[Ponto de vista de Enzo]
Enzo Ravary não era o tipo de homem que se deixava abalar com facilidade.
Mas ali estava ele, parado diante da grande janela envidraçada de seu escritório na Ravary Enterprises, com o celular esquecido na mão e a mente longe dos contratos e reuniões que compunham seus dias.
Desde a noite anterior, uma única imagem o perseguia: os olhos de Patrícia.
Não era apenas beleza. Era… verdade.
Enquanto todos à sua volta pareciam encenar papeis bem ensaiados — empresários bajuladores, socialites interesseiras, parceiros sorridentes demais — Patrícia havia lhe parecido crua, real. E, de algum modo que ele ainda não entendia, familiar.
— Enzo? — a voz de Bianca o trouxe de volta.
Ela entrou sem bater, como fazia quando queria lembrar que ainda era dona de alguma parte da vida dele.
— O jantar com o conselheiro do Grupo Montecchi foi remarcado para quinta. E o embaixador de Langéria confirmou presença no evento de sexta.
— Ótimo — ele disse, sem emoção.
Bianca o observou com atenção.
— Você está estranho desde ontem.
Ele não respondeu. Voltou a olhar pela janela.
— A mulher da galeria — ela disse, como quem lança uma rede. — Conhecia?
— Não — ele respondeu de imediato. Rápido demais.
Bianca ergueu uma sobrancelha.
— Mas se interessou, não foi?
Enzo virou o rosto para ela, sério.
— Você quer dizer algo?
— Só estou observando — ela respondeu com um sorriso controlado. — Você nunca se detém por tanto tempo em alguém. Muito menos numa desconhecida.
— Talvez eu esteja apenas cansado — ele cortou.
Bianca se aproximou, pousando a mão no braço dele com delicadeza ensaiada.
— Seja quem for, não é nada. Eu te conheço, Enzo. Não é o tipo de homem que se distrai com qualquer mulher. Isso passa.
Mas ela sabia. Sentia. Patrícia era um risco.
E precisava desaparecer.
[Ponto de vista de Patrícia]
Patrícia vomitou pela segunda vez naquela manhã e teve que se apoiar na pia para não cair.
As náuseas haviam começado discretas, mas agora estavam tomando conta de tudo. O simples cheiro de café a fazia enjoar. O perfume de uma colega no elevador do prédio a fazia querer fugir.
Ela passou água no rosto e se encarou no espelho.
— Você está grávida — murmurou para si mesma. — Não doente. Respira.
Tentava se manter firme, mas a pressão era constante. O corpo mudava. Os hormônios a deixavam emocionalmente vulnerável. E, além disso, havia o medo. Medo de Bianca. Medo da reação de Enzo se descobrisse. Medo de não conseguir proteger aquele bebê… nem a si mesma.
Apesar de tudo, um pensamento a assombrava mais do que gostaria de admitir:
Por que ela também não conseguia parar de pensar nele?
O jeito como ele a olhou, como se a visse. Como se quisesse saber quem ela era de verdade.
Mas ela não podia se dar ao luxo de desejar aquilo. Desejar Enzo Ravary era perigoso. Estar próxima a ele significava se expor. Ser descoberta. E perder o controle do pouco que ainda lhe restava.
Naquela tarde, ao sair para resolver algumas pendências no cartório, Patrícia teve outra surpresa.
Estava sentada numa cafeteria discreta, esperando a papelada ficar pronta, quando ouviu a voz dele novamente.
— Você tem mesmo o dom de aparecer nos lugares mais inesperados.
Ela olhou para o lado.
Enzo.
Em roupas mais casuais — camisa cinza e blazer leve —, mas com a mesma intensidade no olhar.
Ela sentiu o coração acelerar.
— Isso está começando a parecer perseguição — ela brincou, tentando esconder o nervosismo.
— Eu juro que não é — ele disse, sorrindo. — Mas admito que, depois de ontem, fiquei curioso. A gente se esbarra demais para ser acaso.
— Ou você só anda nos mesmos lugares que eu.
Ele riu.
— Pode ser. Mas, já que o universo insiste... posso me sentar?
Ela hesitou. Pensou em recusar. Fugir. Inventar uma desculpa. Mas seus próprios pés não se moviam.
— Pode.
Ele sentou-se, e por alguns segundos houve apenas silêncio entre eles. Um silêncio confortável — e, ao mesmo tempo, carregado.
— Você está bem? — ele perguntou, genuíno.
Ela assentiu, engolindo em seco.
— Estou. Só... vivendo dias intensos.
— Isso, eu entendo bem.
Enzo estudava seus traços com mais atenção do que gostaria. Havia algo naquela mulher. Uma tristeza discreta misturada com força. Um olhar que carregava um mundo. E, mesmo sem saber o motivo, ele se sentia atraído, como se algo dentro dele reconhecesse algo dentro dela.
— Você tem filhos? — ele perguntou, repentinamente.
A pergunta a pegou de surpresa. Patrícia arregalou ligeiramente os olhos e apertou a xícara entre os dedos.
— Ainda não.
Ainda não.
A frase escapou sem que ela percebesse. E Enzo pareceu captar a hesitação.
Mas antes que dissesse qualquer coisa, o celular dele tocou. Ele atendeu, irritado, e se levantou.
— Preciso ir — disse, após desligar. — Mas… posso te ver de novo?
Ela não respondeu de imediato. Apenas o olhou, tentando entender por que o coração batia tão rápido.
— Talvez — disse, se levantando também. — Se o universo quiser.
Enzo sorriu.
— Acho que ele quer.
E se afastou.
Patrícia voltou a se sentar, olhando para a cadeira vazia à sua frente. Patrícia permaneceu na cafeteria mesmo depois de Enzo sair. Seus dedos acariciavam o fundo da xícara vazia, e seu coração ainda batia como se estivesse correndo. Ela estava grata pela cadeira à sua frente estar vazia — mas ao mesmo tempo, queria que ele tivesse ficado mais um pouco.
“Isso não é seguro,” murmurou para si mesma.
Não era. Estar perto dele despertava sentimentos que ela não podia se permitir sentir. Desejo. Curiosidade. Um tipo de confiança que não fazia sentido — porque, no fundo, ela sabia o que ele representava. Poder, risco… e um abismo entre os dois.
Mas o jeito como ele a olhava… como se pudesse vê-la por dentro…
Era exatamente isso que mais a assustava.
Ela se levantou e saiu apressada da cafeteria, sentindo que precisava respirar. O ar da rua estava quente, abafado. O barulho dos carros e das pessoas parecia vir de outro mundo.
A mente dela girava. E a gravidez, os hormônios, os medos, tudo parecia conspirar contra a paz que ela buscava.
Não podia se apaixonar por ele.
Não quando carregava o maior segredo da vida dele no ventre.
Naquela noite, Bianca estava em frente ao espelho de seu closet, tirando os brincos de diamante com movimentos calculados, enquanto observava o reflexo do próprio rosto. A ligação que recebera mais cedo queimava em sua mente.
— Ele a viu de novo.
A frase do detetive particular havia sido simples, mas cortante.
Três encontros.
Três.
Ela conhecia Enzo bem demais. Sabia como ele era racional, seletivo, reservado. Se ele insistia em se aproximar de uma mulher, não era por acaso. Alguma coisa naquela vadia o puxava. E Bianca se recusava a assistir isso acontecer.
Não depois de tudo que fizera.
Ela atravessou o closet, abriu uma gaveta secreta e pegou um envelope.
Fotos.
Cópias do prontuário da clínica.
A ultrassonografia inicial de Patrícia.
Tudo o que precisava para destruir a reputação dela, se fosse necessário.
Bianca apertou os papéis entre os dedos como se esmagasse a ameaça com as próprias mãos.
Se Patrícia não queria aceitar dinheiro…
Aceitaria medo.
E se mesmo isso não fosse o suficiente…
Então ela se certificaria de que Enzo jamais acreditaria nela se a verdade viesse à tona.
Nem que para isso tivesse que manchar o nome de Patrícia por completo.
Enquanto isso, Patrícia, exausta emocionalmente, chegava em casa.
Tomou um banho demorado, e ao se olhar no espelho, viu que sua barriga já começava a dar os primeiros sinais. Era sutil. Mas ali estava. Um lembrete de que o tempo corria.
Deitou-se na cama, abraçada ao travesseiro.
E enquanto o sono a levava aos poucos, uma única imagem se formou em sua mente:
Os olhos de Enzo, tentando decifrá-la.
Ela não sabia quanto tempo ainda conseguiria esconder a verdade.
Mas sabia de uma coisa:
Não podia confiar em ninguém.
Muito menos no próprio coração.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 53
Comments
bete 💗
que ele descubra e não deixe essa louca fazer nada contra ela e o bebê por favor
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-07-01
1