Capítulo 3 – Entre Olhares e Silêncios
Narrado por Erina
Eu acordei com glitter até na alma.
Literalmente.
Ainda havia partículas de brilho no meu cabelo e nas laterais do rosto, mesmo depois de lavar e passar demaquilante três vezes. Mas eu não me importava. Que ficassem. Que durassem. Como marcas visíveis de uma noite que, se alguém dissesse que foi sonho, eu jamais duvidaria.
Estava em paz.
Não, o Namjoon não me reconheceu.
E tá tudo bem.
Ele nunca me viu pessoalmente. As cartas que eu mandava pelo Reverse eram lidas — talvez — num mar de milhares. E as fotos de perfil de quando eu tinha 15, 16 anos não se parecem nem um pouco com quem eu sou hoje.
Hoje eu sou mais mulher. Mais firme.
Mais… eu.
Mas tem uma coisa que ninguém me tira: ele olhou pra mim. Mesmo que tenha sido por segundos.
E por dentro, eu juro, meu mundo parou.
Mas o que aconteceu depois disso...
Bom. Segura.
O meet & greet foi no dia seguinte.
Sim, a gente tinha conseguido ingresso pro fansign também. (João chorou quando recebeu a confirmação. Bianca deu um grito que fez o porteiro do prédio ameaçar multar.)
Eu passei a manhã me arrumando como quem se prepara pra um evento real oficial. Nada exagerado: delineado bem puxado, boca em tom vinho suave, cabelo meio preso, pele iluminada. Um vestido curto, preto, de alcinha, justo no corpo — elegante, mas que dizia “eu sei quem eu sou”. Jaqueta por cima, salto médio. Victo me olhou e soltou um “Vai causar problema, né?”
E eu disse, rindo:
— Só se eles começarem.
A sala do fansign era menor do que eu imaginava.
Cadeiras, uma longa mesa onde os meninos estavam lado a lado, e um fotógrafo oficial nos guiando. A fila andava devagar, mas cada passo era uma batida de tambor no meu peito.
Quando chegou a minha vez, meu mundo pareceu desacelerar.
Yoongi, Jin, Jungkook...
E então ele.
Namjoon.
Ele levantou os olhos e me lançou o sorriso profissional, aquele treinado pra não tremer com ninguém. Mas então ele travou por meio segundo. E eu senti.
Ele me olhou com atenção. Como se estivesse tentando lembrar de onde me conhecia — mesmo sem me conhecer.
— Hi — ele disse, já estendendo a mão pra pegar o photobook.
Mas eu sorri, abaixei um pouco o rosto e respondi direto em coreano:
— 안녕하세요. 여기까지 오게 돼서 정말 영광이에요. (É uma honra estar aqui, de verdade.)
Ele arqueou uma sobrancelha, surpreso, os olhos acesos de interesse.
— 우와… 한국말 진짜 잘 하시네요. (Uau... você fala coreano muito bem.)
Inclinei um pouco a cabeça.
— 나중에 말했죠. 나 한국에서 태어났거든요. (Eu nasci na Coreia, lembra? Só que muita gente não sabe.)
Ele sorriu mais abertamente. E aquele foi o momento em que a conversa mudou de tom.
Não era mais idol e fã.
Era gente com gente. Energia com energia.
— 이름이 뭐예요? (Qual seu nome?)
— 에리나. (Erina.)
— 정말 예쁜 이름이네요. 인스타 아이디 줄래요? (Seu nome é lindo. Me dá seu ID do Instagram?)
Eu segurei o riso.
Peguei a caneta e escrevi discretamente na borda da contracapa do photobook. Ele, em troca, pegou a caneta de novo e — sob o meu ID — escreveu algo em letras miúdas, quase invisíveis.
Números.
Era o número dele.
Fiquei paralisada por dois segundos. Mas ele só sorriu de canto e disse:
— 그냥… 언젠가 또 얘기할 수 있도록. (Só pra… caso a gente queira conversar de novo algum dia.)
Meu coração: boom.
Meu rosto: poker face.
A próxima cadeira era Taehyung, sentado ao lado do Namjoon, observando tudo com aquele ar debochado de sempre. Quando peguei o photobook e me aproximei, ele disse, fingindo dúvida:
— 음… 너 혹시 진짜 브라질 사람이야? (Hm… você é mesmo brasileira?)
Olhei pra ele de lado, disfarçando o riso.
— 아니. 나는 한국에서 태어났지만, 부모님은 브라질 사람이야. (Não. Eu nasci na Coreia, mas meus pais são brasileiros.)
Ele bateu levemente com a caneta na mesa e murmurou:
— 아, 그러니까… 설명이 되네. 그 매력. (Ah, então isso explica. Esse charme.)
Eu ri, e ele sorriu também. O flerte dele era leve, animado, puro charme. Sem pressa. Mas com um brilho nos olhos que deixava tudo mais interessante.
E então me despedi. Coração acelerado, photobook nas mãos, e uma sensação nova tomando conta do corpo.
Eu não era mais só uma espectadora.
Eu tinha cruzado a linha.
Mais tarde, no hostel, entre risadas e fotos e mil “e se”s, recebo uma notificação.
HYBE LABELS – Nota Oficial
“Durante o evento de ontem, notou-se que o artista Kim Namjoon (RM) seguiu uma conta pessoal de fã em sua rede social oficial. Informamos que se tratou de um erro não intencional. Kim Namjoon ainda está se habituando à plataforma do Instagram.
Ressaltamos que os membros do BTS seguem apenas uns aos outros, como já estabelecido anteriormente. O follow foi removido.
Agradecemos pela compreensão e pelo apoio contínuo ao BTS.”
Fechei o celular devagar.
Victo, do outro lado do quarto, já estava deitado. Me olhou por cima do cobertor.
— Foi mal, Erina… isso deve ter sido…
— Hilário? — completei, rindo. — Porque foi.
— Tu não tá chateada?
— Ele me olhou duas vezes. Uma no palco. Outra bem de perto.
E teve algo ali.
Talvez ele não saiba ainda.
Mas eu sei.
O mundo às vezes gira estranho.
Mas gira.
E por algum motivo, naquela tarde, na frente daquele homem que um dia só existia em tela…
eu não fui mais só uma fã.
Fui uma presença.
Uma lembrança.
Um mistério.
E não há unfollow que delete isso.
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Atualizado até capítulo 64
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