Lara encostou a cabeça no vidro frio da janela de seu quarto. A noite silenciosa da mansão contrastava com o caos em sua mente. A conversa com Henry Castelli repetia-se como um disco quebrado. O modo como ele sabia seu nome, a firmeza de sua presença, aquele olhar que parecia atravessá-la até o âmago.
Como alguém podia ser tão intimidador… e tão sedutor ao mesmo tempo?
"Por trás dessa doçura... eu vejo uma fera adormecida."
Essas palavras ainda queimavam dentro dela.
Talvez ele só estivesse brincando. Talvez fosse só mais um homem acostumado a manipular. Mas então por que sentia que havia verdade ali? Por que sentia que ele enxergava algo que ninguém via?
Ou pior… algo que ela tentava esconder até de si mesma.
Ela fechou os olhos respirou fundo, precisava esquecer ou tentar.
Na manhã seguinte, Lara se arrumou para a aula na universidade. Calça jeans, blazer bege claro, cabelo solto, sem maquiagem. Simples, como sempre. Ela não precisava se destacar pelo menos era o que repetia a si mesma. Já bastava ser a filha dos Scott. Já bastava carregar um sobrenome que pesava como uma sentença.
Na porta da faculdade, Clara a esperava encostada no carro importado que o pai tinha “presenteado” após uma chantagem emocional qualquer.
— Dormiu com o Henry Castelli ou só se derreteu na frente dele? — disse Clara com aquele sorriso disfarçado de brincadeira.
Lara travou por um segundo.
— Claro que não. Só trocamos poucas palavras.
Vanessa surgiu por trás com o café na mão, como quem já sabia de tudo.
— Poucas palavras? Ele mal tirava os olhos de você. Aposto que está no seu direct agora.
— Eu nem dei meu número.
— Homens como ele não precisam pedir, Lara — disse Clara, com os olhos cravados nela. — Eles tomam.
Aquelas palavras, ainda que ditas em tom de piada, deixaram uma sombra no ar. Era sempre assim. Entre elogios sutis, vinham as pequenas farpas. As comparações. As dúvidas plantadas.
Lara suspirou. Tentava acreditar que as duas eram apenas sinceras demais, “brincalhonas”. Mas com o tempo, as rachaduras começavam a doer.
Horas depois, já na sala de aula, Lara se preparava para entregar seu trabalho final da disciplina de Direito Penal um dossiê complexo sobre a ineficácia da punição aos crimes sexuais na Europa. Tinha trabalhado dias naquele conteúdo.
Mas quando foi entregar o arquivo impresso, notou algo estranho: as páginas estavam misturadas, com parágrafos faltando, argumentos mal formatados… completamente diferente da versão que havia revisado e salvo.
— O que... aconteceu com isso? — murmurou em choque, folheando as folhas.
— Algum problema, Lara? — perguntou o professor, impaciente.
Ela gaguejou. Não tinha como provar ali, mas sabia que algo estava errado. Seu arquivo havia sido sabotado. E não era a primeira vez que isso acontecia.
Ao sair da sala, viu Clara e Vanessa rindo ao fundo do corredor. Vanessa segurava o celular, mostrando algo para Clara e o olhar que ambas lançaram a Lara dizia tudo.
Elas tinham feito aquilo.
E como sempre, sairiam impunes.
— Acho que alguém vai ter que fazer recuperação, né? — disse Clara, passando por ela como se não tivesse acabado de puxar seu tapete.
— Você deve ter salvo errado — completou Vanessa, falsa preocupação na voz. — Acontece com os mais... distraídos.
A raiva subiu, mas Lara engoliu. Engolia há anos. Por medo. Por não querer arrumar briga. Por ter crescido ouvindo que “conflitos só mancham reputações”.
Mas agora, depois do olhar de Henry… algo estava mudando dentro dela.
Pela primeira vez, ela começou a pensar: E se eu parar de engolir? E se, ao invés de calar, eu reagir?
E se... a tal fera acordasse?
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Atualizado até capítulo 53
Comments
🌹Rosana Lyra♑
Eu vejo um homem que vai fazer tudo por você 😏
2025-07-09
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