Capítulo 5 - A Marca Escondida

O silêncio dentro das ruínas parecia mais denso após as palavras de Kael. Maya se afastou do altar, o olhar perdido em algum ponto entre as colunas partidas. Ariadne estava imóvel, braços cruzados, mas os olhos... os olhos buscavam algo que nem ela sabia nomear.

Kael, no entanto, continuou atento a Selene. E à energia em torno dela.

— O feitiço… — disse, após um instante — pode ter deixado mais do que uma ligação invisível entre vocês.

Selene franziu o cenho.

— O que quer dizer?

— Magias assim, tão profundas, costumam marcar os corpos daqueles que foram ligados. Como se a própria magia deixasse uma assinatura. Uma forma de lembrar... e de selar o vínculo.

Maya deu um passo à frente, tocando o próprio braço como se sentisse algo estranho sob a pele.

— Uma marca…? Visível?

— Às vezes aparece aos poucos — explicou Kael. — Quando a magia começa a se manifestar. Outras vezes... só é revelada quando você começa a aceitar aquilo que carrega dentro de si.

Ariadne passou a mão sobre o abdômen e subiu até o ombro. Depois, virou-se para Maya.

— Tem algo… diferente. Me dá um arrepio, como uma energia parada.

Selene, sem dizer uma palavra, levou a mão até a nuca. Sentiu um calor suave. Um formigamento.

— Aqui… — murmurou.

Kael se aproximou, devagar. Quando Selene afastou os cabelos, a marca surgiu — um símbolo luminoso, gravado na pele como se fosse feito de luz viva. Três espirais entrelaçadas, envolvendo um círculo central preso dentro de um triângulo invertido.

A energia pulsava em ritmo com os batimentos de Selene.

Maya soltou um suspiro. — É o mesmo…

Sem hesitar, ela desabotoou o colarinho do próprio casaco, revelando o lado esquerdo do peito. Ali, sobre a pele, exatamente acima do coração, a mesma marca brilhava — suave, mas viva.

— Eu também — disse Ariadne, abrindo a roupa no mesmo ponto. — Está aqui.

As três ficaram em silêncio, observando os símbolos idênticos que agora sabiam que sempre estiveram ali, adormecidos. Parte delas. Parte do laço.

Kael recuou um passo, como se respeitasse o momento.

— O feitiço não apenas uniu vocês. Ele criou algo mais profundo. Uma ligação que atravessa distância, tempo… talvez até morte.

Selene levou os dedos à própria marca. O calor era reconfortante, mas também assustador. Como se ela carregasse algo muito maior do que imaginava.

— Então é isso? — sussurrou. — Isso é o que eu sou?

— Isso — respondeu Kael — é só o começo.

Selene olhou para as irmãs. As marcas pareciam pulsar em uníssono, como se compartilhassem um único coração.

E naquele instante, ela soube:

os segredos estavam apenas começando a ser revelados.

— Isso... não pode ser só coincidência — disse Maya, ainda com os dedos sobre a marca que brilhava em seu peito. — É como se algo estivesse tentando nos manter unidas. Ou impedir que a gente se perca.

— O feitiço não só uniu vocês — explicou Kael, a voz mais baixa agora — ele também sincronizou seus fluxos mágicos. Vocês não compartilham apenas poder. Compartilham presença. Emoção. Instinto.

— Como um só corpo dividido em três — murmurou Ariadne, com um olhar desconfiado. — Isso parece mais prisão do que bênção.

Selene permaneceu em silêncio. Os dedos ainda repousavam sobre sua nuca, onde a marca pulsava com suavidade, como se respirasse. A sensação era estranha… não doía, mas parecia acordar algo antigo — e incontrolável.

De repente, um calor percorreu seu peito. Um aperto — um medo que não era seu.

Ela ofegou.

— Maya? — chamou, virando-se. — Você… está com medo?

Maya franziu a testa. — Eu… sim. Mas... como você soube?

— Eu senti — disse Selene, ainda assustada. — Dentro de mim. Como se fosse meu. Por um instante.

Ariadne arregalou os olhos. — Espera. Vocês tão dizendo que conseguem sentir o que a outra sente?

— Não sei se consigo escolher, mas... sim — disse Selene. — É como se a emoção dela tivesse me atravessado.

Kael assentiu, como se já esperasse por isso.

— A magia emocional costuma ser a primeira a despertar em vínculos profundos. Vocês três estão começando a sentir não só umas às outras, mas também o impacto de tudo o que guardaram. E isso pode ser perigoso... se não aprenderem a controlar.

Um silêncio tenso se instalou.

— Então quer dizer que, se uma de nós enlouquecer... — começou Ariadne.

— Todas sentiremos — completou Maya.

Selene sentiu o peso da verdade descer como névoa sobre os ombros. Aquilo era mais do que uma conexão. Era responsabilidade. Se uma caísse… as outras cairiam junto.

Ela olhou para as ruínas ao redor — as paredes gastas, o teto partido, o espelho quebrado.

E foi aí que ela o viu.

No reflexo irregular do espelho antigo, algo… moveu-se. Rápido. Escuro. Como uma sombra que não pertencia a nenhuma delas.

— Espera — disse Selene, levantando a mão. — Viram isso?

As três se viraram para o espelho, mas a superfície prateada apenas os devolveu distorcidos — fragmentados.

— O que foi? — perguntou Kael, indo até ela.

— Uma sombra. Não era nossa. Estava… atrás de nós.

Kael ficou tenso. Seus olhos dourados brilharam levemente, atentos.

— Se a marca despertou, outras coisas também podem ter despertado com ela.

— Outras coisas? — repetiu Ariadne. — Tipo o quê?

— Espíritos antigos. Ecos de magia corrompida. Criaturas atraídas por poder não selado. Este mundo pode estar adormecido… mas ele lembra o gosto da luz.

As irmãs trocaram olhares silenciosos. O vínculo ainda era recente, mas agora havia algo mais: uma sensação coletiva de vigilância. De ameaça.

Selene cerrou os punhos.

Ela ainda não sabia tudo o que era.

Ainda não compreendia a extensão do feitiço.

Mas sabia de uma coisa:

Se algo estava vindo, não viriam sozinhas.

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