Capítulo 2 – A Visita que Mudaria Tudo

Os dias que seguiram a festa foram como um inverno dentro de Luna.

O que antes era sonho e expectativa havia se transformado em silêncio. Um silêncio cruel. Do tipo que ecoa dentro do peito e torna tudo mais cinza. Ela não saiu mais de casa. Não atendeu ligações, ignorou mensagens e sequer abriu seu diário. Nem mesmo Iris conseguiu convencê-la a dar um passo fora do quarto.

Ela estava deitada, encarando o teto do quarto, com as pernas cobertas por um edredom leve e a alma envolta em algo muito mais pesado, quando o celular vibrou.

Achou que fosse Iris. Mas, ao olhar para a tela, seu coração parou por um instante.

"Alaric Virmond."

O nome do patriarca da família mais poderosa de Altharia — e uma das poucas pessoas que ela realmente considerava parte da sua vida — parecia brilhar na tela. Ela respirou fundo antes de atender.

— Alô?

— Minha menina... — disse a voz grave e acolhedora do outro lado. — Você sumiu de mim.

Luna tentou esconder o nó na garganta.

— Me desculpe... eu só... estive um pouco ocupada.

— Todos nós ficamos ocupados de vez em quando, — ele disse com a calma de quem já viu o mundo girar milhares de vezes. — Mas há uma diferença entre estar ocupada e estar se escondendo.

Ela não respondeu.

— Por que não vem me visitar hoje? Apenas você e eu. Nada de festas, nada de obrigações. Apenas uma tarde tranquila. A casa está aberta. Sempre estará para você.

Luna hesitou ao tocar a campainha da mansão. Embora conhecesse bem os corredores e já tivesse estado ali inúmeras vezes — desde aniversários até tardes com livros e conversas ao piano — aquele portão agora parecia guardar um mundo que a feria.

Mas quando a porta se abriu e Alaric surgiu com seu eterno casaco cinza e expressão de pai cansado do mundo, ela sentiu seu corpo se acalmar.

Ele era assim: como uma âncora em meio à tempestade.

— Ah, minha menina... — ele disse, abrindo os braços.

Ela se deixou envolver por aquele abraço. Era um gesto silencioso, mas cheio de significado.

Ali, em meio ao mármore frio e à opulência silenciosa da mansão Virmond, ela encontrou o único lugar onde ainda se sentia inteira.

— Está magra demais. — ele comentou, afastando-se para encará-la. — E seus olhos estão cansados. Você está dormindo direito?

— Mais ou menos — ela murmurou.

Ele não pressionou. Apenas assentiu, como quem já sabia a resposta, e fez um gesto para que o seguisse até a sala de leitura.

Era seu lugar preferido. Um cômodo afastado, com lareira acesa mesmo nos dias amenos, estantes de madeira escura e o leve cheiro de livro antigo no ar. Alaric a conduziu até uma das poltronas de veludo verde e serviu chá com as próprias mãos, em uma porcelana que Luna reconhecia desde a infância.

— Sabe, quando penso em você, Luna, nunca consigo pensar apenas como a filha de Lucienne e Bastien. — ele começou, sentando-se à frente dela. — Penso como alguém que cresceu aqui dentro. Que pertence a isso tudo tanto quanto qualquer um dos meus filhos.

Ela olhou para ele, surpresa com a firmeza daquelas palavras.

— Eu não carrego o sobrenome de vocês...

— Nomes são ruídos, — ele rebateu com um sorriso. — Família é laço. E você está entrelaçada a nós, queira ou não.

Luna sentiu o peito apertar com aquela gentileza. Por tantos anos, ele fora mais do que um padrinho ou tutor. Fora presença. Afeto. Porto seguro.

— Por que está me dizendo isso agora?

Alaric se levantou calmamente e caminhou até uma estante lateral. De lá, tirou uma caixa de madeira esculpida com símbolos antigos e detalhados. Abriu com cuidado e tirou uma fotografia. Voltou até a mesa e colocou a imagem diante dela.

Era uma foto dos seis filhos.

Dante. Adrian. Elias. Tristan. Levi. Cael.

Todos vestidos de preto e dourado em uma cerimônia formal. Os rostos distintos como as fases da lua: Dante, sóbrio como a noite nova; Adrian, inquieto como a crescente; Cael, brilhante como a cheia. E todos, à sua maneira, parte de uma constelação que há anos fascinava Luna.

Ela engoliu em seco, os olhos se fixando na imagem como se pudesse extrair dela todas as respostas que precisava.

— O que é isso?

— Uma escolha. — ele disse com calma.

Luna ergueu os olhos.

— Como assim?

— Quando você completar dezoito anos, — Alaric disse, como se estivesse selando um acordo com o destino — quero que você escolha um deles para se casar.

Ela arregalou os olhos.

— Isso é um... um pedido de casamento?

— É uma proposta. — ele corrigiu com gentileza. — Uma oferta. Um presente. Talvez uma loucura. Mas acima de tudo: uma forma de garantir que você terá uma vida segura, respeitada… e quem sabe até, amada.

— Eu... eu não sei o que dizer...

— Você não precisa responder agora. — ele se aproximou, apertando levemente sua mão. — Pense com calma. Olhe para eles com olhos novos. E, quando estiver pronta... escolha.

Luna olhou novamente para a fotografia.

Um por um.

E mesmo sem entender o porquê, foi o olhar sério de Dante — o mais velho, o mais distante, o mais... enigmático — que a fez estremecer.

Luna não conseguia tirar os olhos da fotografia. A imagem dos seis herdeiros da família Virmond parecia ganhar vida diante dela. Cada um com sua própria luz — ou sombra. Seus olhos demoraram um segundo a mais sobre Cael, como se o coração ainda quisesse entender a dor que sentia.

Mas foi Dante, com seu semblante sério e distante, que a fez prender a respiração.

Ela ergueu lentamente os olhos para Alaric.

— E... o que acontece se eu escolher alguém… e ele não aceitar?

A pergunta saiu em um sussurro, mas carregada de peso.

Alaric, que havia se afastado para servir mais chá, pausou o movimento.

Ele a olhou com ternura. Mas também com honestidade.

— Então ele não é digno de você.

Luna engoliu em seco.

— Mas e se nenhum deles aceitar?

— Impossível. — ele disse com firmeza, voltando a se sentar à frente dela. — Eles podem ser orgulhosos, diferentes entre si, mas não são idiotas. Sabem o valor de quem você é. E o que essa união significaria para todos nós.

Ela desviou o olhar, sentindo as bochechas queimarem.

Por um instante, o peso da responsabilidade pareceu esmagador.

— Você realmente acha que isso pode dar certo?

— Não sei se vai dar certo, minha menina. — ele respondeu com honestidade rara. — Mas sei que será uma escolha sua. E será respeitada.

Luna respirou fundo.

Seu coração batia tão alto que ela achava que Alaric podia ouvir.

A decisão estava ali, latejando dentro dela. E, por mais absurdo que parecesse, não vinha do impulso, nem do desespero. Vinha da necessidade de recomeçar. De se proteger. E, quem sabe, de ser surpreendida por um caminho que nunca imaginou seguir.

Ela apontou para a foto.

— Dante.

A palavra soou como um segredo revelado.

Alaric demorou alguns segundos para processar. Os olhos dele se arregalaram levemente, como se não esperasse por aquele nome.

— Dante? — ele repetiu, com a voz mais baixa, quase em reverência. — Você tem certeza?

— Não. — Luna respondeu com um pequeno sorriso melancólico. — Mas também não tenho dúvidas.

O patriarca recostou-se na poltrona, pensativo.

Durante anos, ele acompanhou cada passo de Dante. O mais velho. O primeiro herdeiro. O homem que carregava o peso da família nas costas.

E agora, justamente ele, seria o escolhido de Luna.

— Você me pegou de surpresa — Alaric admitiu, coçando o queixo. — Eu imaginava qualquer um dos outros cinco… mas Dante...

— É justamente por isso — ela interrompeu. — Porque ninguém imaginaria. Nem ele.

Alaric sorriu, lentamente, como quem acabava de ver uma jogada genial em um tabuleiro silencioso.

— Então está feito.

— Ainda não. — Luna se apressou em dizer, o coração disparado. — Quero que isso fique entre nós. Só nós dois.

— Quer manter segredo?

Ela assentiu com firmeza.

— Até o meu aniversário. Até o dia em que eu fizer dezoito anos. Não quero que ele saiba. Nem os outros. Nem Iris. Nem ninguém.

Alaric a observou por um longo tempo, como se estivesse avaliando cada camada da decisão dela. Então, finalmente, assentiu.

— Muito bem. Está prometido. Ninguém saberá até o dia em que sua escolha puder ser oficial. Você terá até lá para mudar de ideia… ou confirmar o que sente.

— Eu não vou mudar de ideia.

Ele sorriu outra vez.

— Então que Altharia prepare seu trono, senhorita Villeneuve. Porque a partir de hoje, mesmo em segredo, você é noiva do meu herdeiro mais poderoso.

Capítulos
1 Capítulo 1 – O Coração que Ama em Silêncio
2 Capítulo 2 – A Visita que Mudaria Tudo
3 Capítulo 3 – O Irmão que Ninguém Ousa Tocar
4 Capítulo 4 – Entre Herdeiros e Segredos
5 Capítulo 5 – A Última Semana Antes do Sim
6 Capítulo 6 – Quando Eu Disse Sim
7 Capítulo 7 – A Primeira Noite Como Noiva
8 Capítulo 8 – Os Olhos Sobre Nós
9 Capítulo 9 – Além da Aparência
10 Capítulo 10 – A Primeira Queda da Armadura
11 Capítulo 11 – A Linguagem do Silêncio
12 Capítulo 12 – A Noiva Diante do Julgamento
13 Capítulo 13 – A Casa Onde o Tempo Parou
14 Capítulo 14 – E o Mundo Voltou a Girar
15 Capítulo 15 – Quando o Passado Entra Sem Bater
16 Capítulo 16 – Tudo Que Ele Não Diz
17 Capítulo 17 – Onde Tudo Pode Rachar
18 Capítulo 18 – As Máscaras Caem
19 Capítulo 19 – Onde Ela Aprende a Ficar de Pé
20 Capítulo 20 – O Jogo Começa com os Fortes
21 Capítulo 21 – Onde o Passado Bate à Porta
22 Capítulo 22 – Onde a Verdade Pesa Mais que o Sangue
23 Capítulo 23 – Onde Se Esconde o Inimigo Invisível
24 Capítulo 24 – Onde Tudo Começou
25 Capítulo 25 – Onde Se Revela o Verdadeiro Lado
26 Capítulo 26 – Onde a Traição Tem Rosto Conhecido
27 Capítulo 27 – Onde a Verdade É Preparada para o Ataque
28 Capítulo 28 – Onde os Segredos se Tornam Armas
29 Capítulo 29 – Onde Se Dança Sobre as Cinzas
30 Capítulo 30 – Onde O Inimigo Ataca Por Dentro
31 Capítulo 31 – Onde o Voto Decide o Futuro
32 Capítulo 32 – Onde o Inimigo Deixa de se Esconder
33 Capítulo 33 – Onde o Tabuleiro Vira Fogo
34 Capítulo 34 – Onde As Verdades Esquecidas Esperam
35 Capítulo 35 – Onde a Mentira Precisa Gritar Para Ser Ouvida
36 Capítulo 36 – Onde o Inimigo Troca de Máscara
37 Capítulo 37 – Onde Até os Heróis Têm Segredos
38 Capítulo 38 – Onde a Verdade Não Pode se Esconder
39 Capítulo 39 – Onde a Vitória Abre as Portas do Passado
40 Capítulo 40 – Onde os Mortos Deixam Rastros
41 Capítulo 41 – Onde as Ruas Sussurram Nomes Proibidos
42 Capítulo 42 – Onde os Cofres Também Guardam Sombras
43 Capítulo 43 – Onde o Rosto do Inimigo Tem o Mesmo Sangue
44 Capítulo 44 – Onde a Promessa da Dor se Cumpre
45 Capítulo 45 – Onde o Amor Também É uma Armadilha
46 Capítulo 46 – Onde o Nome Final Escreve a Ruína
47 Capítulo 47 – Onde a Caçada Começa e o Medo Perde o Lugar
48 Capítulo 48 – Onde a Verdade Dói Mais que a Traição
49 Capítulo 49 – Onde a Voz Cala o Monstro
50 Capítulo 50 – Onde a Armadilha É Para Dois
51 Capítulo 51 – Onde a Liberdade Encontra o Nome da Mulher Que Sobreviveu
52 Epílogo – Onde o Coração Enfim Escolhe Viver
Capítulos

Atualizado até capítulo 52

1
Capítulo 1 – O Coração que Ama em Silêncio
2
Capítulo 2 – A Visita que Mudaria Tudo
3
Capítulo 3 – O Irmão que Ninguém Ousa Tocar
4
Capítulo 4 – Entre Herdeiros e Segredos
5
Capítulo 5 – A Última Semana Antes do Sim
6
Capítulo 6 – Quando Eu Disse Sim
7
Capítulo 7 – A Primeira Noite Como Noiva
8
Capítulo 8 – Os Olhos Sobre Nós
9
Capítulo 9 – Além da Aparência
10
Capítulo 10 – A Primeira Queda da Armadura
11
Capítulo 11 – A Linguagem do Silêncio
12
Capítulo 12 – A Noiva Diante do Julgamento
13
Capítulo 13 – A Casa Onde o Tempo Parou
14
Capítulo 14 – E o Mundo Voltou a Girar
15
Capítulo 15 – Quando o Passado Entra Sem Bater
16
Capítulo 16 – Tudo Que Ele Não Diz
17
Capítulo 17 – Onde Tudo Pode Rachar
18
Capítulo 18 – As Máscaras Caem
19
Capítulo 19 – Onde Ela Aprende a Ficar de Pé
20
Capítulo 20 – O Jogo Começa com os Fortes
21
Capítulo 21 – Onde o Passado Bate à Porta
22
Capítulo 22 – Onde a Verdade Pesa Mais que o Sangue
23
Capítulo 23 – Onde Se Esconde o Inimigo Invisível
24
Capítulo 24 – Onde Tudo Começou
25
Capítulo 25 – Onde Se Revela o Verdadeiro Lado
26
Capítulo 26 – Onde a Traição Tem Rosto Conhecido
27
Capítulo 27 – Onde a Verdade É Preparada para o Ataque
28
Capítulo 28 – Onde os Segredos se Tornam Armas
29
Capítulo 29 – Onde Se Dança Sobre as Cinzas
30
Capítulo 30 – Onde O Inimigo Ataca Por Dentro
31
Capítulo 31 – Onde o Voto Decide o Futuro
32
Capítulo 32 – Onde o Inimigo Deixa de se Esconder
33
Capítulo 33 – Onde o Tabuleiro Vira Fogo
34
Capítulo 34 – Onde As Verdades Esquecidas Esperam
35
Capítulo 35 – Onde a Mentira Precisa Gritar Para Ser Ouvida
36
Capítulo 36 – Onde o Inimigo Troca de Máscara
37
Capítulo 37 – Onde Até os Heróis Têm Segredos
38
Capítulo 38 – Onde a Verdade Não Pode se Esconder
39
Capítulo 39 – Onde a Vitória Abre as Portas do Passado
40
Capítulo 40 – Onde os Mortos Deixam Rastros
41
Capítulo 41 – Onde as Ruas Sussurram Nomes Proibidos
42
Capítulo 42 – Onde os Cofres Também Guardam Sombras
43
Capítulo 43 – Onde o Rosto do Inimigo Tem o Mesmo Sangue
44
Capítulo 44 – Onde a Promessa da Dor se Cumpre
45
Capítulo 45 – Onde o Amor Também É uma Armadilha
46
Capítulo 46 – Onde o Nome Final Escreve a Ruína
47
Capítulo 47 – Onde a Caçada Começa e o Medo Perde o Lugar
48
Capítulo 48 – Onde a Verdade Dói Mais que a Traição
49
Capítulo 49 – Onde a Voz Cala o Monstro
50
Capítulo 50 – Onde a Armadilha É Para Dois
51
Capítulo 51 – Onde a Liberdade Encontra o Nome da Mulher Que Sobreviveu
52
Epílogo – Onde o Coração Enfim Escolhe Viver

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