A vida de Isabella em Milão seguia um ritmo de elegância e compromissos sociais, entremeados pelos cuidados com sua nova casa e as responsabilidades da vida conjugal. Ela estava na galeria de arte de seu amigo, revisando detalhes para uma exposição beneficente, quando o mundo ao seu redor pareceu parar. Do outro lado do salão, próximo a uma tela abstrata, estava ele.
Luck.
Não o menino de olhos sonhadores e cabelos desalinhados. Este homem era uma visão de poder e sofisticação. Ternos impecáveis que delineavam uma estrutura atlética, cabelos escuros penteados com perfeição, e um olhar... Ah, aquele olhar. Não era o olhar do seu Luck. Era mais profundo, mais intenso, com uma frieza calculista que a fez prender a respiração. No entanto, por um breve instante, um brilho familiar, quase um lampejo de dor antiga, cruzou seus olhos quando os deles se encontraram.
Isabella sentiu um arrepio. Ela se casara com Mateo, construíra uma muralha entre seu passado e seu presente. A presença de Luck era uma fissura nessa muralha, uma memória viva que ela tentara enterrar. Antes que pudesse reagir, Luck já estava se aproximando, um sorriso contido, quase gentil, nos lábios.
"Isabella", sua voz era mais grave, mais controlada, mas a familiaridade do nome a atingiu como um choque. "Não acredito. É você."
O reencontro foi um misto de estranhamento e uma tensão quase palpável. Luck, com uma performance magistral, agiu com a cortesia de um conhecido distante, mas seus olhos nunca deixaram os dela. Ele mencionou a infância, o "jardim secreto", o que fez o coração de Isabella apertar. Ela apresentou Mateo, que chegara minutos antes, com um sorriso protetor. Luck estendeu a mão a Mateo, um cumprimento firme, onde se podia sentir uma corrente elétrica de rivalidade velada, invisível para Isabella, mas clara para os dois homens.
Aquele dia foi o prelúdio de um pesadelo cuidadosamente orquestrado.
Duas noites depois, a cidade de Milão tremeu. Mateo estava a caminho de uma reunião sigilosa com alguns associados quando seu carro foi subitamente cercado. Não por rivais conhecidos, mas por uma equipe de homens mascarados e implacáveis que agiam com precisão militar. Tiros ecoaram, pneus cantaram, e o veículo de Mateo foi forçado para fora da estrada, colidindo violentamente contra um muro.
A notícia chegou a Isabella como um raio. Pânico, desespero. Ela correu para o local, o coração martelando contra as costelas. A cena era caótica: fumaça, sirenes, destroços. Em meio ao caos, ela o viu. Luck.
Ele estava ao lado do carro de Mateo, com a camisa manchada de fuligem e um corte superficial no braço. Apoiado em seus braços, cambaleante e sangrando, estava Mateo, o rosto contorcido pela dor. Luck parecia exausto, mas determinado, como se tivesse travado uma batalha sozinho. Seus olhos, ao encontrar os de Isabella, carregavam uma mistura convincente de alívio e preocupação genuína.
"Isabella!", ele exclamou, sua voz rouca, quase embargada. "Graças a Deus! Ele vai ficar bem. Eu… eu o encontrei. Cheguei a tempo. Parecia um ataque de alguma facção rival desconhecida."
Isabella correu até eles, o alívio inundando-a ao ver Mateo vivo, apesar dos ferimentos. Ela mal podia acreditar. Luck, o menino de sua infância, que ela pensava ter esquecido, havia emergido das sombras para salvar seu marido. A gratidão a envolveu, nublando qualquer resquício de desconfiança que pudesse ter tido.
Enquanto os paramédicos atendiam Mateo, Luck permaneceu ao lado de Isabella, sua presença forte e reconfortante em meio ao caos. Ele não era mais o garoto ingênuo, ela sabia. Mas aquele gesto, aquele ato de "heroísmo", parecia resgatar algo do antigo Luck, o protetor que ele prometera ser. Mal sabia ela que cada detalhe daquela noite, desde o ataque brutal até a chegada "oportuna" de Luck, havia sido meticulosamente planejado pelo homem que agora a olhava com a expressão de um salvador. O lobo havia se disfarçado de cordeiro, e o primeiro passo para o seu jogo fatal fora dado.
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Atualizado até capítulo 39
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