A trilha era estreita e irregular, coberta por raízes secas e poeira que não se movia com o vento. Era como se até o tempo tivesse parado ali, preso em um suspiro que jamais foi solto.
Selene caminhava em silêncio, os passos cuidadosos, como se temesse acordar algo adormecido sob o solo. Ao seu lado, Maya mantinha os olhos atentos às marcas nas pedras — fragmentos de inscrições antigas riscadas por alguma civilização perdida. Já Ariadne seguia à frente, com a mão firme no cabo da adaga, pronta para reagir a qualquer ameaça, mesmo que o lugar parecesse abandonado há séculos.
Mas nada ali parecia realmente morto. Apenas... suspenso.
Kael caminhava por último, em silêncio. Selene o sentia como uma presença constante, quase protetora, mas também estranhamente distante — como se ele soubesse mais do que dizia. Como se aquele mundo tivesse histórias demais para contar… e feridas demais para abrir.
“Essas marcas...” Maya se ajoelhou diante de uma pedra parcialmente enterrada na terra escura. Passou os dedos sobre os traços finos, cobertos de poeira. “São feéricas. Muito antigas.”
“Consegue ler alguma coisa?” perguntou Selene, se aproximando.
Maya assentiu lentamente, franzindo o cenho. “Estão fragmentadas… mas uma palavra aparece mais de uma vez: liraeth.”
Selene sentiu um arrepio. A palavra soava familiar. Ela não sabia de onde, mas o som dela ressoava em seu peito como um eco esquecido. Liraeth.
“A palavra tem vários significados,” explicou Maya, em voz baixa. “Mas em antigas lendas, era associada à perda… e ao chamado do que está esquecido.”
“Ou de quem foi esquecido,” murmurou Kael.
Selene tocou a pedra. Um leve tremor percorreu seus dedos. Quente, por um instante — como se a rocha tivesse vida. Um brilho pálido brotou sob sua pele, e uma imagem cruzou sua mente: uma floresta prateada, uma mulher envolta em luz, um arco feito de estrelas.
Ela recuou com um suspiro entrecortado.
“Você viu algo?” Kael perguntou, se aproximando, os olhos fixos nela.
“Eu… não sei,” Selene murmurou. “Foi rápido. Uma visão, talvez.”
“É sua magia,” disse Maya, se erguendo devagar. “Ela está tentando te mostrar alguma coisa.”
“Mas eu não consigo controlar isso,” respondeu Selene. “É como se algo dentro de mim estivesse tentando acordar... e eu estivesse com medo de deixá-lo sair.”
“Talvez porque você sinta que, quando sair, não haverá volta,” disse Ariadne, sem se virar. “Talvez você ache que vai deixar de ser você.”
O silêncio caiu entre elas por um momento.
Selene sabia que Ariadne tinha razão. Mas havia algo além do medo agora. Algo mais forte.
Um chamado que vinha do sangue. Do coração.
Kael avançou alguns passos na trilha, então parou. Seu olhar fixou-se em algo à frente.
“Ali,” disse ele. “Um altar.”
As irmãs se aproximaram. O altar era simples, feito de pedra negra, rachado em várias partes. No centro, havia um símbolo gravado — um círculo com quatro linhas cruzadas, e ao centro, uma estrela de oito pontas.
Selene se aproximou devagar. Ao tocar o símbolo, o vento parou. O mundo prendeu o fôlego.
E então, a estrela brilhou.
Um brilho suave, prateado, como luz de luar refletida em água. As rachaduras da pedra brilharam também — e uma onda de energia percorreu o solo, como se o mundo ali reconhecesse algo. Ou alguém.
Ariadne recuou, alerta. Maya arregalou os olhos.
Selene não conseguiu se mover.
Naquele instante, ela sentiu tudo. O pulsar do mundo abaixo de seus pés. As correntes silenciosas que atravessavam o véu entre os reinos. E algo mais profundo ainda — algo enterrado em sua alma. Um poder antigo. Selvagem.
Ela ouviu uma voz.
“O coração não mente, filha da noite e da luz.”
E então, tudo escureceu.
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Atualizado até capítulo 22
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