capítulo 3 - Segredos queimam em silêncio

Às três da manhã, leticia ainda estava acordada.

O apartamento estava escuro, exceto pela luz azulada do notebook iluminando seu rosto. O arquivo “Acordo leticia ” continuava bloqueado. Aquilo incomodava mais do que ela admitia. Por que seu nome estava vinculado a algo tão secreto? E por que Leon nunca mencionou isso?

Tentou mais três combinações de senha. Nenhuma funcionou.

Mas ao tentar a quarta, digitou instintivamente algo que veio da memória.

Uma palavra.

A palavra que ele sussurrava sempre que ela ia embora.

“Fica.”

A tela piscou.

Acesso concedido.

O sangue dela gelou.

---

O arquivo abriu.

Dentro, um único documento.

Contrato datado de quatro anos atrás, assinado pelo próprio Leon Mancini.

Tinha uma cláusula especial, escondida no meio de páginas jurídicas:

> “Em caso de afastamento voluntário da Sra. leticia Rodrigues, toda decisão estratégica tomada a partir da data de sua renúncia deverá ser arquivada e supervisionada. Caso retorne, o poder de veto e comando sobre qualquer negociação internacional será automaticamente restituído a ela.”

Ela sentiu um nó na garganta.

Leon havia criado aquilo antes dela ir embora.

Antes da última noite.

Antes da queda.

Era como se ele soubesse que ela voltaria.

Ou como se tivesse torcido para isso o tempo todo.

---

De repente, o silêncio do quarto foi rompido por algo mais barulhento que o ar:

memórias.

leticia fechou os olhos.

E ali, na solidão da madrugada, lembrou-se daquela noite.

---

Flashback – Quatro anos atrás

— Fica — ele disse, encostado na parede do quarto, apenas com a calça social desabotoada.

Os olhos dele estavam embriagados de tudo que ela era.

— Amanhã eu viajo, Leon. Assinei o contrato. Preciso ir.

— Aquele contrato te afasta de mim, não te aproxima de nada.

— Ele me dá o que você nunca deu. Liberdade.

— E eu te dei tudo, Leticia

— Você me deu controle. Me deu paixão. Me deu medo. Eu queria amor.

Ele se aproximou, encostando a testa na dela.

A respiração quente. O corpo tenso.

— Eu não sabia como amar você. Mas juro… eu tentei.

Ela passou a mão no rosto dele, devagar.

— Eu não queria que você tentasse, Leon.

Queria que soubesse.

Ela saiu naquela noite.

Sem dizer adeus.

---

Fim do flashback

Leticia voltou ao presente com os olhos marejados, mas o rosto firme.

Levantou-se. Foi até o espelho.

O reflexo mostrava a mulher que ele não conseguiu segurar.

E a mulher que agora…

estava de volta.

Pegou o celular.

Digitou uma única mensagem:

“A gente precisa conversar. Sem mentiras.”

A resposta veio segundos depois.

“Cobertura. Agora.”

Ela respirou fundo.

Vestiu o casaco.

Dessa vez, não era ele que a chamava.

Era ela que escolhia voltar.

Confronto na cobertura

O elevador subia devagar demais.

Leticia apertava levemente a lateral do casaco, sentindo o próprio pulso acelerar. Mas não era medo. Era raiva contida. Desejo mal curado. E uma necessidade feroz de ter respostas.

As portas se abriram com um sussurro metálico.

A cobertura de Leon era escura, silenciosa. Apenas algumas luzes quentes acesas — estrategicamente posicionadas para projetar sombras e esconder intenções.

Ele estava de pé, na varanda, como sempre.

De costas.

Esperando.

— Eu vi o contrato — ela disse, direto. — A cláusula. O meu nome enterrado naquela papelada.

Leon não se virou.

— Esperava que encontrasse. Um dia.

— Por que fez aquilo?

— Porque você sempre foi mais que uma funcionária.

Mais que uma amante.

Mais do que eu merecia.

Ela entrou, parando perto da porta da varanda.

— Não banque o arrependido agora, Leon. Você me destruiu. Você me fez fugir.

Ele se virou devagar, os olhos cansados, mas intensos.

— Eu fiz o que achei certo... pra proteger você.

— Mentira — ela cuspiu a palavra. — Você fez pra proteger seu império. Seu nome. Seu ego.

Leon se aproximou dois passos.

Ela não recuou.

— Você acha que foi fácil ver você ir embora? — ele disse baixo. — Cada dia depois da sua partida foi um campo minado dentro de mim.

Ela riu. Um riso seco, ferido.

— E ainda assim você seguiu. Ficou milionário. Comprou prédios. Mulheres.

— Nenhuma ficou.

— Nenhuma era eu.

Silêncio.

Ele estava perto agora.

Tão perto que ela podia sentir o calor da pele dele, mesmo sem tocar.

— Leticia ... — ele sussurrou.

— Não — ela cortou. — Não me chame assim como se eu ainda fosse aquela garota.

— Você ainda é. Só mais forte. Mais afiada.

Ela ergueu o queixo.

— Não vim aqui pra ouvir elogios. Vim pra te avisar: se eu descobrir que o colapso da fusão teve o seu dedo... eu vou destruir tudo. E não vai ser com amor.

— E se não teve?

— Então talvez, só talvez, você ainda tenha uma chance de não morrer sozinho.

Leon sorriu, mas era um sorriso triste.

— O problema é que eu já morri... no dia em que vi você partir com aquela mala e aquele olhar de adeus nos olhos.

Ela vacilou por um segundo.

E foi tudo que ele precisou para encostar os dedos no rosto dela, com a mesma delicadeza de quem toca um fantasma.

— Se me deixar... vou deixar você ir de novo. Mas se ficar...

Ela segurou o pulso dele no ar.

— Eu não vim pra ficar, Leon.

Vim pra vencer.

E soltou.

Ele ficou ali, parado. Sem se defender. Sem resistir.

E enquanto ela ia embora, mais uma vez...

O som dos saltos dela parecia assinar a sentença de um homem que, mesmo sendo rei, nunca aprendeu a segurar uma rainha.

---

leticia apertou o botão do elevador com firmeza.

A porta metálica brilhava como um espelho frio, refletindo o rosto dela.

Forte. Impecável. Mas por dentro? Uma tempestade.

O coração batia rápido demais.

Ela respirou fundo. Ia embora. Ia deixá-lo no passado.

Era isso que havia prometido a si mesma.

Mas antes que o elevador chegasse, a porta da cobertura se abriu com força atrás dela.

— Leticia!

A voz dele.

Ela fechou os olhos.

Contou até três.

Virou devagar.

Leon estava parado ali, sem armadura. Sem máscara.

E com algo no olhar que ela não sabia mais como interpretar.

— Você me odeia — ele disse. — Mas eu prefiro isso do que a sua indiferença.

Ela cruzou os braços, tentando proteger o que restava.

— Não me siga.

— Eu te segui por quatro anos dentro da minha cabeça. Cada decisão, cada mulher, cada porra de reunião de conselho... eu olhava pro lado e imaginava o que você faria. Eu ainda escuto sua voz quando vou assinar um contrato.

— Então escuta agora: esquece.

Ele se aproximou. Lento. Como se se aproximasse de uma fera — ou de uma mulher que já soube amar, mas aprendeu a morder.

— Eu errei com você, leticia . E se tiver que passar o resto da vida provando isso, eu passo.

Ela mordeu o lábio. Mas não de desejo. De raiva.

De dor.

De tudo que ele significava.

— Você não precisa provar nada — ela respondeu. — Só não fique no meu caminho.

Leon respirou fundo.

— E se meu caminho ainda for o mesmo que o seu?

Ela o encarou. Por um instante, o mundo parou.

O elevador chegou. As portas se abriram.

Ela deu dois passos pra dentro.

Antes de entrar por completo, olhou por cima do ombro.

— Então é melhor torcer pra eu não tropeçar de novo.

Porque se eu cair, Leon... dessa vez, levo você comigo.

As portas se fecharam.

E Leon ficou ali, sozinho.

Com o gosto amargo do que perdeu…

E a certeza de que o jogo não tinha acabado.

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Comments

Claucris

Claucris

Mas é Leticia ou Dalila? Estou um bocado confusa.

2025-07-04

1

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