Capítulo 3

Quarta-feira, 12h32 — Refeitório do Colégio Dom Felipe

O refeitório fervilhava. Literalmente. Entre o barulho das bandejas, o som abafado das conversas e os boatos sobre a nova votação, o clima era de tensão disfarçada de brincadeira. Todos comentavam o empate inédito como se fosse um episódio de reality show.

— Você viu isso aqui? — Natália disse, mostrando o celular para Patrícia. — Fizeram uma enquete online: “Team Patrícia” ou “Team Michael”. Já tem mais de 500 votos.

Patrícia soltou um suspiro, pegando o suco da bandeja. — Viramos novela mexicana, é isso?

— Viraram casal de fanfic, isso sim — zombou Natália. — E, sinceramente, se você não perceber o que tá rolando entre vocês dois, vou te dar um empurrão. Literalmente.

— Não tem nada rolando, Nat — respondeu, olhando automaticamente para a mesa no canto, onde Michael ria com os amigos. Ele parecia despreocupado, o centro de todas as atenções. Como sempre. — Ele nem sabe o que quer. Nem ele entende o próprio jogo.

— E você sabe?

Patrícia não respondeu. Porque, no fundo, também não sabia.

Foi quando uma voz suave surgiu ao lado dela.

— Patrícia?

Ela se virou e deu de cara com Thiago. Sorriso gentil, postura impecável, pasta na mão — o garoto novo que aos poucos vinha ganhando espaço não só na sala, mas também nos pensamentos dela.

— Oi, Thiago — ela sorriu. — Tudo bem?

— Sim. Queria te perguntar uma coisa… — Ele olhou para Natália com certo receio, mas ela se levantou antes mesmo que ele terminasse a frase.

— Vou buscar sobremesa. Fiquem à vontade. — E saiu com um sorrisinho maroto.

Thiago pigarreou. — Eu estive pensando... você tem sido muito gentil comigo desde que cheguei. E eu queria agradecer isso. Mas também... queria aproveitar a chance.

— Que chance?

— De te conhecer fora daqui. Sem pressão, sem livros. Só… uma saída. Um café, talvez?

Patrícia hesitou. A proposta a pegou de surpresa, embora ela soubesse que cedo ou tarde ele faria esse convite. Thiago era gentil, educado, bonito. Tudo nele parecia seguro. Equilibrado. Correto demais, talvez.

— Eu... não sei se vou estar livre no sábado — ela disse, com honestidade.

— Eu estarei no Doce Refúgio, às 14h. Se você quiser aparecer… vai ser ótimo.

Ela assentiu, ainda digerindo a situação, quando sentiu um arrepio na espinha. Não precisou olhar para saber. Michael estava atrás dela.

Michael vinha caminhando entre as mesas quando viu Thiago inclinado sobre Patrícia. A forma como ela sorriu, a postura aberta… aquilo fez algo dentro dele se contrair. De novo.

Ele ainda não sabia nomear o que sentia. Era incômodo. Era inquietação. Era aquela estranha vontade de interromper o momento, de dizer que ela estava perdendo tempo com alguém sem graça.

Mas ele não podia dizer isso.

Não era nada dela. E ela não era nada dele.

Ele passou por trás da mesa fingindo ignorar, mas quando avistou uma garota da turma do segundo ano — Lara, se não se enganava — com a bandeja na mão, aproveitou a deixa.

— Lara — chamou, com um sorriso despreocupado.

Ela parou surpresa. — Oi… Michael?

— Amanhã, às 14h. Doce Refúgio. É um encontro — disse, do nada, alto o suficiente para Patrícia ouvir.

Lara arregalou os olhos, surpresa e claramente sem saber o que estava acontecendo, mas sorriu. — É… claro!

Michael piscou, como se nada fosse demais, e seguiu em frente, saindo do refeitório como se tivesse acabado de comentar a previsão do tempo.

Patrícia observou tudo com os olhos semicerrados.

— Que idiota — murmurou.

— O quê? — perguntou Thiago.

— Nada.

Mais tarde, sentada com Natália no pátio, Patrícia contou o que aconteceu.

— Ele marcou um encontro só pra me provocar. Você precisava ver a cena. Nem sabia o nome da garota até ontem!

— E você vai no sábado?

— Não sei.

— Se você não for por interesse, vá por justiça. Mostra que a vida não gira ao redor de Michael.

Patrícia ficou em silêncio.

Era isso que ela queria?

Mostrar algo? Provar algo?

Ou fugir do que estava começando a sentir?

Enquanto isso, no vestiário da quadra, Michael girava a bola nas mãos, com a testa suada, o corpo cansado… e a mente ainda mais.

Lara? Sério? O que ele tinha na cabeça?

Ele não gostava dela. Mal conversavam. Mas a ideia de ver Patrícia indo a um encontro com Thiago parecia mais insuportável do que fingir interesse por outra pessoa.

E ele odiava isso.

Odiava não entender o próprio coração.

Talvez o problema fosse esse: com Patrícia, ele nunca teve controle. Ela o desafiava. Fazia ele perder o ritmo. E, por algum motivo, fazia tudo nele girar como se o mundo inteiro estivesse prestes a virar de cabeça pra baixo.

Naquela noite, Patrícia encarava o celular com a notificação piscando:

Thiago: “Te espero amanhã. 14h. :)”

E, no fundo, sentia que estava entrando em um jogo perigoso.

Não com Michael.

Mas com o próprio coração.

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