Primeira semana no posto foi pancada.
E não falo de tiro não — embora eu tenha escutado uns dois ou três durante as madrugadas.
Falo de realidade. De ver gente que não tem o que comer, mas anda sorrindo.
Mãe com três filhos, todos gripados, e ela pedindo pra atender só um “porque não quer abusar”.
Ali, eu entendi que São Paulo tinha me dado diploma.
Mas foi a rocinha que começou a me ensinar a ser enfermeira de verdade.
No terceiro dia, eu tava limpando a sala de curativo quando ouvi o barulho de motos parando na frente do posto.
Duas. Barulhentas. Rápidas.
— Fica tranquila — murmurou Zefa sem nem olhar pela janela. — É o povo do morro.
O povo do morro.
Demorei pra entender o peso daquelas palavras.
Não era “povo” como no geral. Era eles. Os que mandam, os que são respeitados — ou temidos.
Eu tava de costas, mas senti o ar mudar quando a porta abriu.
Alguém entrou.
O silêncio foi imediato. Até as crianças da recepção pararam de falar.
Me virei devagar. E vi ele.
Alto, moreno, olhar escuro feito noite sem lua.
Corrente no pescoço, tatuagem subindo pelo braço. Uma presença que falava antes dele abrir a boca.
Bruno. O Pesadelo.
Ele olhou direto pra mim, como quem analisa.
Não foi paquera. Não foi simpatia.
Foi teste.
— Você que é a nova, né?
A voz dele era baixa, grave.
Assenti, mantendo o queixo erguido.
— Sou. Roberta.
Ele deu um meio sorriso, aquele que não chega nos olhos.
— Vai durar quanto tempo aqui, Roberta?
— O tempo que for preciso.
Foi automático. Eu não pensei. Só respondi.
E na hora, percebi o canto da boca dele subir um pouco mais, como se achasse graça da minha resposta.
— Veremos.
Ele deu meia-volta e saiu.
Não disse pra que veio, não levou ninguém, não pediu nada. Só apareceu.
Mas a sensação que ficou foi como se um furacão tivesse passado e saído pela mesma porta.
Zefa se aproximou devagar.
— É ele. Pesadelo.
— Eu imaginei.
— Aquilo ali não brinca. E nem repete aviso.
— Nem eu — respondi.
Ela me olhou por um tempo, depois riu. Uma risada seca, mas cheia de aprovação.
— Gosto de você, menina.
Naquela noite, deitei e revirei na cama por horas.
Pensando naquele olhar.
Na forma como ele entrou, como se o lugar fosse dele — e era.
E em como, por alguma razão que eu não entendi na hora… meu corpo inteiro ficou alerta depois daquele encontro.
Eu não sabia ainda, mas aquela troca rápida, aquele olhar pesado, aquele tom de voz…
Foi o começo de um problema que eu nem sonhava o tamanho.
Porque tem coisa que a gente sente antes de acontecer.
E eu…
Eu senti que Bruno não ia ser só mais um rosto no morro.
Não sei o que o esse morro reserva para mim, só espero não sobre mais.
Me lembro do Fernando e só de imagina como ele ficou quando vou que tinha ido embora,.meu corpo todo ser arrepia espero nunca mais vê lo.
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Atualizado até capítulo 59
Comments
Tania Massaque
estou me confundindo tos personagens ela loira e o marido descreveu morena, ele loiro como nas fotos deles e e ela descreveu moreno, acho Q os personagens foram trocados
2025-07-11
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