Capítulo 2 – Quando os Mundos Colidem
Parte I – A Semana dos Sonhos
São Paulo era maior do que ela lembrava. Mais intensa. Mais viva. Mais barulhenta.
Desde o momento em que os pés de Erina tocaram o solo da cidade, uma vibração percorreu seu corpo — uma mistura de ansiedade, sonho e aquela sensação única de estar exatamente onde se deveria estar.
O hostel em que ela, Victo, Bianca e João se hospedaram ficava numa rua de paralelepípedos perto da Avenida Paulista. Simples, mas cheio de histórias coladas nas paredes: bilhetes de fãs, fotos de shows antigos, pulseirinhas de eventos, cartinhas de ARMYs do mundo todo. Era como um santuário secreto para quem entendia aquela linguagem silenciosa de amor por ídolos distantes.
Durante os dias que antecederam o show, Erina acordava cedo, mesmo sem precisar. Cada manhã era uma nova chance de ensaiar como seria vê-los ao vivo.
Victo a observava com atenção. Ela parecia diferente. Mais centrada. Mais radiante. Havia uma mulher ali agora — com postura firme, olhar intenso e um brilho nos olhos que nem a rotina da vida adulta tinha conseguido apagar.
E ela sabia disso.
Separou o look para o show com o cuidado de quem costura o próprio destino: uma blusa branca coladinha com recortes, uma saia preta rodada que voava quando ela girava, jaquetinha jeans justa com tachinhas prateadas nas costas e a frase bordada em rosa metálico: "I’m the one I should love".
Nos pés, botas de cano médio com salto.
Na maquiagem, olhos esfumados, iluminador nas têmporas, boca vermelha.
Cabelos soltos, levemente ondulados.
Ela estava linda.
Impossível não notar.
Na véspera do show, a cidade parecia respirar BTS. Telões passando teasers. Camisetas roxas por toda parte. A fila do estádio já dobrava esquinas.
Naquela noite, antes de dormir, Bianca comentou:
— Erina… tu vai arrasar amanhã.
— Tu acha?
— Eu tenho certeza que, se o Namjoon te olhar, ele vai esquecer que existe coreografia.
Victo apenas olhou. Um silêncio confortável entre os dois. Mas o olhar dele dizia mais do que qualquer palavra.
Erina sorriu.
E fechou os olhos.
Na mente, o palco.
No peito, o impossível.
Parte II – Palco, Luzes e Impacto
O dia do show amanheceu quente e vibrante.
A cidade fervia de emoção.
Eram milhares de fãs, vindos de todos os estados. Faixas, banners, balões, lágrimas. Um mar roxo de esperança e euforia.
Quando as portas do estádio abriram, Erina segurava a mão de Bianca. Victo ia logo atrás com a câmera pronta, mas os olhos sempre atentos nela.
O setor pista premium já estava lotado, mas conseguiram um lugar perto do corredor central. A visão era perfeita.
O coração? Uma explosão.
As luzes se apagaram. O estádio gritou.
“BANGTAN! BANGTAN!”
O telão acendeu.
Explosão de som. Batida pesada. Luzes pulsando.
E então, o grito de guerra:
“Are you ready?! Let’s go!”
Eles surgiram.
Namjoon à frente, imponente, com uma regata preta cavada, colar prateado e o olhar mais sério do mundo. Atrás, Yoongi sorrindo de canto, Hoseok pulando animado, Jungkook de bandana, Jimin de camiseta colada, Taehyung com os cabelos caindo sobre os olhos e Jin jogando beijos pra câmera.
Erina congelou.
Era real.
Eles estavam ali.
Apenas a metros de distância.
A música começou com “Dionysus” e o estádio veio abaixo.
Eles dançavam com uma energia visceral. Suor. Impacto. Carisma.
Jogavam água uns nos outros entre as músicas, riam, se empurravam, brincavam com o público.
Hoseok encheu uma garrafinha e atirou direto na plateia. Jimin correu atrás dele, também molhado. Taehyung tomou um gole e fingiu cuspir em Jungkook, que caiu de propósito no chão, rindo. Jin virou para o público com cara de ultraje e fez um coração gigante com os braços.
O público gritava. Chorava. Pulava.
Entre músicas, falas.
E então, Namjoon.
Ele foi até a beira do palco, respirou fundo e sorriu.
— Brasil… vocês estavam com saudade?
A plateia explodiu.
— Porque a gente... nunca deixou de pensar em vocês. Nem por um segundo.
Havia uma ternura diferente no olhar dele. Uma sinceridade crua.
Ele caminhou pela passarela. Erina, mais à frente, quase em transe, o viu passar por ela.
Ele olhou. Por um breve instante.
Mas... não a reconheceu.
Não como “a Erina”.
Não como a menina das cartas.
Porque ali, diante dele, estava uma mulher.
Linda. Confiante. Deslumbrante.
Mas ele não fez a conexão.
Não ainda.
E talvez isso doesse mais do que ela esperava.
Mas também… havia uma beleza estranha ali.
Ela era agora alguém novo. E essa versão, ele ainda não conhecia.
Parte III – No Silêncio Pós-Tempestade
O show acabou depois de mais de duas horas.
Fogos no céu. Balões caindo. Luzes tremulando.
Erina não conseguia falar. Apenas chorava em silêncio.
Não era tristeza.
Era um transbordamento de tudo.
De anos de espera.
De um amor que ela achava platônico e agora parecia quase... tangível.
Victo caminhava ao lado dela, também em silêncio.
Na volta ao hostel, ninguém falava muito. Bianca ainda cantarolava “Spring Day” baixinho, como se quisesse prolongar a noite.
No quarto, Erina tirou a jaqueta, ainda com glitter na pele. Sentou na cama e ficou olhando para a tela do celular.
Uma notificação.
Um novo seguidor no Instagram.
@rkive.
Ela piscou.
Olhou de novo.
— Victo… — murmurou.
Ele se virou.
E ao ver a tela, arregalou os olhos.
— Tá brincando.
Mas ela não estava.
Na tela, apenas aquilo.
@rkive começou a seguir você.
Era o começo.
Ou o retorno.
De algo que ainda não tinha nome.
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Atualizado até capítulo 64
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