Quando Eu Disse Sim ao Irmão Errado
"Às vezes, o amor cega tanto que não conseguimos enxergar quando estamos sendo ridículos."
O céu sobre Lunebelle era uma pintura viva naquela tarde. Tons de pêssego, púrpura e dourado se misturavam conforme o sol se escondia por trás das montanhas de Virelle, lançando uma luz suave sobre os telhados antigos da cidade. Do alto da colina, onde ficava a pensão em que Luna Villeneuve vivia com a tia-avó, era possível ver o rio serpenteando como um espelho prateado e, ao longe, as torres da mansão Virmond, tão imponentes quanto inalcançáveis.
Ela estava sentada à beira da janela, com os pés descalços e as pernas encolhidas, o velho diário apoiado nas coxas. A caneta dançava entre os dedos, hesitante, como se as palavras exigissem coragem para serem escritas.
"Querido diário,
Hoje ele passou por mim no campus. Usava uma jaqueta preta e óculos escuros, com aquele andar despreocupado de quem sabe que é desejado. Eu gelei. Meu coração bateu tão alto que achei que as outras pessoas fossem ouvir.
Cael Virmond.
Até seu nome soa como música. Ele é o tipo de cara que parece saído de um filme: sorriso torto, voz baixa, olhos cinzentos como o inverno. Mas não é só beleza, sabe? Ele tem uma presença... Uma confiança que faz a gente querer se aproximar, mesmo sabendo que pode se machucar.
Já faz quase um ano que gosto dele. E mesmo que ele nunca tenha me notado de verdade, eu continuo aqui, nesse sentimento silencioso.
Talvez seja só um sonho tolo, mas sonhar com ele me faz sentir viva."
Ela suspirou, deixando a caneta escorregar para o parapeito da janela. Lá fora, o vento fazia dançar as folhas da cerejeira. Era um fim de tarde bonito. O tipo de cenário que dava vontade de acreditar no amor.
Até que a voz da sua melhor amiga invadiu a paz do quarto.
— Lunaaaaa! — Iris apareceu esbaforida na porta, sem bater. — Me diz que você não vai passar a sexta-feira escrevendo nesse caderninho de novo!
Luna sorriu, fechando o diário.
— É só por um instante...
— Um instante que já dura meses. — Iris revirou os olhos. — Esquece o Cael por uma noite. Vai ter uma festa absurda na mansão Virmond. Todas as famílias da elite vão estar lá. E adivinha quem vai estar no centro das atenções?
— Cael...
— Exatamente. E hoje você não vai ficar olhando de longe. Vai aparecer. Vai viver. Vai fazer esse babaca perceber o que está perdendo.
Horas depois, Luna se olhava no espelho com o coração acelerado. O vestido azul-claro que Iris emprestara tinha mangas finas e tecido fluido. Ela nunca se achou bonita — não como as garotas da alta sociedade — mas naquela noite, havia algo diferente em seu reflexo. Talvez fosse a esperança, talvez a coragem que Iris tanto insistia que ela tinha.
A mansão Virmond ficava a vinte minutos do centro de Lunebelle, cercada por portões altos, jardins impecáveis e seguranças vestidos de preto. O tipo de lugar que parecia não pertencer ao mundo real. Quando Luna desceu do carro, sentiu-se pequena, deslocada. Mas respirou fundo e caminhou até a entrada com o que restava de confiança.
Lá dentro, a festa estava em pleno andamento. Lustres de cristal brilhavam sob o teto altíssimo. Um quarteto tocava jazz no salão principal, enquanto garçons passavam com taças de champanhe. Jovens riam, dançavam, exibiam vestidos caros e relógios de ouro.
— Está nervosa? — Iris perguntou, percebendo o olhar inquieto da amiga.
— Muito. Parece que estou num lugar onde não pertenço.
— Você pertence onde quiser, Luna. Lembre-se disso.
A noite avançou lentamente. Luna viu Cael de longe várias vezes. Primeiro no bar interno, depois ao lado da piscina, sempre cercado por pessoas bonitas, bebidas e olhares desejosos. Mas ele não a viu. Nunca via.
Por volta das onze, Iris foi ao banheiro e Luna decidiu respirar um pouco do lado de fora. Passou por uma das portas de vidro do salão e saiu no terraço dos fundos. Ali, algumas vozes ecoavam, e ela reconheceu a risada que seu coração conhecia tão bem.
Cael.
Ela se aproximou devagar, escondendo-se atrás de uma pilastra de pedra. Queria apenas ouvir a conversa. Só por um segundo. Só para sentir que ainda fazia parte do mundo dele — mesmo que só como espectadora.
Mas o que escutou destruiu tudo.
— — Você viu a lunática apaixonada por mim? — Cael disse, rindo. — Aquela... Luna. A garota que fica me seguindo como se eu fosse o último homem da Terra.
— — A da universidade? Aquela que fica na biblioteca?
— — Essa mesmo. Vive aparecendo do nada. Uma vez até trouxe um café com meu nome escrito com coraçõezinhos na tampa. — Ele gargalhou. — Eu quase morri de vergonha. Parece uma cadelinha perdida.
Uma das mulheres — alta, loira, com vestido prateado — soltou um riso sarcástico.
— — Você devia dar uma chance. Ela parece... dedicada.
— — Dedicada é o caramba. Eu gosto de mulher de verdade. Aquela garota é uma adolescente carente, totalmente fora do meu tipo. Eu transo com mulheres, não com fãs.
O mundo parou.
Cada palavra foi uma punhalada no peito de Luna. Sentiu as pernas fraquejarem. O sangue sumir do rosto. E o coração... aquele que tinha batido tantas vezes por ele... agora só pulsava de vergonha e dor.
Ela se virou, sem conseguir conter as lágrimas, e correu para longe dali.
De volta ao seu quarto, com o vestido ainda grudado no corpo e o rosto marcado pelo choro, Luna se jogou na cama com o diário aberto ao lado. Não escreveu. Não conseguiu. Apenas encarou a página em branco como se aquilo representasse exatamente o que sentia por dentro.
O vazio de uma esperança que acabou.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Joanice Gonçalves
Safado, ordinário.
2025-07-06
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