Pontualmente às 17h.
Ela entrou.
Desta vez, sem guia, sem anúncio, sem hesitação.
Júlia Moreau atravessou a porta do meu escritório com a mesma postura que eu só via em investidores experientes e chefes de conselho.
Saia preta justa, com uma fenda discreta que revelava parte da coxa cada vez que ela cruzava as pernas com naturalidade.
Camisa de seda vinho, com um decote sutil — apenas o suficiente para insinuar a linha do colo, sem escancarar.
Nada vulgar. Nada exagerado. Mas cada peça parecia feita para me testar.
O cabelo estava preso com perfeição milimétrica, mas algumas mechas escapavam com leveza, emoldurando o rosto com charme calculado.
Ela não se vestia apenas para impressionar.
Ela se vestia para provocar.
Para perturbar o equilíbrio de quem achasse que estava no controle.
Eu estava de pé, ao lado da estante de vidro, revisando relatórios que não consegui terminar ao longo do dia — não por falta de tempo, mas de foco.
Ela me tirou o foco. Desde cedo.
— Sr. Santoro — disse, com um leve aceno de cabeça. — Me disseram que queria uma conversa de alinhamento.
— Feche a porta, por favor — respondi, virando-me devagar.
Ela obedeceu. Sem pressa. Quando se virou, tinha aquele leve sorriso nos lábios.
Um sorriso que dizia “sei o que estou fazendo” e “duvido que você saiba lidar”.
Sentou-se, cruzando as pernas com elegância. A fenda recuou um pouco mais.
Minha caneta estava firme. Mas os olhos… esses precisavam de contenção.
— Gostei do seu desempenho com o Sr. Moretti — comecei. — Mas ainda tenho dúvidas se você é a pessoa certa para trabalhar ao meu lado.
— O senhor costuma decidir isso com base em currículo ou teste de resistência? — rebateu, tom neutro, como se falasse do clima.
— Com base em como a pessoa lida com pressão. Autoridade. Limites.
— E com desejo?
Silêncio.
Eu a encarei.
Ela não piscou.
— Ou nunca confundiu essas coisas? — completou, recostando-se na cadeira.
Teste.
Claro que era um teste.
Queria saber se eu era como os outros, se desmoronaria diante de uma provocação.
Mas não. Eu sou diferente. Pelo menos precisava ser.
— Meu interesse aqui é profissional, Srta. Moreau. Minha empresa não é lugar para joguinhos.
— Ainda bem. Detesto jogos. Mas adoro observar quem tenta escondê-los — disse, sorrindo leve.
Levantei-me, caminhando até a frente da mesa.
— Suponha que eu a contrate. Sabe o que será exigido?
— Excelência. Sigilo. Frieza. Imparcialidade.
— E o que entrega?
— Tudo isso. Com um detalhe extra: entrego resultado até quando ninguém acredita ser possível. E com classe.
— Heitor mencionou que fala cinco idiomas — disse, recostado. — Quero ouvir.
Júlia inclinou a cabeça, como desafiando um jogo que já sabia vencer.
— Inglês, francês, espanhol, italiano e coreano.
— Fale uma frase em cada — pedi, casual, com olhar atento.
Ela cruzou as pernas lentamente, apoiou uma das mãos na coxa e começou:
— “Sometimes, what you don’t say is louder than what you do.”
(Às vezes, o que você não diz fala mais alto do que o que você diz.)
Sua voz em inglês era clara, afiada, com frieza calculada.
— “Il controllo è un’illusione che pochi sostengono davvero.”
(O controle é uma ilusão que poucos sustentam de verdade.)
O italiano soava como uma provocação direta. Uma cutucada ao meu ego.
— “El poder no siempre está en quien manda, sino en quien observa.”
(O poder nem sempre está em quem manda, mas em quem observa.)
No espanhol, o tom era mais macio. Quase sensual.
— “Le silence est une forme d’intelligence.”
(O silêncio é uma forma de inteligência.)
Em francês, cada palavra parecia dançar com precisão cirúrgica.
Então ela se inclinou para frente, os olhos presos aos meus, e murmurou em coreano:
— “당신은 나를 이해하지 못하지만, 나는 당신을 이미 읽었어요.”
(Você não consegue me entender, mas eu já li você por completo.)
Fiquei em silêncio.
— Traduza — pedi, mesmo já pressentindo.
Ela repetiu, sem tirar os olhos dos meus:
— “Você não consegue me entender, mas eu já li você por completo.”
Sorriu. Sem arrogância. Só certeza.
Aquilo incomodava mais do que uma sedução aberta.
Ela não precisava tentar. Já tinha vencido o primeiro round.
Não se moveu. Não recuou. Nem um centímetro.
Apoiei as mãos na mesa. Nos encaramos.
Dois estrategistas. Dois polos opostos com uma tensão invisível entre eles.
Não disse mais nada. Apenas estendi a mão.
— Bem-vinda à Luxxo, Srta. Moreau.
Ela se levantou, apertou firme e respondeu:
— Vai ser um prazer... trabalhar tão perto do senhor.
Seus olhos desceram aos meus lábios antes de soltar a mão.
Quando saiu, o silêncio era ensurdecedor.
Sentia o cheiro dela no ar. A presença não se foi.
E naquele instante, mesmo sem admitir...
Eu soube.
Ela não era só mais uma.
Ela era o risco.
O tipo que faz você perder o controle... devagar, até não conseguir mais recuperá-lo.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Maria Das Graças Nogueira Da Silva Barreto
Iniciando a leitura 19/07/25. Já estou gostando. 🥰🥰🥰🥰
2025-07-20
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Anonymous
Inicialmente 20/07/2025 👏👏
2025-07-20
1