Naquela noite, Lyanna não conseguiu dormir.
O toque de Kael ainda vibrava na pele como faísca prestes a virar incêndio. Algo dentro dela havia se rompido… ou talvez despertado.
Ela se olhou no espelho — e viu.
Uma marca rubra, em forma de pétala em chamas, havia surgido acima do coração.
No mesmo instante, em outra torre, Kael despertava de um pesadelo com a pele do ombro esquerdo ardendo — e encontrava em si a mesma marca, porém prateada, em forma de garra curva.
Dois símbolos.
Duas Essências entrelaçadas.
Eles não sabiam o que isso significava. Mas os anciãos sabiam.
E estavam com medo.
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Mestre Silen convocou os dois ao amanhecer.
— Isso não deveria ser possível — disse, andando em círculos. — Portadores de Essência tão diferentes... fundindo marcas? É um presságio antigo.
— Um presságio de quê? — perguntou Lyanna.
— De mudança. De fim. Ou renascimento.
Kael cruzou os braços.
— O que fazemos com isso?
Antes que o mestre pudesse responder, os sinos da cidadela tocaram.
Um som que não se ouvia há décadas.
Ataque.
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A floresta de Voldren havia cuspido uma nova criatura.
Não um Eco comum. Mas um Chamado — uma entidade forjada da união de mágoas antigas, desejo de vingança e dor coletiva.
Um ser que só desperta quando o equilíbrio das Essências é ameaçado.
A cidade estava em pânico.
Mas Lyanna e Kael… não hesitaram.
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— Você sente isso? — perguntou ela, montando no cavalo de batalha ao lado dele.
— Como se a marca estivesse puxando para fora algo que não entendo? Sim.
— Então deixa sair.
Eles partiram como raio. A criatura estava entre os portões externos — uma massa de escuridão com olhos múltiplos, bocas abertas e gritos que pareciam vozes de lembranças dolorosas.
Nenhum feitiço comum a feria.
Mas quando Lyanna e Kael se deram as mãos...
As marcas brilharam com força explosiva.
Ela, com sua chama vermelha, criou um arco de luz viva.
Ele, com sua fúria contida, moldou lanças de sombra prateada.
Eles lutaram como se fossem dançarinos antigos, em um balé de poder e entrega.
Quando a criatura os cercou, tentando engoli-los…
Eles uniram as mãos e gritaram juntos:
— Essência selada, pelo amor e dor, queime e liberte!
Uma rajada de energia púrpura explodiu do chão.
O Chamado foi dissolvido em cinzas e luz.
E no silêncio que restou, Kael caiu de joelhos.
— Você me faz lembrar quem eu era… e quem posso ser.
Lyanna se ajoelhou diante dele.
— E você me faz ver que a força verdadeira é saber que não se precisa ser forte o tempo todo.
Ele tocou o rosto dela.
E a conexão entre os dois brilhou com calor.
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Dois corações.
Duas feridas.
Uma marca.
E um destino entrelaçado.
Nos dias seguintes à batalha, as marcas em Lyanna e Kael não desapareceram. Pelo contrário: cresciam, lentamente, como se cada emoção vivida as fortalecesse.
Os anciãos do Conselho estavam em alvoroço. Livros antigos foram retirados das criptas, relíquias esquecidas foram examinadas sob feitiços de revelação. E em todas as profecias que falavam da União das Essências, havia um único destino possível:
> “Quando Rosa e Lobo se fundirem, o Véu será rompido.
As verdades enterradas virão à tona.
E o mundo, outrora dividido, clamará por reconciliação ou ruína.”
Silen os convocou.
— Vocês não pertencem mais apenas a Velarim. A fusão ativou um chamado antigo. Ecos foram sentidos além das montanhas, e criaturas que dormiam começaram a despertar.
Kael estreitou os olhos.
— Está dizendo que fomos... marcados para cumprir uma profecia?
— Estou dizendo que vocês dois são a chave de algo muito maior. E para entendê-lo, terão que ir até onde ninguém vai há séculos: As Ruínas de Varyndor.
Lyanna sentiu um arrepio. Varyndor era um nome proibido. Um reino perdido, onde as Essências colapsaram por orgulho e poder.
— Se Varyndor colapsou por tentar controlar o vínculo... — disse ela — o que vai acontecer conosco?
Silen a olhou com pesar.
— Ou vocês quebram o ciclo.
— Ou morrem como os que tentaram antes.
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Na noite anterior à partida, Kael entrou no quarto de Lyanna.
— Você tem certeza? — ele perguntou, encostado na porta. — Não há caminho de volta depois disso.
Ela ergueu os olhos. Não com medo, mas com convicção.
— Eu não quero voltar. Quero saber por que fui chamada. Por que nós dois fomos.
Ele entrou, devagar, como quem teme estragar algo sagrado. Sentou-se ao lado dela.
— E se... no caminho, você descobrir que sou mesmo um monstro?
Ela sorriu, mas seus olhos estavam sérios.
— Então vou te mostrar que monstros também merecem ser amados.
Kael fechou os olhos.
E pela primeira vez, deixou a cabeça descansar no ombro dela.
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Na manhã seguinte, eles partiram.
Montados em cavalos das planícies douradas, com capas que balançavam ao vento e as marcas brilhando sob a pele, Lyanna e Kael cruzaram os portões de Velarim.
O povo os observava em silêncio.
Alguns com medo.
Outros com fé.
Mas todos sabiam: a lenda havia começado.
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Atualizado até capítulo 64
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