A manhã estava silenciosa demais. Lara estudava sozinha no pátio da universidade, tentando focar nas revisões para a prova final de Direito Penal. A concentração, porém, era frágil. As palavras dos últimos dias martelavam em sua cabeça especialmente o nome que não ouvia há meses: Tomás.
Mas o silêncio foi quebrado.
— Lara?
A voz, mesmo suave, fez sua espinha enrijecer. Ela não precisou olhar para saber. O cheiro do perfume dele. A presença invasiva. O tom ensaiado. Era ele.
Virou-se devagar.
Tomás estava ali. Mesma aparência arrogante de sempre: camisa social dobrada até os cotovelos, cabelo perfeitamente alinhado, sorriso falso e encantador. Como se fosse um presente embalado em papel bonito, mas que escondia um veneno letal.
— Não acredito que é você… — ele disse, os olhos percorrendo seu corpo. — Está ainda mais linda. Está... forte.
Ela se levantou devagar, mantendo distância.
— O que você quer, Tomás?
— Só conversar. Sem gritos, sem brigas. Eu mudei, Lara.
Eles sempre dizem isso.
— Você não mudou. Você aprendeu a parecer menos tóxico. Mas continua igual.
Ele riu, sem graça.
— Clara me disse que você ainda pensa em mim.
O sangue de Lara gelou.
— Clara mentiu.
— Ela só quer ajudar. Disse que você anda cercada de gente ruim… tipo o Henry Castelli. — A menção ao nome fez Tomás franzir o rosto. — Você sabe quem ele é, não sabe?
— E o que você sabe sobre ele?
— Sei o suficiente pra saber que você vai se queimar, como sempre faz com quem se aproxima demais de você.
A dor foi instantânea. A lembrança de todas as vezes que Tomás a jogava no chão emocional, a fazia acreditar que tudo era culpa dela: o ciúme dele, as crises, os sumiços, os gritos. Tudo, sempre, era culpa dela.
— Eu não sou mais aquela garota que você manipulava — disse firme, controlando a raiva. — E você não tem o direito de falar de ninguém.
Ele esticou a mão.
— Lara… eu ainda te amo.
Ela deu um passo para trás.
E foi nesse instante que uma voz cortou o ar como uma lâmina.
— Ela não precisa do seu amor. Precisa que você suma.
Andressa.
Andressa caminhou até eles com o olhar de uma leoa. Morena, tatuada, de personalidade forte e presença que impunha respeito. Era o oposto de Clara e Vanessa e sempre foi tratada como “desajustada” por elas.
— Ainda tá por aqui, Tomás? — ela disparou. — Não cansou de usar a boa vontade da Lara pra alimentar seu ego doente?
— Fica fora disso, Andressa — ele rosnou.
— Tarde demais. Eu entrei nisso no dia em que te vi fazer a Lara chorar dentro de um banheiro, com o pulso sangrando por tentar arrancar a dor. E quer saber? Eu devia ter te quebrado ali mesmo.
Lara tentou conter as lágrimas. Ninguém nunca tinha falado aquilo em voz alta. Era verdade. Ela tinha se machucado para tentar apagar a dor que Tomás causava.
— E você, Lara… — Andressa se virou para ela. — Você precisa acordar. Clara e Vanessa são tão ruins quanto ele. E tão covardes quanto. Elas estão te afundando sorrindo. Como sempre fizeram.
Tomás deu um passo à frente, mas Andressa não recuou.
— E quanto ao Henry Castelli… — ela continuou, com a voz baixa — você ainda não sabe tudo. Mas saiba disso: ele não é um homem comum. E, estranhamente, talvez seja o único que consegue manter seus fantasmas longe.
Lara a encarou, confusa.
— O que você sabe sobre ele?
Andressa respirou fundo. Os olhos dela tinham peso.
— O suficiente pra saber que, se você cair… ele vai cair junto. Mas se vocês se levantarem… o mundo vai tremer.
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Atualizado até capítulo 53
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