Capítulo 3 – A Dor que Fica

O quarto cheirava a remédio e despedida.

Aurora estava sentada ao lado da cama, como fazia todas as noites desde que chegou. A mão de Leonardo repousava entre as suas — fria, ossuda, com a pele já fina demais. Os monitores piscavam em silêncio, o ar sendo bombeado de maneira quase imperceptível. Tudo estava… lento.

Ela não dormia havia dias. O medo de fechar os olhos e acordar tarde demais era maior do que o cansaço. Mesmo assim, piscava mais do que deveria, lutando contra o sono e contra as lágrimas.

— Ainda tá aqui? — murmurou Leonardo, com um fio de voz.

Aurora se curvou para perto dele.

— Não vou a lugar nenhum.

Ele sorriu. Fraco, quase um esboço.

— Você é forte… como sua mãe.

A dor atravessou o peito dela como um punhal. Aurora segurou com mais firmeza sua mão.

— E você está cansado, né?

— Estou. Mas... mais cansado de não ter vivido o suficiente ao seu lado.

Aurora fechou os olhos. Não conseguia perdoá-lo completamente, mas também não conseguia odiá-lo. Não agora. Não assim.

— Eu... deixei tudo arrumado. O Vicente... vai cuidar dos papéis. Eduardo… vai cuidar de você. E o Gabriel… — ele parou, tentando respirar.

— Está tudo bem — sussurrou Aurora. — Já me falou sobre ele.

— Prometa que vai... deixar ele te proteger, mesmo que... mesmo que não goste de você no começo.

Aurora engoliu seco.

— Prometo.

Leonardo apertou sua mão uma última vez. E então, olhou nos olhos dela com uma calma que mais parecia resignação.

— Você me deu paz, filha. Mesmo por pouco tempo. Obrigado… por não me odiar tanto quanto eu mereço.

Foi a última coisa que disse antes de seu peito subir… e não descer mais.

O monitor emitiu um som longo, agudo. Um ruído que Aurora nunca esqueceria.

Ela não gritou. Não caiu no chão. Não implorou.

Ela apenas ficou ali, com a mão dele entre as suas, até que os médicos vieram e desligaram os aparelhos. Até que Carolina entrou com os olhos marejados. Até que a dor começou a se espalhar de forma quase física, brutal, sufocante.

Leonardo Vasconcelos estava morto.

---

O funeral foi discreto, como ele pediu. Nada de discursos vazios, nada de flores extravagantes. Apenas os mais próximos.

Aurora permaneceu de pé, imóvel, com um vestido preto simples e os olhos secos. As lágrimas já tinham caído na madrugada anterior. Agora, só restava o silêncio.

Eduardo estava lá, firme, com expressão contida. Um homem elegante, de voz calma e postura de liderança. Ao lado dele, estava Gabriel — o filho que Aurora apenas conhecia de nome. Alto, moreno, cabelo desgrenhado e um olhar duro. Ele sequer a cumprimentou.

No momento do enterro, Aurora se ajoelhou diante do túmulo, e colocou ali um pequeno papel dobrado.

> "Você chegou tarde, mas chegou. E isso vale mais do que nada. Eu te amei por alguns dias, pai. E foi o suficiente para me mudar para sempre."

---

Duas noites depois, Aurora arrumou suas coisas. Poucas roupas, alguns pertences novos que Leonardo havia lhe dado, e a carta dele — guardada como relíquia.

Eduardo a esperava no carro. Gabriel no banco da frente, de braços cruzados, fones nos ouvidos, encarando o vazio como se ela nem estivesse ali.

O caminho até a nova casa foi silencioso. Aurora olhava pela janela, sentindo o peito vazio, como se uma parte sua tivesse sido enterrada junto com Leonardo.

Quando chegaram, Eduardo abriu a porta para ela, com um sorriso gentil.

— Aurora, esta é sua casa agora. Não precisa agradecer nem pedir licença. Leonardo me pediu para cuidar de você, e é isso que farei.

Ela apenas assentiu.

Gabriel subiu as escadas sem dizer uma palavra.

Aurora ficou no hall, olhando em volta. A casa era linda. Moderna. Mas parecia gelada. E o olhar de Gabriel… ainda mais.

Naquela noite, deitou-se na cama desconhecida e apertou o travesseiro com força. Longe do orfanato. Longe do pai. Perto de estranhos.

O luto ainda pulsava. A saudade, recente, era uma faca em carne viva. Mas o que ela não sabia é que o pior ainda estava por vir.

Ela perdera um pai.

Mas acabara de entrar em uma casa onde perderia o controle.

Do coração.

Dos limites.

De si mesma.

Capítulos
1 Capítulo 1 – O Nome Que Eu Nunca Disse
2 Capítulo 2 – Uma Vida Que Nunca Foi Minha
3 Capítulo 3 – A Dor que Fica
4 Capítulo 4 – Onde o Silêncio Queima
5 Capítulo 5 – Tudo Que Ele Não Esperava
6 Capítulo 6 – Tão Perto, Tão Errado
7 Capítulo 7 – Quando o Acaso é Deliberado
8 Capítulo 8 – Aquilo Que Não Se Diz
9 Capítulo 9 – A Primeira Gota do Veneno
10 Capítulo 10 – O Peso da Verdade
11 Capítulo 11 – Antes Que o Sol Nasça
12 Capítulo 12 – Entre o Perdão e a Fuga
13 Capítulo 13 – Quando o Amor Vira Manchete
14 Capítulo 14 – Segredos que Queimam
15 Capítulo 15 – Sangue e Mentiras
16 Capítulo 16 – A Mentira que Pode Matar
17 Capítulo 17 – Sombras da Verdade
18 Capítulo 18 – À Beira do Abismo
19 Capítulo 19 – Luz Após o Caos
20 Capítulo 20 – Três Anos Depois
21 Capítulo 21 – Justiça ou Vingança
22 Capítulo 22 – Convites, Beijos e Sussurros Estranhos
23 Capítulo 23 – Palavras que Magoam
24 Capítulo 24 – O Alvo Mais Frágil
25 Capítulo 25 – Silêncio Antes da Explosão
26 Capítulo 26 – Entre a Mãe e a Leoa
27 Capítulo 27 – O Laço se Aperta
28 Capítulo 28 – O Dia em que o Mundo Parou
29 Capítulo 29 – A Máscara do Inimigo
30 Capítulo 30 – O Veneno da Serpente
31 Capítulo 31 – A Voz Que Rompe o Silêncio
32 Capítulo 32 – Laços de Sangue e Facas Ocultas
33 Capítulo 33 – Entre a Vida e o Amor
34 Capítulo 34 – Entre o Amor e o Legado
35 Capítulo 35 – Sombras Dentro de Casa
36 Capítulo 36 – O Nome Que Muda Tudo
37 Capítulo 37 – Julgando o Coração
38 Capítulo 38 – A Carta Escondida
39 Capítulo 39 – O Tiro na Luz do Dia
40 Capítulo 40 – O Último Dia
41 Epílogo – Depois da Tempestade
Capítulos

Atualizado até capítulo 41

1
Capítulo 1 – O Nome Que Eu Nunca Disse
2
Capítulo 2 – Uma Vida Que Nunca Foi Minha
3
Capítulo 3 – A Dor que Fica
4
Capítulo 4 – Onde o Silêncio Queima
5
Capítulo 5 – Tudo Que Ele Não Esperava
6
Capítulo 6 – Tão Perto, Tão Errado
7
Capítulo 7 – Quando o Acaso é Deliberado
8
Capítulo 8 – Aquilo Que Não Se Diz
9
Capítulo 9 – A Primeira Gota do Veneno
10
Capítulo 10 – O Peso da Verdade
11
Capítulo 11 – Antes Que o Sol Nasça
12
Capítulo 12 – Entre o Perdão e a Fuga
13
Capítulo 13 – Quando o Amor Vira Manchete
14
Capítulo 14 – Segredos que Queimam
15
Capítulo 15 – Sangue e Mentiras
16
Capítulo 16 – A Mentira que Pode Matar
17
Capítulo 17 – Sombras da Verdade
18
Capítulo 18 – À Beira do Abismo
19
Capítulo 19 – Luz Após o Caos
20
Capítulo 20 – Três Anos Depois
21
Capítulo 21 – Justiça ou Vingança
22
Capítulo 22 – Convites, Beijos e Sussurros Estranhos
23
Capítulo 23 – Palavras que Magoam
24
Capítulo 24 – O Alvo Mais Frágil
25
Capítulo 25 – Silêncio Antes da Explosão
26
Capítulo 26 – Entre a Mãe e a Leoa
27
Capítulo 27 – O Laço se Aperta
28
Capítulo 28 – O Dia em que o Mundo Parou
29
Capítulo 29 – A Máscara do Inimigo
30
Capítulo 30 – O Veneno da Serpente
31
Capítulo 31 – A Voz Que Rompe o Silêncio
32
Capítulo 32 – Laços de Sangue e Facas Ocultas
33
Capítulo 33 – Entre a Vida e o Amor
34
Capítulo 34 – Entre o Amor e o Legado
35
Capítulo 35 – Sombras Dentro de Casa
36
Capítulo 36 – O Nome Que Muda Tudo
37
Capítulo 37 – Julgando o Coração
38
Capítulo 38 – A Carta Escondida
39
Capítulo 39 – O Tiro na Luz do Dia
40
Capítulo 40 – O Último Dia
41
Epílogo – Depois da Tempestade

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