“Tudo que arde uma vez... já queimou antes.”
As primeiras memórias que ela teve… não eram dela.
— Eram de outra.
De alguém que assistia o céu pegando fogo… e não corria. De alguém que não desistiu nem no último guerrear, nem quando os ventos celestiais sopravam contra a maré e os duzentos queriam liberdade, muito menos quando olhou nos olhos de seus irmãos e decidiu desafiar a ordem, não, ela nunca desistiria.
Ela andava entre cinzas. — O chão tremia. As asas ao redor estavam rasgadas. E ainda assim, ela se mantinha firme, como se tivesse escolhido aquilo.
Ele estava lá.
Alto. Imenso. Inesquecível.
Azazel.
Olhos tão negros que não havia fundo. O fogo não o queimava. Era dele.
— Você prometeu.
Ela não sabia o que responder. A garganta doía. O nome dele também.
— Eu... não me lembro.
— Vai lembrar. Nem que leve mais mil vidas.
E então... ela caía.
Sempre caía.
Elizabeth Franco acordou de novo, com o coração disparado.
Terceira vez naquela semana. Quarta se contar o cochilo da aula de História.
— 15 anos. Olhos azuis. Cabelos pretos. — Nada demais pra uma adolescente americana, exceto pelo fato de que:
Ela lembrava de coisas que não viveu. — Falava nomes que nunca ouviu. — E carregava uma saudade tão antiga que parecia nascida antes do tempo.
Desde criança era assim.
Enquanto outras meninas brincavam de boneca, ela rabiscava símbolos estranhos nos cantos das folhas. Olhos, chamas, serpentes.
Quando questionada, dizia:
— Eu acho que já vivi antes. — Os adultos riam. Diziam que era imaginação fértil.
Mas ninguém explicava o cheiro de enxofre no quarto depois dos pesadelos. Nem a sensação de estar sendo vigiada pelo próprio inferno.
A adolescência piorou tudo.
Ela via sombras no espelho.
As luzes da escola estouravam quando ficava irritada.
Sonhava com templos antigos e ruínas ardentes… e acordava com os olhos cheios de lágrimas, sem saber por quê.
Eliza não se encaixava.
Nem com os colegas, nem com a família, nem com ela mesma.
“Você está ansiosa, Eliza.”
“É estresse.”
“Hormônios.”
— Mas como explica uma voz grave chamando seu nome… quando não há ninguém por perto?
Naquela tarde, a chuva caiu fina, como um sussurro. — O céu cinza apertava o coração.
Eliza caminhava devagar, os fones de ouvido
desligados, o olhar perdido nas poças do chão. — Até que tudo parou.
— Literalmente. Como se o mundo segurasse o ar por um segundo. — Um arrepio subiu pela espinha.
E então, ela ouviu:
— Você está acordando, minha pequena estrela.
O corpo congelou. As pernas falharam.
— Quem é você?
A voz era quente, antiga, íntima.
— Aquele que você prometeu amar…
…e destruir.
Ela caiu de joelhos no meio da calçada.
— As pessoas passaram por ela como se nada estivesse acontecendo. — Como se ela fosse invisível.
— Mas ele estava lá.
— Ela sabia.
— “O mundo diz que eu era jovem demais pra dor, mas algo dentro de mim… já viveu milênios.
E está voltando para me cobrar o que prometi.”
Mas dentro de si, havia uma força indomável que não iria dobrar os joelhos, nem mesmo se mundo caísse sobre ela.
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Atualizado até capítulo 22
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