Liora
O sol de Étherea não era como o da Terra. Ele parecia mais suave, mas sua luz tocava tudo com mais vida. Na manhã seguinte à chegada, Liora acordou em uma pequena casa de pedra coberta de flores azuis, no alto de uma colina, com o som de sinos ao longe e o cheiro de pão fresco vindo da cozinha.
— Acorda, dorminhoca! — chamou Nyra, já vestida com roupas leves de tecido natural, cheias de cores vibrantes. — Hoje é dia de feira!
Liora vestiu uma túnica emprestada e seguiu a garota até o coração de Silvaris, o povoado escondido entre as montanhas. As ruas eram de terra vermelha, decoradas com cordões de folhas e bandeiras mágicas que flutuavam levemente no ar. Havia barracas de frutas, poções, pedras que sussurravam, e até um homem vendendo “poeira de estrela engarrafada”.
Mas o que chamou a atenção de Liora foram os olhos. Muitos rapazes bonitos — altos, exóticos, com cabelos de cores incomuns e sorrisos curiosos — a olhavam com intensidade. Como se sentissem algo nela... ou como se nunca tivessem visto alguém como ela.
— Você chama atenção — disse Nyra com um risinho. — Os meninos de Étherea adoram um mistério.
Liora corou, rindo, mas em seu peito sentia uma inquietação. Como se estivesse sendo observada de novo. Só que agora... por dentro.
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Cael
Enquanto isso, nas muralhas da fortaleza negra de Drakvar, Cael Dravorn caminhava diante de mapas e mensagens. Sua expressão era dura como pedra, ignorando o torpor do sonho da noite anterior.
— Já são trinta e dois desaparecidos — disse Raek, entregando mais um pergaminho.
— Estão levando pessoas do sul, das aldeias não registradas. Esse padrão não é obra de bandidos — disse Cael, estreitando os olhos. — Isso tem cheiro de magia... e sangue antigo.
Ele não mencionou o sonho. Nem a loba. Não podia se dar ao luxo de parecer vulnerável. Ainda assim, ordenou:
— Enviem mensageiros para os povoados do leste. Alertem que há perigo. Nenhuma criança, mulher ou ancião deve sair à noite. Coloquem as sentinelas nas bordas das matas. A floresta... está viva demais.
— E o que faremos se forem bruxas ou... vampiros?
Cael parou. O nome pesava.
— Então vamos lembrar a eles por que nós, Lycans, governamos este mundo primeiro.
Mas quando ficou sozinho no salão, a lembrança da loba do sonho voltou. Não como medo. Mas como uma ferida aberta. Ele não a conhecia... mas seu lobo a chamava de prometida.
E isso era perigoso.
Muito mais do que qualquer bruxa.
Liora (ON)
Na trilha que levava aos limites de Silvaris, entre vinhedos selvagens e colinas douradas, havia uma construção esquecida pelo tempo: um casarão coberto de trepadeiras negras, suas janelas seladas por tábuas, e uma estranha neblina rastejando por baixo da porta. Liora o viu pela primeira vez ao fim da feira, e seu corpo simplesmente... parou.
— O que é aquilo? — perguntou, a voz mais fraca do que pretendia.
Nyra olhou na mesma direção e franziu o cenho.
— Ah... aquele lugar. Os anciãos dizem que ele já pertenceu a uma família poderosa, mas foi amaldiçoado. Ninguém entra lá
— Mas por quê? — Liora se aproximava, mesmo sem entender o motivo.
— Porque ele respira dor. Tristeza. E porque tem sangue antigo em suas paredes. — disse Nyra
Quando Liora tocou a maçaneta de ferro frio, uma corrente de energia subiu por seu braço. Não era ameaça. Era memória. E por um instante, ela viu uma loba de pelagem igual à sua correndo por aqueles corredores. Viu retratos nas paredes. E viu um brasão... o mesmo que sua loba carregava no peito em forma de luz.
Ela conhecia aquele lugar. Mesmo sem nunca ter estado lá.
De volta à casa de Mareth, ao lado do fogo, Liora quis entender.
— O que você sabe sobre a família que morava lá...
Nyra a olhou por um tempo, como se ponderasse se devia dizer. Então começou:
—Os lycans, os puros sangue! muito antes de Étherea se dividir em um reino, havia apenas uma linhagem real de Lycans. Eles governavam os quatro cantos do mundo com justiça, mas também com força bruta. Dizem que não existia criatura viva que ousasse desafiar um deles. Seus olhos eram dourados, suas marcas brilhavam em batalha... e seus rugidos ecoavam por vales inteiros.
— O que aconteceu?
— Um pacto. Bruxas e vampiros. Eles se uniram e atacaram na única noite em que os Lycans baixavam a guarda: a Lua Escura. Foram caçados enquanto dormiam. Todos... menos um.
Liora gelou.
— Quem?
— O caçula. O mais jovem dos irmãos. Ele sobreviveu escondido entre os corpos, e foi encontrado pelos anciãos... cheio de ódio. Criado nas sombras. Alimentado por dor. Dizem que ele matou os próprios mestres quando se tornou forte demais. E tomou o trono como ninguém jamais havia feito.
— E agora...
—Ele é o nosso Rei bobinha “Cael Dravorn”. O Rei da Pele Rasgada. O Sanguinário.
— E como ele é?
— Dizem que ele é cruel e bonito. Que quando guerreia, deixa só ossos para trás. Que nenhuma loba resiste ao poder dele. Que ele é condenado à solidão, pois o sangue real devora tudo o que tenta amar.
Liora sentiu o estômago revirar.
Havia uma conexão entre ela, aquele casarão... e esse rei que todos temiam.
Mas por que ela sentia pena dele, ao invés de medo?
A noite após o sono tomar conta do seu corpo…
Ela viu
Não ela sabia que de algum jeito ela tava lá
Ela caminhava descalça por um corredor de pedra.
O chão rangia sob seus pés.
As janelas estavam cobertas de poeira e luar.
Era o casarão.
Mas não estava abandonado.
Candelabros se acendiam sozinhos.
Quadros piscavam.
Sussurros percorriam as paredes como vento quente.
> E então… ouviu.
Uma voz feminina, carregada de eco e tristeza.
> — “Volte.”
> — “Você precisa ver…”
> — “O tempo está se fechando, filha da lua.”
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Nélida Cardoso
chouuuu arrasando autora
2025-07-06
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