Capítulo 5 – A Sombra por Trás do Terno

Lara não conseguia dormir.

As palavras de Andressa martelavam em sua mente com uma persistência quase cruel, como se tivessem sido gravadas a fogo:

“Você ainda não sabe tudo. Mas saiba disso: ele não é um homem comum.”

A cada repetição mental, a inquietação dentro dela crescia. Henry Castelli não era um homem comum. Mas então... o que ele era?

Deitada na penumbra do quarto, com o cobertor até a cintura e o brilho do notebook iluminando seu rosto, Lara tentava encontrar respostas. Havia algo naquele homem que a atraía e a repelía na mesma medida. Seu charme era real. Mas havia algo por trás dos olhos dele um abismo silencioso, frio, que fazia até sua alma hesitar.

Com um clique tenso, ela abriu o software que seu pai havia deixado escondido em um HD criptografado um programa de investigação confidencial, usado apenas por advogados criminais em casos onde a justiça comum não dava conta.

Era como abrir uma porta para um mundo sombrio e sem regras.

Digitou o nome: Henry Castelli.

Os primeiros resultados eram irrepreensíveis. Empresário de prestígio, com negócios espalhados por três continentes. Proprietário de vinícolas na Itália, de galerias de arte em Londres e Paris, de hotéis boutique em cidades luxuosas. Financiador de causas sociais. Frequentador de jantares beneficentes. Tinha até uma fundação humanitária registrada em seu nome.

A máscara era perfeita. Impecável.

Demais para ser verdadeira.

Lara mergulhou mais fundo. Passou por registros internacionais, arquivos de imigração, dados de negócios ocultos por laranjas. Quanto mais cavava, mais o silêncio se tornava barulhento.

Foi então que ela encontrou o que não deveria estar lá ou melhor, o que estava sutilmente escondido.

Três ex-funcionários de Henry. Três desaparecimentos. Nenhum corpo. Nenhum processo. Nenhuma investigação pública.

Todos com um histórico similar: envolvimento prévio com redes de tráfico humano, principalmente na Europa Oriental.

Ela estremeceu. Coincidência? Impossível.

Mais adiante, ela cruzou com um arquivo deixado por um jornalista investigativo desaparecido em Roma. O artigo inacabado falava de uma figura misteriosa no submundo europeu um homem educado, refinado, envolvido com arte e cultura, mas que escondia uma natureza impiedosa.

Alguém que não precisava mandar matar. Ele apenas desaparecia com os problemas.

Um jogador de xadrez invisível. Preciso. Silencioso.

No rodapé do texto, duas letras criptografadas: H.C.

Lara prendeu a respiração. Aquilo era mais do que coincidência. Era um alerta. Uma acusação escondida sob camadas de palavras.

Mas, mais do que o medo, algo a corroía por dentro:

Por que isso não a fazia querer fugir?

Por que, em vez disso, a fazia querer entender mais?

Ela se levantou e encarou a própria imagem no reflexo da janela. Seu rosto estava sério, mas o olhar… o olhar estava mudando.

Henry Castelli não era apenas perigoso.

Ele era uma força. Um tipo de justiça que não passava pelas mãos do Estado. Que não seguia regras, nem esperava sentenças.

Ele era a execução sem tribunal.

E o mais perturbador de tudo era que… parte dela compreendia aquilo. Parte dela aceitava.

Na manhã seguinte, Lara foi até a biblioteca da faculdade com Andressa. Não contou tudo não tinha coragem ainda mas mostrou partes da pesquisa, capturas de tela e anotações.

— Ele não deixa rastros — disse, olhando para o monitor. — Mas eu aprendi a ler o que não está escrito.

Andressa, sempre perspicaz, a observava em silêncio. Depois cruzou os braços.

— E o que você tá procurando, exatamente? Motivos pra se afastar… ou uma desculpa pra se aproximar ainda mais?

Lara hesitou. Sua garganta secou. A resposta não veio.

— Você tá começando a vê-lo diferente, né? — Andressa insistiu.

Lara desviou o olhar.

— Ele é perigoso…

— Mas não te machuca.

— Não…

Andressa se aproximou, abaixando o tom, com seriedade no olhar.

— Me diz uma coisa, Lara: você tá tentando descobrir quem ele é… ou tentando justificar que você também é capaz de ser como ele?

Lara ficou em silêncio.