer jeito.

Mas era mentira.

Desde sábado, não conseguia dormir direito. Ficava lembrando da cafeteria, do jeito como Patrícia falou com Thiago, da forma como ela o olhou na saída… como se estivesse esperando que ele dissesse alguma coisa importante.

Mas ele não disse.

Porque ele não sabia o que era.

E isso o frustrava mais do que qualquer derrota.

— Vai conversar com ela ou vai continuar se escondendo atrás de joguinhos? — disse Lara, que passava pelo pátio.

Michael ergueu o olhar, surpreso.

— Você ainda tá brava?

— Não — ela respondeu. — Eu só cresci. E tô torcendo pra você crescer também.

E saiu, deixando-o pensativo, outra vez.

Na hora do intervalo, Patrícia estava na biblioteca com Thiago.

— Sabe — ele disse, fechando o livro de biologia —, eu fiquei triste com a sua resposta. Mas entendi. E quero que saiba que ainda gosto da sua companhia.

— Obrigada — ela sorriu. — Isso significa muito.

— E… se um dia você deixar de estar confusa, eu ainda estarei por aqui.

Ela abaixou os olhos. Sentiu um leve aperto no peito. Era estranho: Thiago era tudo que qualquer garota gostaria de ter ao lado. Mas ele não era… ele.

Na sala de aula, Michael observava pela janela enquanto via os dois rindo juntos, no jardim em frente à biblioteca. Um riso leve. Sincero.

Algo nele se incomodou. Mais uma vez.

Mas agora ele não fingia que não sentia.

Só não sabia o que fazer com isso.

Na tarde daquele mesmo dia, a coordenadora anunciou o cronograma da votação final:

— A eleição acontecerá na quarta-feira. Cada um dos candidatos terá três minutos para discursar novamente. Após isso, os alunos votarão imediatamente. O resultado será divulgado no mesmo dia, às 16h.

Patrícia sentiu a pressão aumentar. Estavam a dois dias de resolver aquela disputa — que agora tinha muito mais peso do que a liderança da sala.

Era também um duelo emocional.

Uma tentativa desesperada de manter o controle.

Na noite de segunda, Patrícia escrevia seu discurso no quarto. Cada palavra era pensada com cuidado. Mas, lá no fundo, ela sabia que o que a tirava o sono não era a eleição.

Era Michael.

Era o silêncio dele.

Era a dúvida sobre até onde essa guerra velada entre os dois podia ir antes que tudo desabasse.

Na mesma noite, Michael deitava-se na cama sem tocar no celular. Ignorou os memes que os amigos mandavam, os vídeos de campanha e até as mensagens de Lara — que agora só mandava corações amarelos com ironia.

Fechou os olhos, tentando dormir.

Mas tudo o que via era ela.

O jeito como ela caminhava. Como falava. Como o desafiava desde criança. E, principalmente, o jeito como olhava para ele naquele sábado.

Como se tivesse esperado por algo que ele não foi capaz de entregar.

Ainda.

Terça-feira seria o último dia antes da decisão.

E, no fundo, os dois sabiam: mais do que votos, estava em jogo o que vinha crescendo silenciosamente entre eles há anos.

E dessa vez, ninguém poderia empatar.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!