O carro parou diante de uma casa grande e sem vida.
Sem flores. Sem janelas abertas.
Parecia mais uma construção abandonada do que um lar.
Mas ali seria o novo “lugar” de Aoi.
Ren desce primeiro, acende um cigarro e espera, encostado no capô, como se não tivesse acabado de comprar alguém.
Ren
Leva ele lá pra dentro.
Ren
Quarto dos fundos. Tranca a porta. Não precisa de cama macia pra dormir.
Dois homens o acompanham até o interior da casa. Passam por salas vazias, paredes frias e luzes amareladas.
O quarto é pequeno. A cama é fina, o colchão afundado, sem travesseiros. Há uma câmera discreta no canto superior da parede. Nada mais.
Aoi é deixado ali, sozinho.
Aoi se deita de lado, puxando os joelhos até o peito. A camisa branca está suada. Sua pele coça na área da cintura, a cicatriz ali pulsa discretamente.
Ele fecha os olhos. Mas o sono não vem como antes.
No escuro, ele volta.
Para os corredores escuros.
Para os gritos abafados.
Para as mãos que seguravam forte demais.
[Pesadelo | Flashback distorcido]
Chão frio de concreto… pés descalços… uma mão com anel apertando seu pulso… uma luz estourada no rosto…
Vozes abafadas:
???
Ele é bonito, vai render mais se não quebrar logo.
???
Ele tentou fugir. Marca ele.
Sons de corrente. algo quente descendo pelas costas. dor. sangue.
Aoi grita, mas ninguém ouve. Nem ele mesmo. A voz fica presa na garganta.
Aoi acorda com o corpo encharcado de suor. A respiração está acelerada. O quarto está completamente escuro, exceto por uma luz vermelha piscando suavemente no canto da câmera.
Aoi se senta devagar.
Aoi
Sussurra, sozinho:
Ainda aqui…
Ele passa a mão nos próprios braços, tentando parar o tremor. Olha ao redor.
Ele não consegue dormir novamente. Então, apenas permanece ali, encolhido no canto, encarando o chão.
~Manhã seguinte~
A porta se abre com um estalo seco.
Ren entra no quarto, com uma bandeja nas mãos: arroz simples, sopa, um copo d’água.
Ren
Bom dia, flor do cativeiro.
Aoi nem olha. Continua sentado no mesmo canto, como se a noite tivesse congelado tudo.
Ren
Não vai dizer nada?
Ele coloca a bandeja sobre a pequena mesa encostada na parede.
Ren
Eu vi o que aconteceu essa noite.
Ren
Fica mais bonito quando dorme. Pena que você grita sem som.
Aoi levanta os olhos. Sem medo. Sem raiva. Só vazio.
Aoi
Eu não estou com fome.
Ren
Sorri de lado, quase entediado:
Não perguntei.
Aoi volta a olhar pro chão. As mãos descansam sobre a perna, discretas. A cicatriz na cintura pulsa mais uma vez, escondida sob o tecido amassado da camisa.
Ren
Eu posso te manter vivo sem comida. Mas se morrer, perde o valor.
Ren
Você escolhe, boneco.
Aoi não comeu.
Ren não insistiu.
Mas os olhos dele demoraram um pouco demais no corpo do garoto antes de sair.
Comments
Nix🖤
sua escrita é bonita
2025-07-19
1