Os dias que se seguiram ao ataque foram um borrão de preocupação para Isabella. Mateo estava ferido, não mortalmente, mas gravemente o suficiente para exigir um longo período de recuperação no hospital, e depois, em casa. Seu corpo estava quebrado, mas seu espírito, para o alívio de Isabella, permanecia resiliente. Ainda assim, a vulnerabilidade de Mateo abriu uma fenda na fortaleza que Isabella havia construído em sua vida.
E foi por essa fenda que Luck, com sua astúcia meticulosa, se inseriu.
Ele não a deixou sozinha. Não por um minuto sequer. Sob o pretexto de "amizade de longa data" e "preocupação com o bem-estar de Mateo", Luck se tornou uma presença constante e, para o mundo exterior, um pilar de apoio. Ele visitava Mateo no hospital, trazia flores para Isabella, cuidava de detalhes burocráticos que ela sequer sabia como lidar. Seus gestos eram impecáveis, sua cortesia, irretocável. Ele era o homem ideal em uma crise.
Com Isabella, ele era a personificação daquele menino que ela conhecera. Seus olhos se suavizavam quando falavam do passado, de um tempo em que o mundo parecia simples e puro. "Lembro de você rindo no jardim, Isabella," ele diria, a voz em um tom nostálgico que parecia transportar os dois de volta à infância. "Você sempre foi a única que conseguia me fazer rir de verdade."
Isabella se viu cativada pela fachada. A gratidão que sentia por ele ter "salvado" Mateo era imensa. Ela estava exausta e assustada, e a presença firme e aparentemente benevolente de Luck era um conforto inesperado. Ele conseguia evocar memórias tão vívidas do Luck antigo que, por vezes, ela se esquecia do abismo de anos e da transformação que ele havia sofrido. Ele era seu porto seguro naquele momento de tempestade.
Mateo, embora fraco e dolorido, observava Luck com uma desconfiança crescente. Ele era um mafioso, acostumado a ler as entrelinhas. A performance de Luck parecia boa demais. Havia algo nos olhos do russo, uma profundidade gélida que não combinava com o "amigo preocupado". Ele tentou alertar Isabella, mas suas palavras, sussurradas com esforço, soavam como ciúmes ou paranoia para ela, que estava imersa em gratidão e alívio.
"Ele não é o que parece, Isabella", Mateo murmurava, a voz rouca. "Cuidado com Luck."
Isabella, cansada, acariciava a testa febril do marido. "Ele salvou sua vida, Mateo. Está sendo um amigo." Ela não percebia a subtleza da teia que estava sendo tecida.
Luck, notando a desconfiança de Mateo, intensificava sua manipulação. Diante de Mateo, ele se mostrava ainda mais solicito, quase subserviente, o que exasperava o italiano e o fazia parecer irracional para Isabella. Ele "acidentalmente" deixava escapar comentários que sutilmente minavam a confiança de Isabella em Mateo, ou plantava dúvidas sobre seus antigos "negócios" sem nunca apontar um dedo diretamente. Ele era o mestre do jogo psicológico, usando a vulnerabilidade de ambos como peças em seu tabuleiro.
Enquanto Isabella se sentia mais próxima de Luck do que jamais imaginou ser possível, ele observava cada movimento, cada emoção dela, alimentando sua obsessão. O "resgate" de Mateo fora apenas o primeiro ato. A teia de Luck estava se fechando, dourada e quase invisível, ao redor de Isabella, e ela, exausta e grata, estava caminhando diretamente para o centro dela.
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Atualizado até capítulo 39
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