Um Dia Como Outro Qualquer

O som do despertador ecoou pela pequena e silenciosa casa às seis da manhã, sendo abafado rapidamente pela mão de Helena. Ela se sentou na cama com um suspiro, esfregando os olhos inchados de sono. Mais um dia começava — e como todos os outros, ela precisava ser mãe, profissional e mulher forte... tudo ao mesmo tempo.

— MAMÃÃÃE! — o chamado duplo, em coro, fez um sorriso surgir antes mesmo de ela abrir os olhos por completo.

Helena calçou os chinelos e caminhou até a sala, onde Estela e Violeta, suas gêmeas de três anos, já estavam acordadas e brigando por um mesmo cobertor.

— Não é justo! Eu acordei primeiro! — resmungou Violeta, de sobrancelha franzida.

— Mas eu tava com frio! — retrucou Estela, puxando a manta de volta.

— Ei, calma, calma. Tem cobertor pra todo mundo aqui. — Helena as separou com delicadeza, dando um beijo estalado nas bochechas das duas. — Bom dia, minhas princesas.

Elas riram e a abraçaram de volta, aconchegando-se ao colo da mãe com aquele calor que fazia qualquer cansaço desaparecer.

Helena levantou e foi até a cozinha preparar o café. Enquanto isso, seus pensamentos voltavam à conversa da noite anterior com Camila, sua irmã mais nova.

— Você já decidiu se vai colocar as meninas na escolinha esse semestre? — Camila havia perguntado enquanto organizava a louça.

— Ainda não. Tô visitando algumas opções perto de casa, mas não quero jogar elas em qualquer lugar — respondeu Helena, preocupada. — Quero uma escola boa, segura, com um ambiente que acolha... E que caiba no meu bolso.

Desde que a antiga creche aumentara as mensalidades, Estela e Violeta estavam em casa sob os cuidados de Camila. Era como umas “férias forçadas” enquanto Helena tentava equilibrar as contas e encontrar um novo lugar confiável para as filhas.

Camila apareceu na sala já de moletom e coque torto no cabelo, segurando uma caneca de café.

— Bom dia. Corre, você vai se atrasar.

Helena sorriu com gratidão. — Valeu, irmã. Vou voar.

Em minutos, vestiu sua calça preta social, um blazer azul e prendeu os cabelos loiros em um coque prático. Deu um beijo nas filhas, pegou a bolsa e saiu às pressas para mais um dia como assistente executiva na Salvatore Corp.

O prédio da empresa era imponente, de vidro espelhado e fachada futurista. Helena entrou como fazia todos os dias, tentando não chamar atenção entre os engravatados. No elevador, subiu até o 23º andar, onde ficava o setor executivo.

Ao virar o corredor, esbarrou em alguém.

A papelada caiu no chão, voando como folhas ao vento. Ela quase caiu, mas foi segurada a tempo.

— Olhe por onde anda — disse uma voz firme e fria.

Helena travou.

Era ele. Dante Salvatore.

CEO da empresa. Imponente. Elegante. Olhos castanhos escuros tão intensos que pareciam ler tudo em silêncio.

— M-me desculpe, senhor — ela abaixou, recolhendo os papéis.

Dante não respondeu de imediato. Apenas a observou. Depois virou as costas e seguiu seu caminho, como se nada tivesse acontecido.

Helena engoliu seco. Ótimo começo de dia.

Algumas horas depois, já perto do almoço, seu celular vibrou.

— Lena, preciso sair urgente. Vou ter que deixar as meninas com você na empresa, tudo bem? — era Camila, aflita.

— Aqui? — Helena arregalou os olhos.

— Não tenho escolha! Já tô descendo com elas.

Pouco tempo depois, Estela e Violeta estavam na recepção, de mochilinhas e olhares curiosos. Helena suspirou, pegou as duas pela mão e as levou para a sala de apoio dos funcionários. Sentou-se com um tablet em mãos enquanto as meninas rabiscavam em folhas de rascunho.

Foi quando a porta se abriu.

Dante.

Ele parou ao ver as crianças. Olhou Helena, depois voltou o olhar para as meninas.

— Quem são?

— Minhas filhas, senhor. Estou com elas só por hoje, foi uma emergência. Me desculpe por isso, eu...

Antes que ela terminasse, Estela se levantou com o desenho na mão e caminhou até ele.

— Você quer ver o meu leão? Eu fiz pra minha mãe, mas posso fazer um pra você também!

Dante, para total surpresa de Helena, se ajoelhou diante dela.

— Um leão? Parece bravo?

— Ele é bonzinho. Mas morde, se alguém for mau.

Dante soltou uma risada baixa e aceitou o papel. Violeta apareceu logo atrás com outro rabisco.

Helena observava, incrédula. O homem que tinha acabado de ignorá-la no corredor agora sorria para suas filhas como se fosse outro ser humano.

Ele se levantou e, antes de sair, olhou para ela com expressão neutra.

— Certifique-se de que não fiquem sozinhas. Por segurança.

E saiu.

Helena ficou ali, paralisada, as meninas sorrindo ao lado dela. O coração batia rápido, mas não era só nervosismo. Era aquela sensação estranha de que, de alguma forma, a vida acabava de dar uma leve — e perigosa — guinada.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!