O endereço que recebeu não constava em nenhum mapa público.
Era uma casa discreta nos Jardins, escondida entre árvores, muros e códigos.
Lá dentro, cinco telas estavam acesas, mostrando imagens em tempo real:
o prédio da Mancini Corp.
a cobertura de Leon.
e uma câmera discreta em frente a uma clínica abandonada no centro da cidade.
Leticia passou pelos computadores com a precisão de quem treinou para isso.
Mas ninguém sabia que ela era mais do que um nome bonito em capas de revistas financeiras.
Antes de desaparecer anos atrás, ela foi treinada por um consórcio internacional de inteligência corporativa — financiado em silêncio por três grandes bancos europeus.
Aquela era a outra parte dela.
A parte que nem Leon conhecia.
— Alguma movimentação? — perguntou ao homem sentado em frente aos monitores.
— Sim. A mulher que se apresentou como Juliana está em reunião há três horas no subsolo do Edifício Corsini. Adivinha com quem?
— Com quem?
O analista virou a tela.
leticia reconheceu a imagem.
Eduardo Salazar.
Supostamente morto.
— Bastardos — ela murmurou.
— Quer que a gente ative o rastreamento físico?
— Ainda não — respondeu. — Eles acham que me desestabilizaram. Que mexer com a imagem da minha mãe me tiraria do jogo.
Eles não sabem quem eu sou.
Ela virou-se e pegou um fichário preto.
Ali estavam todos os nomes que cruzaram seu passado. Os que traíram. Os que sumiram. Os que achavam que estavam seguros.
No topo da lista:
Leon Mancini.
Mas antes de qualquer ataque, ela precisava saber:
Ele era cúmplice…
ou só mais um peão usado?
À noite, leticia entrou sozinha na sede da Mancini Corp.
O crachá especial ainda funcionava.
Passou pelas catracas como se nunca tivesse partido.
Subiu até o 49º andar. A sala onde estavam guardados os arquivos físicos de contratos antigos.
Precisava encontrar o original do acordo "ST-02", e uma possível cópia do testamento do pai dela — algo que Juliana, a “morta”, jamais poderia tocar legalmente.
Quando abriu a gaveta, congelou.
As pastas estavam lá.
Mas também…
uma carta com seu nome. Escrita à mão. Selada com cera vermelha.
Ela puxou devagar.
> “Filha, se você está lendo isso, é porque meus erros chegaram até você.
Perdoe-me por não saber ser pai.
Mas a verdade sobre sua mãe… nunca foi minha para contar.
Eles vão mentir. Vão inverter a ordem das coisas.
Mas você… é mais forte que todos eles juntos.”
Leticia apertou o envelope contra o peito.
E naquele instante, uma certeza surgiu.
Ela não fugiria mais da verdade.
Ela ia destruí-la. E reconstruir tudo — do jeito dela.
leticia segurava a carta contra o peito como se contivesse o último vestígio de humanidade deixado por seu pai.
Mas o que a tocava já não era emoção.
Era estratégia.
Cada frase ali era uma pista. Cada palavra, um aviso disfarçado.
Ela dobrou a carta, guardou com cuidado, e puxou a pasta marcada como “ST-02 – Cópia Original”.
Folheou devagar.
Até que, no fim do contrato, em letra pequena e quase invisível, viu algo que não aparecia na versão digital:
> "Acordo submetido à aprovação de J.R., responsável direta pela origem do capital."
J.R.
Juliana Rodrigues.
— Então era verdade — sussurrou. — Ela financiou o acordo?
Ou... alguém usou o nome dela para esconder a origem suja do dinheiro?
leticia acionou seu contato internacional em Zurique — um ex-analista financeiro que devia favores a ela desde o escândalo de Buenos Aires.
> “Preciso da origem do capital registrado sob o código 118-ZN. Movimentado entre 2019 e 2020. Nominalmente em nome de Juliana C. Rodrigues.”
O retorno veio rápido.
> “Negado. Conta protegida por blindagem diplomática.”
Diplomática?
Leticia franziu a testa.
— Quem está protegendo ela?
Naquela noite, ela voltou para o apartamento, mas não dormiu.
No silêncio do quarto, conectou seu servidor privado e usou um código que nunca havia ativado desde que deixou a Europa:
Oráculo/Vermelho.
Era uma permissão de espionagem que exigia alto risco. Mas Letic já tinha perdido coisas demais para hesitar agora.
A tela carregou.
Um mapa mundial apareceu.
Linhas vermelhas. Nomes ocultos.
E então:
“Juliana C. Rodrigues – Registro falso desde 2006.
Identidade real: Clarisse Verona – Ex-agente de contra-inteligência brasileira.
Recrutada por uma divisão privada da Interpol. Dados lacrados.”
Leticia ficou sem ar.
Clarisse.
Não era só sua mãe. Era uma espiã.
E Leon…
O que ele sabia disso?
Ela digitou uma última mensagem naquela madrugada, para um número que prometera nunca mais usar.
> “Sinto muito. Mas preciso saber o que você sabia.”
Minutos depois, ele respondeu:
> “Sempre soube que ela não era só sua mãe.
Mas nunca soube que ela ainda estava viva.”
leticia leu em silêncio.
Os dedos trêmulos.
O coração — não quebrado — mas preparado.
Ela se levantou, foi até a janela, e disse apenas para si mesma:
— Está tudo voltando.
E agora sou eu quem escolho quem fica... e quem cai.
As luzes da cidade continuavam piscando como um coração artificial.
Lá de cima, Leticia observava São Paulo em silêncio.
A verdade sobre Juliana — ou Clarisse — ainda queimava em sua mente.
“Ex-agente de contra-inteligência.
Identidade lacrada.
Desaparecida por ordem oficial.”
— Nunca foi por mim — ela murmurou, amargando o gosto da decepção.
A mulher que a abandonou tinha um plano maior.
leticia era só um detalhe.
Ou pior… uma peça.
Na manhã seguinte, ela foi até o arquivo morto do Fórum Central, usando o nome de uma antiga cliente que devia favores. Procurava registros do período em que sua mãe “morreu”.
Mas o que achou foi algo pior:
> "Corpo jamais identificado com 100% de certeza.
Enterro autorizado por Leon Mancini."
Leticia parou.
Olhou novamente o papel.
Leon.
Ele assinou o laudo de autorização.
Ele sepultou aquela mulher.
Ele viu o corpo.
E ainda assim fingiu surpresa quando Juliana voltou.
— Filho da P&@€£… — ela murmurou, sentindo o estômago revirar.
Agora não havia mais dúvidas.
Leon sabia mais do que dizia.
Muito mais.
Naquela noite, ela recebeu um envelope não solicitado em seu quarto de hotel.
Sem remetente.
Sem carimbo.
Dentro, uma única folha.
> “Se continuar cavando, vai encontrar seu próprio nome enterrado.”
— J.
Leticia apertou o papel até os nós dos dedos ficarem brancos.
Sentiu um arrepio no pescoço.
Mas não foi medo.
Foi fome.
Fome de resposta.
Fome de controle.
Fome de revanche.
Ela saiu do hotel sem segurança, sem aviso.
Pegou um carro comum, dirigiu até o local que guardava para emergências.
Um apartamento vazio.
Gelado.
Mas lá, escondida sob o piso de madeira, havia uma caixa que ela não abria há anos.
Dentro, um passaporte falso.
Uma arma leve.
E uma única foto:
Ela e Leon, juntos, antes de tudo começar.
Ela encarou a imagem.
— Você me enterrou junto com ela.
Mas eu voltei.
E agora, sou eu quem cava.
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Atualizado até capítulo 23
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