— Antes do Primeiro Dia

A porta do elevador se abriu lentamente no 39º andar da Luxxo. Júlia Moreau respirou fundo e cruzou o limiar com a segurança de quem sabe exatamente o que quer. O escritório era moderno, minimalista, porém imponente — e todo o peso daquele ambiente parecia pulsar em sincronia com seu próprio ritmo acelerado.

Do outro lado da sala, Eduardo Santoro observava. Seu terno impecável, a postura ereta, o olhar frio que já havia derretido sob o charme daquela mulher na entrevista, agora precisava segurar a respiração para não perder o controle. Um leve apertar da mão, um movimento contido nos olhos denunciavam o conflito interno que ele lutava para esconder. Cada passo dela cortava o ar com uma energia invisível, uma tensão que só aumentava quando seus olhares se encontravam.

Sem palavras, trocavam uma comunicação muda, um jogo de poder sutil, cheio de perguntas não ditas.

— Bem-vinda à Luxxo, Srta. Moreau — ele disse, a voz firme e controlada, quase um convite e uma ordem ao mesmo tempo.

— Obrigada, Sr. Santoro. Espero corresponder às expectativas — respondeu ela, com aquele leve sorriso que desafiava qualquer dúvida e a postura atenta que absorvia cada detalhe do ambiente, já calculando suas primeiras jogadas.

Os minutos seguintes foram um misto de apresentação rápida, orientações e protocolos. Júlia assimilava tudo, analisando cada movimento, cada regra não dita.

Quando o telefone tocou na mesa dele, o convite oficial para a reunião com investidores asiáticos veio.

— Precisamos que você esteja comigo nessa — Eduardo avisou, encarando-a.

— Claro — ela respondeu, sem hesitar.

Na sala de reuniões, o ambiente mudou. A tensão profissional se misturava com a eletricidade de uma parceria que começava a se formar. Júlia assumiu seu lugar ao lado de Eduardo, suas mãos calmas sobre a mesa, pronta para dominar.

Ela traduziu perguntas, explicou detalhes técnicos com fluência, e, com simpatia e autoridade, conduziu o grupo por cada ponto da apresentação financeira. Quando o grande investidor, impressionado, lançou um olhar para ela, Júlia respondeu com um sorriso discreto, porém carregado de significado — uma provocação silenciosa que Eduardo percebeu e valorizou.

Enquanto ela conduzia a reunião, Eduardo sentiu pela primeira vez que sua escolha tinha sido mais que acertada. Júlia não era apenas um braço direito — era uma peça vital no tabuleiro que ele dominava.

E naquele dia, entre gráficos, negociações e trocas de olhares, algo mais começou a nascer.

A reunião já havia terminado, e a maioria dos investidores começou a se dispersar pelo elegante lounge da Luxxo.

Júlia arrumava calmamente seus papéis quando um homem alto, de terno cinza claro, se aproximou. Olhos atentos, sorriso confiante.

— Srta. Moreau, posso roubar um minuto? — disse ele, estendendo a mão.

Ela levantou o olhar, o sorriso afiado.

— Claro. O que deseja?

— Meu nome é Ricardo Tanaka. Trabalho com fundos de investimento na Ásia. Estive observando sua atuação hoje. Impressionante.

Ele falou com voz baixa, mas firme.

— Quero fazer algo diferente. Um investimento direto com você.

Júlia arqueou uma sobrancelha- tom provocativo

— Investimento direto? Diga-me, Ricardo, qual seria a garantia de que posso confiar?

Ele sorriu, confiante.

— Você acabou de mostrar mais do que competência. Mostrou controle, visão e poder.

Ela caminhou lentamente até a janela, olhando a vista de Manhattan antes de responder:

— Investir em mim é investir no futuro da Luxxo. Mas saiba que não aceito parcerias sem reciprocidade.

Ricardo sorriu, um brilho nos olhos.

— Essa é a melhor resposta que ouvi hoje.

Enquanto isso, Eduardo observava a cena do outro lado da sala, os braços cruzados, o olhar penetrante. Um suspiro quase imperceptível escapou, e ele voltou a se controlar rapidamente.

A tensão aumentava. Não era só negócio. Era um jogo.

E Júlia acabara de virar uma peça fundamental.

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