Capítulo 2

Cadê você, Roberta?

Essa pergunta tá me martelando a cabeça desde ontem.

Cheguei em casa e ela não tava.

Achei que fosse pirraça. Que tivesse saído pra esfriar a cabeça. Mas aí vi o guarda-roupa… vazio.

As roupas dela, as coisas de higiene, até aquele quadro ridículo de flor que ela jurava que acalmava o ambiente… sumiu.

Ela foi embora.

Fugiu.

Aí veio a raiva.

Dei um soco na parede da sala. Quebrei um copo. Quase quebrei meu próprio punho.

Ela teve coragem.

Coragem de me deixar. De sair sem avisar.

Sem olhar pra trás.

Sem pensar no que ia causar em mim.

Ela sabe que eu amo ela.

Sabe que eu sou o único que já deu tudo por ela.

Mesmo depois de tudo que aconteceu, mesmo depois dela me tirar o que era meu… o meu filho.

Eu perdoei.

Ou tentei.

Mas ela nunca quis ajudar, nunca quis entender minha dor. Sempre cheia de opinião, de independência, de querer bancar a forte.

Foi por causa dessa teimosia que perdemos nosso filho. Foi.

E ainda assim… eu fiquei.

Ela não.

Ela preferiu fugir.

Mas deixa eu te contar uma coisa, Roberta:

Você pode mudar de cidade, de nome, de vida…

Mas você é minha.

Você sabe disso.

A gente briga, a gente se machuca, mas é amor. É real. E ninguém vai te amar como eu.

Hoje, depois que percebi que ela tinha ido embora mesmo, liguei no hospital onde ela trabalhava. Nada.

Liguei pra uma ex-colega dela — aquela falsa sonsa que sempre quis se meter. Ela desconversou. Disse que não sabe de nada.

Mentira.

Ela sabe. Alguém sabe. E eu vou descobrir.

Sentei na cama dela, peguei a blusa que ela deixou caída no canto e respirei fundo. O cheiro dela ainda tava ali.

E esse cheiro me dá raiva. Me dá saudade. Me dá vontade de encontrar ela agora e...

Eu não sei se bato ou se beijo.

Se abraço ou se arrebento.

Só sei que vou buscar.

E quando eu encontrar…

Ela vai ver o que acontece quando alguém tenta me arrancar a única coisa que me fazia ser alguém melhor.

Roberta pode correr.

Ela achou que ia fugir de mim.

Que podia desaparecer no mundo como se eu fosse qualquer um.

Roberta me subestima.

Sempre subestimou.

Desde o começo era assim: respondia demais, olhava nos meus olhos como se não tivesse medo. E mesmo depois de tudo que aconteceu, mesmo depois do que eu perdi… ela continuou batendo de frente.

E aí um dia simplesmente… sumiu.

Pegou umas roupas, uns trocados, o que restava da dignidade que eu ainda deixava pra ela…

E fugiu.

Mas ninguém some de mim.

Eu sou polícia.

Eu tenho contatos, tenho acesso, tenho nome. Mesmo sujo, ainda tem peso.

E eu sei procurar.

Comecei com calma.

Fui no hospital onde ela trabalhava.

Colegas disseram que ela pediu demissão do nada, sem aviso. Que andava estranha.

Triste.

Depois fui atrás das amigas.

Duas fingiram que não sabiam de nada. Uma chorou. A outra gaguejou.

— Ela tá bem? — perguntei.

— Tá... tá sim, Fernando. Ela só... precisava recomeçar.

Recomeçar o caralho.

A gente recomeçava junto.

A gente tava tentando, mesmo depois de tudo.

Mesmo depois do bebê…

A dor me corrói.

Ela sabe disso.

Ela sabia que perder nosso filho ia me destruir.

E mesmo assim teve a audácia de me culpar.

De se afastar.

De olhar pra mim como se eu fosse um monstro.

Mas ela era minha.

Ainda é.

Passei dois dias em silêncio. Só maquinando.

Na noite do terceiro, um contato da PM me ligou.

— Lembra da mulher que tu pediu pra rastrear?

— Fala.

— Pegaram o nome dela no sistema de saúde. Atualizou cadastro.

— Aonde?

— Rio de Janeiro. Zona sul.

— Bairro?

— rocinha

Fechei os olhos e ri. Baixo.

Corajosa, hein, Roberta?

Subir morro achando que ia se esconder.

Trabalhar em postinho achando que ninguém ia notar.

Pois agora eu sei onde procurar.

Agora eu sei onde ela tá.

E vou subir.

Com calma. Com jeito.

Mas vou subir.

Porque se ela achou que podia fugir de mim,

ela ainda não entendeu:

Eu sou o castigo.

E ela é minha.

Mas ninguém corre pra sempre.

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