O cristal no colar de Lyanna continuava a pulsar suavemente, como um sussurro. Era a primeira vez que ela o sentia tão vivo — como se algo dentro dela, enterrado por anos, estivesse finalmente acordando.
Ela se sentou diante do espelho antigo do quarto e encarou sua imagem. Não via mais a jovem que deixara Mareen, com os olhos cheios de dúvidas e esperança.
Agora, via alguém em transição. Uma faísca prestes a se tornar chama.
Fechou os olhos.
E mergulhou.
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Havia uma câmara de meditação escondida sob a torre leste. Diziam que ali, o tempo era mais lento. O espaço entre o que se sente e o que se é tornava-se tênue.
Ela se ajoelhou sobre o círculo de pedra marcado com runas antigas. Respirou fundo. E deixou o poder fluir.
Imagens surgiram.
🌹 A pequena Lyanna, sentada sob uma macieira, lendo contos sobre heroínas que salvavam reinos com o coração e não com a espada.
🌹 A mesma garota, aos 12, chorando escondida quando o pai disse que sentir demais era fraqueza.
🌹 Aos 16, apaixonada pela primeira vez — por alguém que a viu como um “sonho bonito”, mas nunca quis tocá-la de verdade.
🌹 Aos 19, percebendo que seus sentimentos eram sua força — não sua fraqueza. Que sua empatia, sua paixão, sua coragem de amar profundamente… era o que a tornava rara.
— Você não é só emoção, Lyanna — murmurou a voz do cristal em sua mente. — Você é foco em meio à paixão. Você transforma dor em poder.
Uma lágrima escorreu, mas ela sorriu.
Ela era a chama em um mundo de cinzas.
"Lembranças"
[O Lobo Que já Amou Demais]
Enquanto Lyanna meditava, Kael caminhava sozinho pela muralha oeste, onde o vento era mais cruel. Ele gostava do frio — o frio o impedia de lembrar que era feito de sangue e carne, e não apenas de aço.
Mas naquela noite, lembrar era inevitável.
Ele viu a fogueira ao longe e se perdeu no passado.
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O Reino de Tarth era cheio de flores quando Kael era jovem. Antes das guerras, antes da maldição, antes de... Ela.
Seu nome era Elyra.
Tinha cabelos dourados e alma de trovão. Elyra era tudo o que ele não era: esperança, luz, sorriso fácil. Lutava com arco e coração aberto.
Ela amou Kael sem medo — mesmo quando ele se recusava a admitir que também a amava.
Kael só se abriu quando já era tarde.
Numa emboscada, ela morreu protegendo civis. Ele chegou a tempo de ver os olhos dela se fecharem.
Naquela noite, ele gritou tanto que quebrou a própria Essência. O espírito-lobo selado em seu peito se manifestou para salvar sua vida, mas a um custo:
Toda emoção forte agora ameaçava libertar a fera dentro dele.
Desde então, Kael se fechou.
Decidiu que nunca mais amaria.
Porque amar era fraqueza.
E fraqueza, para ele, era morte.
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Mas agora havia Lyanna.
Ela o olhava como Elyra olhava.
Ela sentia como ele sentiu um dia.
E isso o aterrorizava.
Ele sabia que, se se entregasse de novo, a besta acordaria.
E talvez... destruísse tudo.
Mas parte dele já estava cedendo.
E outra parte… já tinha cedido.
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Atualizado até capítulo 64
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