Havia paz no alto de Altharan.
Mas era uma paz frágil, feita de silêncio forçado e luz que não aquecia.
Os monges diziam que a cidade pairava entre o plano físico e o plano celestial, suspensa pelas bênçãos dos antigos, acima das nuvens e longe dos pecados do mundo.
Auren Lys nunca acreditou completamente nisso.
Ele caminhava sozinho entre os pilares do templo branco, os pés descalços tocando o mármore gelado enquanto a túnica dourada flutuava com o vento invisível. O céu sobre sua cabeça era límpido — demais. Azul pálido, eterno, cansado. Nenhuma nuvem. Nenhuma ave. Só o sol parado no meio do dia, como se recusasse a seguir adiante.
Auren parou de andar.
Seu peito doía de leve, como uma saudade que não tinha dono.
Não havia marca. Não havia sinal.
Mas havia algo… deslocado.
Ele ergueu os olhos.
E viu.
Uma rachadura na luz.
Era pequena. Quase imperceptível. Uma fenda dourada no próprio céu.
Como se a perfeição tivesse começado a quebrar.
Ele não sentiu medo. Mas sentiu… memória.
O mesmo som do sino ancestral tocou em sua mente — o som que nunca mais havia sido ouvido desde o Julgamento de Arhael, séculos atrás.
Auren Lys
— Isso não pode ser real — ele murmurou.
Um dos monges se aproximou em silêncio, ajoelhando-se com reverência. Trazia um objeto coberto por um véu branco. Auren olhou, confuso.
mee
gnt um aviso rápido, a imagem do monge vai ser a mesma do outro.
Auren Lys
— O que é isso?
monge
— Encontramos em uma escavação nas ruínas da Primeira Torre — disse o monge. — Era um relicário selado. Ele se abriu sozinho hoje… ao meio-dia exato.
Auren afastou o véu.
No centro do relicário, havia uma pedra oval, negra como noite, com um símbolo esculpido em ouro: um eclipse cercado por oito círculos menores.
Seus olhos tremeram.
Aquilo não pertencia a nenhum credo que ele conhecia. Nenhum selo celestial. Nenhuma tradição sagrada.
Mas ainda assim…
Parecia familiar.
Auren tocou a pedra.
No mesmo instante, uma visão o atingiu.
Um céu em chamas. Um templo desmoronando. O som de passos sobre sangue. E cinco figuras em silêncio, olhando para ele.
Ele caiu de joelhos, arfando.
O monge tentou segurá-lo, mas Auren ergueu a mão com firmeza.
Seus olhos brilhavam em prata viva, como se houvesse tocado o plano divino.
Auren Lys
— Não é uma visão comum — disse ele. — É uma convocação.
O monge hesitou.
monge
— Do céu?
monge
Auren não respondeu.
Porque, em seu íntimo, ele sabia:
Aquilo não vinha do céu.
Mas também não vinha da terra.
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Naquela mesma noite, Auren ficou em silêncio diante do altar do Vórtice Sagrado.
E pela primeira vez em todos os seus anos, a luz da bênção não brilhou sobre ele.
O céu se calou.
E algo dentro dele acordou.
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Enquanto isso, em reinos distantes, outros também olhavam o céu, sentindo que algo havia mudado — mas sem saber que estavam todos ligados.
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