O chão sob seus pés já não era o mesmo. Quando abriu os olhos, Liora sentiu o ar mais denso, carregado de aromas que ela nunca havia sentido — folhas antigas, flores selvagens e... sangue. O céu sobre ela era roxo, com nuvens douradas que se moviam como fumaça viva. Estava deitada sobre musgo macio, em uma floresta que pulsava.
Ela tentou se levantar, mas uma dor atravessou seu peito, espalhando-se pelo corpo como fogo líquido.
Então, a voz surgiu. Baixa, firme, profunda.
— Finalmente acordou.
Liora não viu ninguém. A voz estava... dentro dela.
— Quem... quem é você?
— Sou o que você sempre foi, mas nunca enxergou. Sua loba. Sua essência. Sua verdadeira natureza.
— Isso é um sonho. Uma alucinação...
— Não. Isso é Étherea. E chegou a hora de despertar.
Liora caiu de joelhos. Seu corpo começou a mudar — não com dor, mas com força. Garras emergiram. Seus olhos tornaram-se dourados. Seus músculos ganharam impulso, e um rugido selvagem escapou de sua garganta. Em segundos, a garota tornou-se uma loba esguia e poderosa, de pelagem escura com reflexos azuis.
Ela correu pela floresta.
Pela primeira vez, sentiu-se livre.
Durante dias, vagou por Étherea em sua forma animal, guiada pelo instinto e pela loba interior. Caçou, correu, sentiu a brisa fria tocar seus pelos, bebeu de riachos cristalinos e se banhou em uma cachoeira prateada, onde as águas pareciam sussurrar histórias antigas. Ali, voltou à forma humana, rindo, solta... selvagem.
Mas a liberdade tinha um preço.
Em uma noite sem lua, Liora sentiu. Estava sendo observada.
As folhas não se moviam. Os animais silenciaram. O instinto gritou em sua mente: Corra. Mas não havia nada à vista. E mesmo assim... o medo apertou seu peito.
Ela se escondeu sob raízes de uma árvore imensa e, exausta, adormeceu.
Foi despertada pelo som de rodas.
Uma carruagem de madeira escura, puxada por criaturas que pareciam veados com chifres de pedra, parou diante dela. Do lado de fora, uma senhora de cabelos brancos como névoa olhava diretamente para ela.
— Essa menina não é daqui, disse a velha, com voz baixa, mas firme.
Ao seu lado, uma garota com olhos violetas e cabelos trançados observava Liora com curiosidade e empatia.
— Podemos levá-la, vó? — perguntou a menina. — Ela parece... perdida.
A velha hesitou por um momento, então assentiu.
— Entre, filha. Está segura agora. O mundo ainda não está pronto para você... mas eu estarei. Chamo-me Mareth, e essa é minha neta, Nyra. Vem conosco. Há muito que precisa aprender.
Liora entrou na carruagem. Por fim, alguém a acolhia.
Mesmo sem saber o que era... ou quem poderia vir atrás dela.
.
.
O Rei Lycan (ON)
A lua cheia cortava o céu de Étherea como uma lâmina pálida. Dentro dos muros da fortaleza de pedra negra, o rei Cael Dravorn caminhava sozinho até os jardins vazios do palácio. A noite estava estranha. Densa. O ar cheirava a pinho... e a perfume.
Sem aviso, seus olhos ficaram pesados. A escuridão o tomou antes que pudesse resistir.
Ele sonhou.
Estava em uma clareira iluminada por uma luz azulada que parecia emanar do chão. No centro dela, uma loba de pelagem negra, esguia, de olhos dourados como o sol nascente, o observava com uma intensidade assustadora — e, ao mesmo tempo, íntima.
Seu próprio lobo — a fera ancestral que Cael mantinha contida dentro de si — apareceu à margem da visão, como um espelho negro com olhos âmbar flamejantes.
— Ela é a escolhida, Cael.
— A última. A prometida.
Cael tentou se mover, falar, resistir. Mas seu corpo estava preso. Preso àquele olhar. Àquela presença. Àquele destino.
A loba se aproximou, roçando o focinho contra o dele. Não havia ameaça. Apenas reconhecimento.
— Ela me pertence. E você a encontrará. Ou ela encontrará você.
Então, tudo virou fumaça.
Cael acordou de súbito, arfando. O cheiro da floresta era real. O frio da terra sob seu corpo era real. E ele estava nu, deitado entre galhos partidos e musgo molhado.
Seus punhos estavam cheios de terra. Havia marcas de garras nas árvores ao redor.
— O que... aconteceu? — murmurou, com a voz rouca.
Ele nunca perdia o controle assim. Nunca.
Transformações noturnas? Não desde a adolescência.
Sonhos com aquela força? Nunca com emoção. Nunca com... desejo.
Seu lobo interior rosnou em silêncio dentro dele.
— Ela está vindo, Cael. E você vai precisar dela. Ou vai ser destruído por ela.
O rei olhou para o céu e sentiu — pela primeira vez em anos — o coração bater com algo que não era raiva ou vingança.
Era medo.
Era fome.
Era... destino.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
carol caroline
Começando a ler, parece ser bom.
2025-07-03
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