Capítulo 4 – Entre Códigos e Corações (Continuação)
Narrado por Erina
Voltar pra casa foi como mergulhar em água morna: reconfortante, mas não suficiente pra me tirar do transe.
O calor de Maceió me abraçou antes mesmo de o avião tocar o solo. As palmeiras, o céu absurdamente azul, o barulho de ônibus ao longe… tudo estava igual. Só eu que não.
As malas ainda estavam fechadas no canto do quarto. Eu não tinha tocado na jaqueta. E o photobook… bom, ele estava escondido na última gaveta da escrivaninha, junto com um post-it dobrado com dez números escritos em letra minúscula. Como se esconder pudesse proteger meu coração da expectativa.
Peguei o celular.
Abri o WhatsApp.
Criei um novo contato.
Escrevi “Kim Namjoon(?)”.
Digitei o número.
Fiquei olhando pra tela por uns quinze minutos.
Digitando…
Oi! Aqui é a Erina, do fansign.
Apaguei.
Olá! Eu sou a garota que falou com você em coreano.
Apaguei.
Gostou de Maceió?
Apaguei de novo.
Bloqueei o celular, joguei na cama e me joguei em cima dele como se isso fosse impedir meu surto.
Era só um número. Mas parecia pesar mais que meu futuro inteiro.
Mais tarde, sentei com meus pais na varanda. Minha mãe servia café e meu pai lia jornal no celular. A brisa trazia cheiro de mar e pão doce.
— Appa… Omma…
Eles levantaram os olhos ao mesmo tempo.
— Eu queria conversar com vocês — comecei, mordendo o canto do lábio. — Sobre a Coreia.
— O que tem a Coreia, filha? — perguntou minha mãe, com a voz doce e um pouco preocupada.
— Eu tô pensando… em voltar. Mas não sozinha. Eu queria que a gente voltasse. Juntos.
— Eu sinto que eu pertenço lá. E eu sinto falta.
Meu pai me encarou por alguns segundos. Depois abaixou o celular e suspirou.
— Filha… a Coreia foi um lar por muito tempo. Mas também foi um lugar de muita dor pra mim e pra tua mãe.
Minha mãe completou, delicada:
— A gente amava morar em Seul, mas… a cultura de competição, a pressão no trabalho, os julgamentos. Quando tu era criança, a gente aguentava por você. Mas hoje, aqui, a gente vive em paz. Sem ser olhado torto. Sem precisar fingir felicidade todo dia.
Meu pai assentiu.
— Aqui a gente respira. Lá… a gente sobrevivia.
Silêncio.
Doeu. Porque eu queria muito dividir aquilo com eles. Queria vê-los de novo nas ruas de Gangnam, andando nos parques de outono. Mas parte de mim entendeu.
Eles se libertaram de algo.
E eu… estava me amarrando a outro tudo de novo.
Narrado por 김남준 (Kim Namjoon)
A chuva fina batia no vidro do estúdio quando Jungkook entrou com uma batata frita na boca e um copo de chá gelado na mão.
— Hyung…
— Hm?
— 너 요즘 왜 자꾸 멍때려? (Por que você anda tão aéreo ultimamente?)
— 나...? 그냥 피곤해서 그래. (Eu...? Só tô cansado.)
— 아니지~ 내가 보기엔 피곤한 게 아니라, 사랑병 걸린 것 같던데. (Mentira. Pra mim, parece mais que você tá com... amor nos olhos.)
Virei pra ele com um riso discreto.
— 뭐래... (De onde tu tirou isso...)
— 브라질에서, 어떤 여자 팬이랑 얘기했을 때, 네 눈빛 완전 달랐어. 나 처음 봤어. RM이 그렇게 집중해서 누굴 보는 거. (Lá no Brasil… quando você falou com aquela fã, seu olhar era outro. Nunca te vi olhando alguém daquele jeito.)
— 조용히 해라, 정국아. (Cala a boca, Jungkook.)
Ele se jogou no sofá, rindo.
— 장난 아니야. 그리고 그 여자... 완전 멋졌어. (Tô falando sério. E aquela mulher… ela era incrível.)
— 맞아. (É.)
Pausa. Suspirei.
— 뭔가... 익숙했어. 그냥 팬이 아니었어. 말투도, 표정도, 분위기도... 기억에 남아. (Foi estranho. Ela parecia familiar. Não era só uma fã. O jeito de falar, o olhar, o ar dela… ficou na minha memória.)
Jungkook me observou por alguns segundos.
— 연락했어? (Mandou mensagem?)
— 아니. 아직. (Não. Ainda não.)
— 왜? 그럼 뭐해? (Por quê? Tá esperando o quê?)
— 모르겠어. 진짜 모르겠어. 그냥... 무섭기도 하고, 기대도 되고. 이상한 감정이야. (Não sei. De verdade. É tipo... medo e esperança ao mesmo tempo. É um sentimento estranho.)
Fiquei olhando a tela do celular.
O user dela ainda estava salvo. A foto de perfil era só uma imagem de fundo amarelo com a palavra “sempre”.
E talvez…
Ela estivesse pensando em mim também.
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Atualizado até capítulo 64
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