Narração: Eduardo Santoro
Ela passou por mim como se soubesse exatamente o efeito que causava.
Perfume sutil, mas marcante. Olhar firme. Queixo erguido. Rosto indecifrável.
Por um segundo — apenas um — eu esqueci o que tinha vindo fazer naquele andar.
A mulher que saiu da sala do Heitor não era só bonita.
Ela era presença.
Do tipo que ocupa espaço sem pedir.
Do tipo que aprendi, com o tempo, a evitar.
Assim que a porta se fechou, entrei.
— Quem era?
Heitor recolhia papéis, tentando disfarçar o impacto evidente.
— Júlia Moreau. Candidata à vaga de secretária executiva. Fluente em cinco idiomas, passagem por multinacionais, liderança em negociações externas, e…
Ele falava, mas minha mente ainda estava presa no olhar dela.
A forma como não piscou. Como não baixou os olhos.
Ela não me viu como superior.
Ela me leu. Me testou.
— …e tem personalidade forte. Diferente. Parece saber exatamente o que dizer e como se portar — concluiu, cruzando os braços.
— Percebi — murmurei, indo até a janela.
A cidade parecia distante. Quieta demais.
O oposto do que aquela mulher representava.
Júlia Moreau.
Nome forte. Postura afiada.
Provocante, mesmo sem dizer uma palavra fora do lugar.
— Impressionou você — comentei, sem disfarçar a provocação.
Heitor riu, meio contido.
— Ela causa isso. Mas é mais que aparência. Tem consistência. Está à altura do que você precisa ao seu lado.
Ele estava certo.
Mas eu também sabia o risco.
— Preciso de alguém que se encaixe no ritmo da empresa. Não que vire o centro dela.
— Ela sabe se colocar. E sabe se destacar. Pode ser útil. Ou perigosa. Mas acho que vale o risco.
O silêncio que seguiu foi longo o suficiente pra eu ouvir minha própria respiração.
Ela mexeu comigo.
E eu odeio admitir isso.
Por isso mesmo, não vou delegar essa decisão.
— Marque uma nova conversa com ela — disse, virando-me de volta.
Heitor piscou.
— Você quer… entrevistá-la?
— Se ela vai ficar sentada na minha sala, dia após dia, quero mais que o currículo. Quero ler a cabeça dela. Entender os limites.
E, por dentro, eu queria vê-la de novo.
As curvas.
A voz.
O cheiro.
Queria analisar de perto aquela mistura perigosa de sutileza e ousadia.
Heitor assentiu.
— Ainda hoje?
— Ainda hoje. Traga ela ao meu escritório no fim da tarde. Diga que é apenas um alinhamento. Nada formal. Vamos ver como ela se comporta… sem script.
Quando ele saiu, fiquei alguns minutos sozinho. Encostei na mesa. Fechei os olhos.
Não era só atração.
Era o fato de que ela me enxergou.
Não como CEO.
Não como chefe.
Mas como homem. Como desafio.
E o pior?
Ela parecia disposta a ganhar esse jogo.
Mas eu sou Eduardo Santoro.
E controle é a única coisa que nunca perdi ainda.
Heitor já havia saído. A sala estava em silêncio.
Deveria estar lendo os relatórios sobre o lançamento da nova campanha internacional. Ou fechando o contrato com o grupo asiático. Mas minha mente não voltava para nada disso... voltou pra ela.
Júlia Moreau...
A mulher que entrou na minha empresa com a naturalidade de quem já era parte dela.
Me levantei, caminhei até o bar, servi um pouco de whisky com gelo. Coisa leve. O suficiente pra cortar o ruído da inquietação
-Voltei à mesa, peguei o celular, um gesto quase automático. Só queria saber… quem era ela fora daqui.
Instagram.
Busca.
@juliamoreau_
Perfil aberto. Óbvio.
As primeiras fotos eram exatas como ela: organizadas, pensadas, bonitas sem esforço.
Cafés bem iluminados. Jantares sofisticados. Um salto na calçada. Um vinil tocando. Sempre sozinha, sempre dona da cena.
Tudo limpo, quase estratégico.
Continuei rolando.
Até que parei.
Uma festa...
O enquadramento era preciso demais pra ser casual. Alguém a fotografou — mas ela sabia. Estava preparada pra ser vista.
Vestido amarelo. Extremamente curto.
Na altura do quadril, o cós subia como se desafiando o limite do aceitável.
No busto… nada além do tecido fino. Sem sutiã.
Os seios marcavam o pano como dois pontos de exclamação silenciosos. O bico visivelmente saliente. Duros.
Ela usava óculos escuros à noite.
O cabelo solto caía em camadas perfeitas sobre os ombros.
A boca entreaberta, como se dissesse vem, mas não tão fácil.
Uma linha entre o proibido e o elegante.
Nenhuma legenda.
Porque ela sabia.
Sabia o que aquela foto fazia. Sabia o que causava.
E, mais ainda, sabia quem teria coragem de rolar até lá.
Bloqueei o celular, deixando-o de lado.
Controle.
É disso que eu vivo.
Mas naquela tarde, às 16h38, eu tive que admitir — nem sempre é disso que eu respiro.
Olhei para o relógio.
Faltavam vinte e dois minutos para ela entrar naquela sala.
E, por mais que eu não deixasse transparecer nada…
ela ia saber.
Ela sempre sabe.
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Atualizado até capítulo 31
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