Nas profundezas da antiga floresta de Noctharys, o tempo não seguia a mesma regra que nos outros lugares. Os relógios ali se recusavam a marcar a passagem das horas. As sombras não obedeciam à luz. E os nomes pronunciados em voz alta ecoavam por muito mais tempo do que deveriam.
Zareth Morr caminhava entre os círculos de pedra do Círculo Sombrio — o último templo vivo da Bruxaria Primordial.
Ele não era um sacerdote.
Era algo mais antigo.
Os cabelos negros caíam sobre os ombros largos, presos apenas por um cordão de prata envenenada. Os olhos, de um tom cinza profundo, pareciam feitos para enxergar através das mentiras. Seus passos eram leves, mas sua presença, esmagadora.
Zareth falava línguas esquecidas. Dormia em silêncio absoluto. Lia livros que se apagavam após serem lidos. E o que mais o perturbava era o que não conseguia ler.
Nos últimos dias, runas começavam a aparecer nas paredes do templo. Sozinhas. Sem tinta. Gravadas pelo tempo ou por algo mais antigo que ele. Ele tentava decifrá-las — mas todas diziam a mesma coisa, em diferentes formas: "Ele se erguerá novamente."
Zareth Morr
Mas quem?
E então, naquela noite, algo mudou.
Ele acordou sem saber que havia adormecido. As velas ao seu redor queimavam com chamas negras. E os pergaminhos à sua volta tremiam sozinhos, como se quisessem fugir do chão.
No teto do templo, alguém — ou algo — havia desenhado um círculo com sangue. Um eclipse perfeito, cercado por oito lanças apontadas para dentro.
Zareth se levantou lentamente.
Nenhuma invocação havia sido feita. Nenhum ritual havia sido executado.
Zareth Morr
— Isso não foi feito por mãos humanas — ele disse em voz baixa, quase reverente.
Ele ergueu a palma da mão direita. Uma das runas do chão brilhou. A luz se projetou em seu peito. E então, ali — sob a pele — um símbolo surgiu em brasa viva.
Um eclipse, com apenas seis marcas ao redor.
E por um momento… ele viu.
Cinco rostos, não identificáveis. Um trono vazio. Um altar partido. Uma criança com olhos vazios. E, no fundo, um par de olhos dourados… chorando.
Zareth caiu de joelhos.
Não de dor.
Mas porque compreendeu algo que não ousava nomear.
Zareth Morr
— O selo foi quebrado… antes da hora.
Ele encarou o altar.
As velas se apagaram todas de uma vez.
O templo suspirou.
---
Quatro já sentiram. E todos carregam um símbolo imperfeito.
Mas o que nenhum deles sabe…
É que as correntes Khaerum enfraquecem a cada dia.
Comments